Maior foguete do mundo se prepara para sua viagem

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O avanço tecnológico nem sempre é simples e direto. Antes do primeiro voo comercial do Concorde, em 1976, a viagem supersônica de passageiros era uma ficção científica. Depois do último voo do avião em 2003, ele se tornou, ao contrário, uma ficção histórica. O mesmo sucede com os foguetes: o mais poderoso e maior foguete deles já construído (quase cinco vezes mais potente do que qualquer um em operação hoje) foi o Saturn V, que transportou seres humanos para a Lua. Sua última viagem foi em 1973.

Hoje, contudo, os grandes foguetes estão de volta. Em uma rampa de lançamento no Cabo Canaveral, na Flórida, está o Falcon Heavy, a mais recente contribuição da empresa privada SpaceX. Tem 70 metros de altura e abriga 27 motores. Coletivamente cria uma propulsão de 22,8 newtons – equivalente a 18 aviões 747, o suficiente para colocar uma carga de 64 toneladas em órbita baixa. O que é ainda menos da metade do que o Saturn V conseguia transportar. Mas duas vezes mais do que o Delta IV Heavy, o campeão atual. É, assim, considerado o maior foguete do mundo.

Os engenheiros da SpaceX estão agora testando o aparelho. Em algum momento, nos próximos dias, esperam chegar à última fase e tentar lançá-lo em órbita. Se conseguirem, o Falcon Heavy será de longe o mais potente foguete presentemente voando, perdendo apenas para o próprio Saturn V em termos de capacidade para colocar coisas em órbita.

Um lançamento bem-sucedido será outra vitória do fundador da SpaceX, Elon Musk, que criou uma empresa com o fim de revolucionar as atividades espaciais e reduzir o custo de colocação de um foguete em órbita. Depois de um início atribulado, ele se firmou de maneira admirável. O preço de lançamento do foguete atual, o Falcon 9, deve ser a metade do cobrado por concorrentes. O que tem ajudado a companhia a conseguir muitas encomendas, lançando satélites comerciais para empresas, satélites secretos para Forças Armadas americanas, e fazendo transporte de carga para a Estação Espacial Internacional em nome da Nasa.

Os preços cobrados pela SpaceX podem ainda diminuir se os clientes desejarem voar em um dos foguetes reutilizados, tecnologia na qual a empresa é pioneira. Rotineiramente o Falcon 9 voa em um primeiro estágio e volta para a Terra, aterrissando ou próximo do local de lançamento original ou em uma barca robótica no oceano. Em março um dos estágios do foguete recuperado foi relançado pela primeira vez, transportando para o espaço um satélite de comunicações para a Airbus.

Tudo isso aumenta a pressão sobre as empresas do setor. Em abril de 2017, a United Launch Alliance (ULA), joint venture formada pela Lockheed Martin e pela Boeing, que fabrica o Delta IV Heavy, anunciou a redução da sua mão de obra em 25% e em um terço os preços de um grupo de foguetes chamado Atlas.

Pelo menos conceitualmente, o Falcon Heavy é uma máquina simples. Consiste de três foguetes Falcon 9 reunidos. A SpaceX originalmente planejava seu primeiro lançamento para 2013. Mas Musk admitiu que foi “ingênuo” sobre o quão difícil isso seria. O foguete do meio do trio precisou ser reforçado para enfrentar o estresse imposto pela propulsão dos vizinhos. As aerodinâmicas dos três foguetes ligados diferem da de um único foguete. Musk espera recuperar todos os foguetes do Falcon Heavy de uma vez só – algo que nunca foi tentado antes.

Com tudo isso em mente, ele tem procurado diminuir as expectativas. Em julho de 2014, declarou em uma conferência no Texas esperar que: “o Falcon Heavy voe longe o bastante a ponto de não causar danos à rampa de lançamento (no caso de explodir). Mesmo isso seria uma vitória, para ser honesto.” Em abril, Musk, que é também fundador da Tesla Motors, afirmou estar em busca de algo mais interessante. E acabou escolhendo seu carro esporte Tesla Roadster para uma missão em que o carro explode em órbita em torno do Sol, onde deveria permanecer por bilhões de anos.

Mesmo que essa missão não termine em uma bola de fogo, a capacidade extra do Falcon Heavy e as economias feitas com a reciclagem significam que se, e quando, o foguete funcionar de maneira confiável, os custos de se colocar grandes objetos no espaço podem cair em uma ordem de magnitude daqueles do Delta IV Range. O novo foguete já tem uma série de interessados em adquiri-lo, incluindo a Arabsat, empresa de comunicações via satélite, e a Força Aérea americana.

Lua

A missão mais atrativa é o envio de dois turistas em uma excursão de ida e volta em torno da Lua. Segundo a SpaceX, o corajoso duo pagou um depósito “importante” e a viagem vai se realizar em algum momento neste ano.

O Falcon Heavy não é o único grande foguete em desenvolvimento. China e Rússia também estão trabalhando no Long March 9 e no Energiya-5V respectivamente – que devem rivalizar com o arrojo do Saturn V. E o setor espacial privado incipiente está limitado a máquinas menores. Uma empresa chamada Rocket Lab poderá se tornar em breve a primeira startup do setor desde que a SpaceX entrou em órbita. Seu pequeno foguete, Electron, pode transportar uma carga de 150 quilos.

Mas Musk tem competidores de peso, como Jeff Bezos, fundador da Amazon, que comanda a própria empresa de engenharia espacial, a Blue Origin. A companhia está fabricando o foguete New Glenn, que deve ser lançado em 2020 e poderá transportar 45 toneladas de peso. E Bezos poderá ser vencido pelo governo americano, que deve lançar o Block 1, primeira versão do Space Launch System (SLS) em 2019 ou 2020. Este foguete tem capacidade para 70 toneladas. Uma variante final do SLS, o Block 2, cujo lançamento é previsto para 2029, poderá transportar o dobro. Foi projetado explicitamente para permitir à Nasa ir à Lua e retornar, e eventualmente, seguir talvez até Marte.

Mas o SLS não é tão popular. Seus críticos dizem que não é mais do que um programa de geração de emprego para empresas aeroespaciais estabelecidas, politicamente poderosas. E não é um programa barato. Seu custo foi estimado em US$ 18 bilhões pela Nasa. Os progressos sendo feitos pelos bilionários dos EUA certamente tornam mais difícil justificar as tentativas do governo para duplicar seus esforços. E a SpaceX provavelmente será a vitoriosa. A planejada continuação do Falcon Heavy será o BFR, ou Big Fucking Rocket, capaz de carregar até 250 toneladas para o espaço. E tem também por objetivo tornar realidade o desejo de Musk de colonizar Marte. Ele será de longe o foguete mais potente até hoje construído.

Segundo a empresa, o BFR estará pronto em 2021, mas poucos se surpreenderão se a data for adiada. Mas se for lançado, o reinado do Saturn V, depois de um século, chegará ao fim.

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