O que é o Aquecimento Global?

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O globo está aquecendo. A terra e os oceanos estão mais quentes do que nunca, desde que dados começaram a ser gravados, em 1880, e as temperaturas não param de crescer. É esse aumento que define o aquecimento global.

Aqui estão os números nus, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês): as temperaturas médias da superfície aumentaram 0,95 graus celsius entre 1880 e 2016. A mudança de ritmo adicionou 0,07 graus celsisu a cada década, sendo que a superfície terrestre esquentou mais rápido do que a superfície dos oceanos: 0,10 contra 0,06, respectivamente.

O Acordo de Paris, que foi assinado por 195 nações até o momento, possui o objetivo de assegurar que o aumento da temperatura média fique dois graus abaixo dos níveis pré-industriais – uma meta que muitos cientistas e ativistas acreditam ser um verdadeiro desafio alcançar (vale lembar que os Estados Unidos deixaram o Acordo de Paris, após decisão do presidente Donald Trump). Entenda abaixo como que a humanidade acabou esquentando o planeta até demais.

Efeito estufa

A principal causa do aquecimento atual é a queima de combustíveis fósseis. Esses hidrocarbonetos aquecem o planeta por meio do efeito estufa, que é causado pela interação entre a atmosfera da Terra e a chegada da radiação do sol. “A física básica do efeito estufa foi descoberta mais de cem anos atrás, por um cara muito esperto, usando apenas lápis e papel”, disse Josef Werne, professor de geologia e ciência ambiental da Universidade de Pittsburgh, nos EUA.

Esse “cara muito esperto” era Svante Arrhenius, um cientistas sueco e eventual ganhador do Prêmio Nobel. Em resumo, a radiação solar atinge a superfície da Terra e retorna novamente para a atmosfera como calor. Os gases na atmosfera aprisionam esse calor, prevenindo que ele escape para o espaço (o que é uma boa notícia para a vida do planeta). Em um paper apresentado em 1895, Arrhenius percebeu que gases, como o dióxido de carbono, podem fazer com que o calor fique preso próximo a superfície da Terra – e essas pequenas mudanças na quantidade desses gases podem fazer uma enorme diferença na quantidade de calor que fica retida.

Os gases do efeito estufa

Desde o início da revolução industrial, os humanos modificaram bastante o balanço dos gases na atmosfera. A queima de combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, liberam dióxido de carbono, metano, ozônio e óxido nitroso – os gases primários do efeito estufa. O dióxido de carbono é o mais comum deles. Entre 800 mil anos atrás e o início da Revolução Industrial, sua presença na atmosfera estava na casa de 280 partes por milhão. Atualmente, está na casa de 400 ppm (o que significa que existe 400 moléculas de CO2 no ar para cada milhão de moléculas do ar).

Os níveis de dióxido de carbono nunca estiveram tão altos desde o período Plioceno, que ocorreu entre 5 e 3 milhões de anos atrás, de acordo com o Instituto de Oceanografia Scripps.

Em 2015, um estudo mostrou que o CO2 era responsável por 82% de todas as ações de gases do efeito estufa.

O CO2 chega até a atmosfera de diversas formas. A queima dos combustíveis fósseis é, de longe, a forma principal de emissão do gás na atmosfera. Ainda segundo o estudo do parágrafo acima, a queima desses combustíveis, dentro apenas dos EUA, é responsável por liberar 5 bilhões de toneladas métricas na atmosfera anualmente. Se acidionarmos outros processos nessa conta, os números finais chegam à marca de quase 5,5 bilhões de toneladas métricas.

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O desmatamento é também um grande contribuidor para o excesso de CO2 na atmosfera. Quando as árvores são mortas, elas liberam o carbono que estava guardado durante o processo de fotossíntese. Por conta disso, perto de um bilhão de toneladas de carbono são liberados na atmosfera a cada ano.

O metano é o segundo gás mais comum, só que ele é muito mais eficiente em aprisionar o calor. Em 2012, o gás correspondia a 9% de todas as emissões oriundas dos Estados Unidos. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) afirma que o metano possui 20 vezes mais impacto nas mudanças climáticas do que o dióxido de carbono, pelos próximos 100 anos.

O metano pode ser liberado por diversas fontes naturais, mas os humanos causam boa parte das emissões de metano por conta da mineração, o uso de gás natural, a criação de gado e o uso de aterros sanitários. De fato, segundo a EPA, os humanos são responsáveis por mais de 60% das emissões de metano.

Apesar dos dados apresentados até agora, algumas medidas para diminuir a emissão dos gases estão surtindo efeito. As emissões dos Estados Unidos aumentaram em 7,7% entre os anos de 1990 e 2004, mas esses números diminuíram em 8% de 2005 até 2014. Existem razões que explicam esse declínio: o uso de gás natural, em substituição ao carvão; mudanças na economia americana, veículos menos poluentes e métodos mais eficientes e limpos de se gastar energia.

Os efeitos do aquecimento global

O aquecimento global não significa apenas aquecimento. Enquanto que o globo fica mais quente, em média, esses aumentos de temperatura podem causar efeitos paradoxais, como tempestades de neve mais severas. E existem outras consequências: o derretimento de camadas polares, o agravante da seca em locais que já são áridos, grandes extremos de clima e mudança no balanço dos oceanos.

O grande derretimento

Talvez o efeito mais visível das mudanças climáticas esteja no derretimento de geleiras e do gelo do mar. Isso está ocorrendo desde o final da última Era do Gelo, há 11,700 anos atrás, mas o aquecimento do século passado só piorou as coisas. Um estudo, feito em 2016, mostrou que existe 99% de chance de que o aquecimento global seja o responsável pela retraída de geleiras. O Parque Nacional Glacier, nos EUA, possuía 150 geleiras no final do século XIX. Atualmente, possui apenas 26.

No Pólo Norte, o aquecimento é duas vezes mais grave do que nos locais que ficam em meia latitude. O gelo do inverno e outono alcançou seus menores níveis em 2015 e 2016, o que significa que ele não foi capaz de cobrir os oceanos como de costume. Cada vez mais, o gelo demora mais para se formar e derrete mais rápido. Cientistas acreditam que o Oceano Ártico estará livre de gelo durante o verão nos próximo 20 ou 30 anos.

Já no Pólo Sul, ou Antártida, as coisas ainda não estão muito claras. A Península Ocidental Antártica está aquecendo mais que certas parte do Ártico. Esse é o local onde um enorme iceberg se desprendeu, no mês passado, e possui o mesmo tamanho do Distrito Federal. Já o gelo do mar no entorno do continente é bem váriável, e até chegou a superar alguns recordes recentemente. Mas acredita-se que o principal fator também é uma consequência dessas mudanças climáticas, pois a camada gelada pode estar se movendo da terra para a água por conta de seu derretimento.

Mais quente e seco

O aquecimento global também está modificando as coisas entre os dois pólos. Muitas áreas que já são secas devem piorar sua situação, enquanto o planeta continua esquentando. O sudoeste dos Estados Unidos, por exemplo, pode vivenciar décadas de grandes secas que jamais foram registradas na história.

“Essas secas estão tão longe de nossa experiência contemporânea que são quase impossíveis de se imaginar”, disse Benjamin Cook, cientista de clima da NASA.

O estudo prevê que existe 85% de chance de secas durarem, pelo menos, 35 anos na região, no ano de 2100. A principal causa, apontada pelos pesquisadores, é o aumento da evaporação da água, por conta do solo, que está cada vez mais quente. E a maior parte da precipitação resultante do efeito deve ser perdida.

Outras áreas do globo que podem vivenciar secas semelhantes são o Mediterrâneo, a Amazônia, América Central, Indonésia, África do Sul, México e o oeste da Austrália.

Climas extremos

Outro impacto é o clima extremo. Furações e tufões devem se tornar mais intensos conforme o planeta fica mais quente. Oceanos mais quentes evaporam e aumentam a umidade do ar, que é o “combustível” dessas enormes tempestades. De acordo com o Painel Internacional de Mudanças Climáticas, mesmo que sejam tomadas medidas para reverter o quadro do aquecimento global, ciclones tropicais ficarão 11% mais intensos, em média.

Paradoxalmente, as mudanças climáticas também devem resultar em tempestades de neve mais severas. Uma pesquisa revelou que tempestades mais intensas são duas vezes mais comuns desde o início do século XX. O motivo? O aumento da umidade na atmosfera.

Mudanças nos oceanos

Alguns dos impactos imediatos do aquecimento global estão por debaixo das ondas. Os oceanos agem como uma espécie de pia de carbono – eles absorvem o dióxido de carbono dissolvido. Essa não é uma coisa ruim para a atmosfera, mas não é agradável para o ecossistema marinho. Quando o CO2 reage com a água do mar, ele causa um declínio do pH, em um processo conhecido como acidificação do oceano. E uma acidez maior absorve carbonato de cálcio, essencial para a sobrevivência de mariscos, pterópodes e corais.

Cientistas marinhos já observaram níveis alarmantes de branqueamento de corais. Esse efeito ocorre quando eles estão em situação de estresse, o que inclui situações de altas temperaturas. Estimativas indicam que a Grande Barreira de Corais da Austrália pode estar totalmente branca até 2030.

Exemplo de coral que sofreu branqueamento
Exemplo de coral que sofreu branqueamento

Como resolver o aquecimento global

Um número crescente de líderes de negócios, oficiais de governo e até mesmo simples cidadãos estão cada vez mais preocupados com os efeitos do aquecimento global e suas implicações, e apresentam várias propostas para contornar o problema.

O esforço mais ambicioso para controlar o aquecimento global foram os Acordos de Paris. O tratado entrou em vigor em novembro de 2016, e tem como objetivo assegurar que o aumento da temperatura média fique dois graus abaixo dos níveis pré-industriais, conforme dito no início do texto. Cada signatário pode estabelecer suas regras para limitar as emissões e garantir que se tornem cada vez mais severas com o passar dos anos. Muitos cientistas acreditam que mesmo com tal medida, será difícil manter o aquecimento abaixo dos dois graus, mas que isso já é uma melhora em relação ao cenário atual.

Mas no último mês de junho, o presidente americano, Donald Trump, disse que sua administração não iria honrar o Acordo de Paris, e anunciou que os EUA estavam abandonando o tratado. Após a divulgação da notícia, muitos prefeitos, governadores e executivos garantiram que iam continuar com a promessa de cortar as emissões.

Resolver as mudanças climáticas requer grandes mudanças na produção de energia, como substituir os combustíveis fósseis por fontes que possuam menos carbono. Muitos cientistas acreditam que até a geoengenharia (ciência que estuda os meios de manipulação do clima através da tecnologia) será necessária para conseguir resfriar o planeta.

Fonte: LiveScience
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