Muitas pessoas não tem conhecimento do nióbio, um metal muito útil dentro de diversas indústrias, incluindo a aeroespacial, e provavelmente mal sabem que a maior parte das reservas mundiais estão presentes aqui, em território brasileiro. Há quem diga que ele poderia ser uma das salvações financeiras de nosso país, incluindo o deputado Jair Bolsonaro, um dos pré-candidatos à presidência da república para a eleição do ano que vem.
Quer conhecer um pouco mais a respeito do nióbio? Confira abaixo alguns fatos e curiosidades sobre o metal:
10) O nióbio foi descoberto por um químico inglês
Apesar do nosso país ser o maior produtor mundial de nióbio e concentrar quase todas as reservas mundiais do metal, ele foi descoberto por um químico inglês, chamado de Charles Hatchett.
Hatchett fez a descoberta em 1801, após encontrar o nióbio em uma amostra mineral enviada para ele, oriunda do estado de Connecticut, nos EUA. O elemento recebeu, originalmente, o nome de Columbium, em referência à Columbia, maneira que muito poetas se referiam aos Estados Unidos na época.
Por muito tempo, ele foi confundido com o Tantálio, até que em 1846, o químico alemão Heinrich Rose percebeu que se tratava de um elemento distinto. E lhe deu o nome de nióbio em referência a Niobe, figura da mitologia grega e filha de Tântalo.
9) Ele é extremamente útil para ligas de metal e aparelhos eletrônicos
O que faz o nióbio ser tão valorizado no mercado internacional é que ele é extremamente útil para diversas coisas. Por exemplo, bastam apenas 100 gramas do metal em uma tonelada de aço para que ela se torne muito mais forte e maleável.
Além disso, ele é um material supercondutor (materiais que mesmo em temperaturas muito baixas, conseguem conduzir corrente elétrica sem resistência ou perdas). Por conta disso, é utilizado em uma infinidade de produtos eletrônicos, como turbinas de avião, aparelhos de ressonância magnética, mísseis e sensores de sondas espaciais.
8) Mais de 90% das reservas estão no Brasil
Eis o motivo que explica por que muita gente afirma que o nióbio seria a salvação financeira do nosso país. A razão é que 98% das reservas do metal estão em solo brasileiro.
Por conta disso, para se ter ideia, o Brasil respondeu por mais de 94% da produção global do metal no ano de 2014. Segundo dados oficiais, existe apenas mais um país que é considerado produtor de destaque do nióbio no mundo: o Canadá.
7) A maior reserva do mundo está na cidade de Araxá
Não parece, mas a pacata cidade mineira de Araxá, distante 360 km da capital Belo Horizonte, possui a maior reserva mundial de nióbio, com um potencial produtivo de 400 milhões de toneladas do metal.
Além de Araxá, as maiores reservas do elemento no Brasil estão presentes nos municípios de Catalão, em Goiás; Itapuã do Oeste, Cujubim e Candeias do Jamari, em Rondônia; e Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
6) A soma de nossas reservas é o equivalente ao dobro do PIB da China
Se nós somarmos todas as reservas presentes no Brasil, temos em torno de 842 milhões de toneladas de nióbio. O preço de tamanha quantidade do metal? 22 trilhões de dólares, o que é o dobro do atual PIB da China.
5) Um banqueiro foi quem deu o primeiro passo para exploração do nióbio
Até quase a década de 70, ninguém ainda sabia como que o nióbio poderia ser utilizado. Ele chegou a ser usado nos filamentos de lâmpadas, até descobrirem que o tungstênio fazia esse serviço de forma melhor.
Na década de 60, foi descoberta a primeira grande reserva de nióbio do planeta, justamente a que está presente em Araxá. Em 1965, integrantes da mineradora americana Molycorp se aproximaram do banqueiro brasileiro Walter Moreira Salles para que ele montasse um empresa para fazer a extração do nióbio. Ele topou o desafio e fundou a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que foi a primeira em solo brasileiro a explorar o metal.
Chegou a década de 70 e a família Salles descobriu uma infinidade de usos para o nióbio, se tornando assim a responsável por controlar um novo mercado mundial que sequer existia alguns anos antes.
4) O nióbio não é vendido em sua forma bruta
Um fato curioso é que o nióbio não é vendido em sua forma bruta. A CBMM o vende por meio de um liga chamada de Ferronióbio, que como seu nome já diz, é composta por 2/3 de Nióbio e 1/3 de Ferro. A empresa também comercializa o metal por meio de outras 10 formulações que tem como base o elemento.
E mesmo após a CBMM vender 30% de suas ações para um grupo de empresas da Ásia, a família Salles não cedeu nenhuma informação sobre como é realizado o processamento do nióbio.
3) Os maiores compradores
Os principais países que compram o nióbio são a China, Estados Unidos e Japão, que precisam pagar, em média, 26 mil dólares pela tonelada do metal.
Uma curiosidade é que esse preço é apenas uma estimativa e costuma variar. O motivo é que o metal não é vendido em bolsas de commodities, então o preço precisa ser negociado diretamente entre vendedor e comprador.
2) Por que o Brasil não se beneficia disso?
Esse item será um pouco longo, mas vamos lá. Você já deve estar se perguntando: se o nióbio vale tanto dinheiro e somos praticamente os únicos exportadores mundiais do produto, por que não nos beneficiamos disso? Existem 3 explicações para tal fato.
A primeira é que o nióbio é, teoricamente, substituível. O vanádio e o titânio possuem as mesmas funcionalidades. Muitos países são produtores desses dois metais, e nem é preciso dizer que é muito melhor você produzir do que depender de um produto que é quase exclusividade de um país só. Ele também pode ser trocado pelo tungstênio, tântalo e o molibdênio.
A segunda explicação é que não é necessário usar muito nióbio para que ele já funcione. Por conta disso, ele é extraído em baixas quantidades, e por consequência, as reservas do metal ainda podem abastecer a humanidade por mais dois séculos. Se aumentarmos o preço, os compradores vão optar por outros metais mais baratos. E se aumentarmos a extração, haverá excesso de oferta e seu preço irá despencar no mercado.
Por fim, a última explicação é culpa de nós, brasileiros. O motivo é que nós não produzimos produtos derivados do nióbio. Um professor do Instituto de Física da Unicamp explicou que ninguém está disposto a pagar fortunas pelo metal se não sabemos dar valor agregado a ele. Por isso, entramos naquele velho ciclo “burro” de que vendemos a matéria-prima e compramos o produto pronto.
1) E como solucionar isso?
Ainda há muito tempo para que o Brasil tente modificar esse cenário. O consumo mundial do nióbio aumentou 10 vezes desde a década de 60, justamente por conta da constante evolução de tecnologias, o que pode aumentar ainda mais o mercado para o produto.
Ainda assim, conforme dito no último item, não basta apenas depender disso. É necessário que o Brasil começe a fabricar e investir em produtos sofisticados que tenham como matéria-prima o nióbio. Caso contrário, vamos apenas continuar a exportar o produto e dependeremos da boa vontade dos estrangeiros em comprá-lo.