OMS pretende classificar vício em videogames como transtorno psiquiátrico

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Se você joga muito videogame, você possivelmente tem um transtorno psiquiátrico – pelo menos, de acordo com uma proposta da Organização Mundial da Saúde (OMS). A ideia passou a ser discutida ainda em 2014 e está sendo considerada para a próxima revisão da da Classificação Internacional de Doenças (CID), que traz as definições de doenças usadas por médicos de todo o mundo.

Mas mais de duas dúzia de acadêmicos nos campos da mídia interativa e dos videogames estão se manifestando contra a proposta em uma carta aberta. Eles dizem que a base empírica para a nova classificação sofre de problemas fundamentais na formalização da desordem, mesmo que ainda seja apenas uma proposta.

O grupo de pesquisadores acredita que isto pode ter repercussões negativas e até mesmo perigosas em questões médicas, científicas, de saúde pública, sociais e de direitos humanos. A carta aberta afirma que a proposta:

“Poderia resultar na aplicação prematura de diagnósticos na comunidade médica e no tratamento de casos de falso-positivos, especialmente para crianças e adolescentes. Em segundo lugar, a pesquisa será travada em uma abordagem de confirmação, em vez de uma exploração dos limites do normal versus o patológico. Em terceiro lugar, a maioria saudável dos jogadores será afetada negativamente.

Esperamos que a inclusão prematura da “Gaming Disorder” como diagnóstico no CID-11 causará um estigma significativo aos milhões de jovens e crianças que jogam videogames como parte de uma vida normal e saudável.”

Os acadêmicos estão preocupados com o fato de que o texto atual da classificação se baseia em pesquisas de baixa qualidade, além de se inspirar muito nos critérios atualmente usados para caracterizar os casos de abuso de substâncias e de jogos de azar, questões que não são realmente análogas aos jogos eletrônicos como um todo.

A “Gaming Disorder” (ou “transtorno de jogo”) é definida como “o comportamento de jogo persistente ou recorrente caracterizado pela falta de controle sobre os hábitos de jogo”. Em outras palavras, um vício em jogar videogames, ou jogos eletrônicos em geral.

Se a “Gaming Disorder” for realmente incluída no CID pela OMS, isso pode levar a grandes restrições de marketing e publicidade dos videogames no futuro, podendo exigir grandes rótulos em todos os produtos relacionados, alertando os compradores de seus riscos, de forma semelhante ao que pode ser visto em produtos como o cigarro.

“Não há evidências de que os jogos eletrônicos representem um risco de dependência mais significativo do que muitos outros comportamentos potencialmente problemáticos, incluindo sexo, alimentação, excesso de trabalho, excesso de exercício, etc.”, afirmou o  Dr. Daniel Kardefelt-Winther, um dos pesquisadores que assinaram a carta aberta.

Por outro lado, não há duvidas de que o vício em jogos é um problema real e que precisa ser enfrentado pela sociedade. A polêmica da questão é entender e definir a abrangência da classificação do transtorno, garantindo que os jogos eletrônicos não estão sendo tratados de forma diferente de outros produtos.

Os pesquisadores temem que ao se apoiar diagnósticos nebulosos e não comprovados, a OMS está dando sua aprovação tácita de um diagnóstico sem discernimento, com um enorme e perigoso potencial de abuso em todo o mundo.

Na melhor das hipóteses, poderia ser uma desculpa fácil para medicar indivíduos ao invés de identificar as origens reais de seu comportamento. Na pior, nas mãos erradas, essa pode ser uma ferramenta aplicada para silenciar o que for considerado inconveniente.

 

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