Cientistas descobrem que pernilongo pode transmitir zika

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O genoma do vírus zika, coletado no organismo de mosquitos do gênero Culex – o chamado ‘pernilongo’ – foi sequenciado por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Pernambuco. Com o sequenciamento, foi descoberto que o vírus consegue alcançar a glândula salivar do animal, o que indicaria, segundo a instituição, que o pernilongo pode ser um dos transmissores do vírus zika.

Os resultados foram publicados, na última quarta-feira (9), na revista Emerging microbes & infections, do grupo Nature. O artigo é intitulado “Zika virus replication in the mosquito Culex quinquefasciatus in Brazil” e pode ser encontrado na íntegra na internet.

Os mosquitos do gênero Culex foram colhidos na Região Metropolitana do Recife, já infectados. A equipe do Departamento de Entomologia da instituição conseguiu, então, comprovar em laboratório que o vírus consegue se replicar dentro do mosquito e chegar até a glândula salivar.

Foi fotografado por microscopia eletrônica, também pela primeira vez, a formação de partículas virais do Zika na glândula do inseto.

(Foto: Christina Peixoto / Fiocruz)
(Foto: Christina Peixoto / Fiocruz)

Também foi comprovada a presença de partículas do vírus na saliva expelida do Culex, coletadas pelos cientistas. De acordo com a Fiocruz, o artigo “demonstra” a possibilidade de transmissão do vírus Zika por meio do pernilongo na cidade.

Será analisado agora “o conjunto de suas características fisiológicas e comportamentais, no ambiente natural, para entender o papel e a importância dessa espécie na transmissão do vírus Zika”, como informou a instituição em seu comunicado.

O genoma do zika já havia sido sequenciado em 2016 pelo Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, em parceria com pesquisadores da Universidade de Glasgow, mas na ocasião foi usada uma amostra humana. Esse sequenciamento é uma espécie de mapa de cada gene que forma o DNA do vírus. Agora, pela primeira vez no mundo, o mapeamento é feito a partir do mosquito.

Novidade pode explicar gravidade em algumas regiões

A descoberta pode ajudar a compreender porque a epidemia foi mais grave em algumas regiões do país, ou porque há mais casos de microcefalia em bebês de mulheres de baixa renda.

O Culex, nome científico do gênero do pernilongo, se reproduz em água extremamente poluída, comum onde não há saneamento básico. Mas, para isso, os pesquisadores afirmam que ainda é preciso estabelecer qual a importância do inseto como vetor da doença.

O próximo passo é estudar características biológicas do Culex. Questões ambientais como a temperatura e umidade do local também são levadas em conta, segundo a pesquisadora da Fiocruz Constância Ayres.

“Precisamos entender qual o papel dele na transmissão, se ele é um vetor secundário, se é primário ou se não tem importância nenhuma. Isso vai depender de outros aspectos biológicos que são característicos dessa espécie, como a longevidade, a abundância em campo, a preferência de se alimentar com o ser humano”, disse a pesquisadora.

Caso o pernilongo seja estabelecido como vetor importante, esse fato pode explicar a ocorrência de mais casos na região Nordeste, por exemplo, ou a relação de áreas sem esgotamento sanitário com a quantidade de infecções.

Ayres recorda que foi no Nordeste que surgiram os primeiros casos de microcefalia causados pela zika. Então, o fato da população de outras regiões já saberem sobre o perigo, e fazerem a prevenção, influencia essa disparidade, mas a falta de saneamento básico pode ter ligação.

“De fato, aqui temos condições precárias que permitem a reprodução do vírus de forma muito intensa. A coleta do lixo, esgoto a céu aberto, inúmeros canais no Recife, que favorecem a replicação do mosquito”, afirma. “O Culex representa nossa falta de estrutura de saneamento básico. Isso é evidente em toda a cidade e favorece a distribuição do mosquito”.

Controle complicado?

De população mais numerosa que o Aedes aegypti, o Culex poderia ser mais difícil de se controlar à primeira vista. Mas, para a pesquisadora, ocorre justamente o contrário.

“A quantidade de criadouros do Aedes é infinita. Pode ser uma tampinha, um pneu, uma calha, piscina, caixa d’agua, então é impossível mapear todos os ambientes. E ele prefere água limpa. Mas o Culex prefere água extremamente poluída, que são os canais, esgotos, fossa. Você consegue mapear e tratar”, afirma.



Fonte: Agência Brasil
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