Stephen Hawking: a Terra pode se tornar um planeta tão quente quanto Vênus

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A Terra pode se transformar em um planeta como Vênus, com oceanos ferventes e chuva ácida, se os humanos não interromperem as irreversíveis mudanças climáticas, segundo palavras do físico Stephen Hawking.

“Já estamos chegando perto do ponto crítico, no qual o aquecimento global será irreversível. As ações de (Donald) Trump podem levar a terra ao seu limite, se transformar em Vênus e chegar a temperaturas de 250 graus Celsius, e chuva de ácido sulfúrico”, disse, em referência a decisão do presidente americano de retirar o país dos Acordos de Paris.

Mas muitos especialistas em clima afirmam que esse cenário é um exagero dramático e improvável: em relação a Vênus, a Terra está muito mais distante do sol, e por conta de sua composição química, é impossível que o planeta consiga ter uma camada tão grossa espessa de dióxido de carbono, e por consequência, chegue a uma temperatura de 250 graus.

De qualquer forma, as catastróficas mudanças que ocorrem por conta do aquecimento global são um perigo real, alertam os especialistas.

“A Terra está muito mais longe do sol do que Vênus e não deve vivenciar um efeito estufa semelhante. No entanto, o grande ponto de Hawking – que nós podemos deixar o planeta inabitável para a civilização humanos se não fizermos nada para interromper as mudanças climáticas – é certamente válido”, explicou Michael Mann, especialista em clima da Universidade do Estado da Pensilvânia.

Um planeta nada agradável

Vênus é o segundo planeta a partir do sol e o mais brilhante do nosso sistema solar. E apesar do planeta ser nomeado após a deusa do amor e desejo, não espere que uma viagem para lá seja muito agradável. Apesar de ter o mesmo tamanho da Terra e a mesma gravidade que a nossa, ele é muito diferente de nossa casa cheia de água.

Vênus é o planeta mais quente do sistema solar, com temperaturas que podem chegar à casa dos 466 graus. A razão disso é que a grossa atmosfera de dióxido de carbono é cheia de nuvens de ácido sulfúrico, assim ela absorve muito mais calor do que a nossa. Sem falar que o planeta está muito mais próximo do sol, o que significa que ele absorve muito mais radiação solar do que a Terra. E vulcões em constante erupção só ajudam a aumentar a reputação.

A teoria sobre como Vênus se tornou um verdadeiro inferno é que o planeta entrou um ciclo sem fim, no qual o planeta absorveu mais radiação solar do que a liberou, o que fez mais vapor de água ficar preso a sua atmosfera. Isso aumentou a absorção de calor, e criou um efeito estufa sem fim.

“Basicamente, Vênus está em um estado de insolação – o planeta entrou em um estado de aquecimento e não conseguiu mais se esfriar”, disse Tyler Robinson, especialista em astrobiologia da Universidade de Washington, nos EUA.

Algo improvável

Apesar da atual preocupação recente com as mudanças climáticas, a Terra já passou por severas mudanças climáticas em seus 4,5 bilhões de anos de existência. Durante o Grande Evento de Oxigenação, que aconteceu há 2,5 bilhões de anos, bactérias aumentaram consideravelmente a quantidade de oxigênio na atmosfera. Há 650 milhões de anos, o planeta inteiro congelou, em um fenômeno chamado de “Terra bola de neve”. E durante a era dos dinossauros, o planeta chegou a ser 10 graus mais quente que atualmente, com uma atmosfera ainda mais rica em dióxido de carbono.

Assim, não podemos descartar que ocorra algo semelhante um dia, como afirma Robinson. Ainda assim, muitos especialistas afirmam que essa possibilidade é incrivelmente improvável.

Apesar de, na teoria, um processo semelhante ao de Vênus poder ocorrer na Terra, ele levaria centenas de milhões de anos para acontecer, segundo especialistas. A probabilidade do oceano literalmente ferver também é muito pequena.

Já a Terra está protegida da radiação solar por uma atmosfera que é muito diferente da de Vênus.

“A atmosfera de Vênus é 100 vezes mais grossa que a da Terra, e composta quase que inteiramente de dióxido de carbono”, disse Robinson. Em contraste, a nossa é feita, principalmente, de nitrogênio molecular e oxigênio, com apenas 0,04% de dióxido de carbono.

Sem um atmosfera grossa de CO2 e uma dose extra de radiação solar, apenas ações intencionais podem causar um cenário semelhante na Terra, segundo Kevin Zahnle, da NASA. “Não há uma expectativa racional de um efeito estufa com os fatos que conhecemos atualmente”, disse.

Já existiram períodos em que a Terra era muito mais quente, como durante o Período Eoceno (entre 56 e 34 milhões de anos atrás), e naquela época, os níveis de CO2 eram três vezes maiores que os atuais. Mesmo que os veículos e máquinas do futuro só aumentem esses níveis, não existem projeções de que a quantidade de dióxido de carbono acabe retornando a tais números.

Uma catástrofe climática é possível

De qualquer forma, a Terra não precisa se transformar em uma nova Vênus para que a vida se torne um inferno.

Os Acordos de Paris tem como objetivo manter o aquecimento abaixo de 2 graus Celsius, se comparado com o período pré-industrial. E mesmo que seja possível manter esse nível estabelecido, podem ocorrer mudanças que devem quebrar os atuais ecossistemas e a agricultura.

“Árvores ainda vão crescer, mas serão necessárias diferentes espécies. E a agricultura precisará de novos métodos de produção. Isso pode ameaçar o suprimento de água e de comida”, disse o cientista Kevin Trenberth.

A água e alimentos não irão, necessariamente, desaparecer. Mas sua demanda pode diminuir, algo que pode causar o caos, segundo Trenberth.

Também é teoricamente possível aumentar drasticamente os numeros de CO2 no planeta, segundo Tyler Robinson. Se os humanos queimarem até as últimas reservas de combustíveis fósseis, os níveis podem aumentar em até 10 vezes.

“A Terra nunca vivenciou níveis de CO2 tão altos em centenas de milhões de anos, e o resultado é a mudança dos níveis do mar. Então, pode se preparar para dizer ‘adeus’ as suas cidades costeiras favoritas”, disse.

Fonte: LiveScience
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