O aumento do nível do mar, impulsionado pelo aquecimento global, está a caminho de aumentar drasticamente a frequência de inundações costeiras em todo o mundo nos próximos 50 anos, especialmente em regiões tropicais, disseram pesquisadores.
Um salto de 10 a 20 centímetros no nível dos oceanos até 2050, uma previsão considerada como conservadora, dobraria o risco de inundação em regiões de alta latitude, informou a revista Scientific Reports.
Grandes cidades ao longo da costa norte-americana, como Vancouver, Seattle, San Francisco e Los Angeles, juntamente com a costa atlântica européia, estariam altamente expostas a este tipo de risco.
Mas só seria necessário a metade desde salto nos níveis dos oceanos para dobrar o número de inundações graves nas cidades tropicais, incluindo todas as regiões ao longo de deltas de rios altamente povoados na Ásia e na África.
Mesmo considerando a previsão mais conservadora de todas a respeito do aumento do nível do mar, cidades como Mumbai, Kochi, Abidjan e muitas outras seriam afetadas significativamente.
“Estamos 95 por cento confiantes de que um adicional de 5 a 10 centímetros vai dobrar a frequência de inundações nos tópicos”, disse o principal autor Sean Vitousek, cientista climático da Universidade de Illinois em Chicago. Ilhas pequenas, já vulneráveis a inundações, ficariam ainda piores, acrescentou.
“Um aumento da frequência de inundações com as alterações climáticas irá desafiar a própria existência e sustentabilidade destas comunidades costeiras em todo o mundo”, alertou o cientista.
A inundação costeira é causada por tempestades severas e é agravada quando as grandes ondas de tempestade e as altas marés convergem.
O furacão Sandy nos Estados Unidos (2012), que causou dezenas de bilhões ou dólares em danos, e o Tufão Haiyan nas Filipinas (2013), que deixou mais de 7.000 mortos ou desaparecidos, ambos tiveram inundações devastadoras.
O aumento dos mares – causado pela expansão do aquecimento da água dos oceanos e pelo derretimento de manchas de gelo e geleiras – também é um fator que contribui para essas tragédias.
Imprevisibilidade do mar
Até agora, as estimativas globais de futuras inundações costeiras não têm adequadamente levado em conta o papel das ondas, afirmou Vitousek. “A maioria dos dados usados em estudos anteriores vem de estações de medição de maré, que estão em portos e áreas protegidas”, explicou. “Eles gravam fortes marés e tempestades, mas não as ondas”.
Para compensar a falta de dados observacionais, Vitousek e seus colegas usaram modelagem computacional e um método estatístico chamado teoria do valor extremo. “Nós fizemos a pergunta: com ondas levadas em consideração, quanto aumento do nível do mar seria necessário para dobrar a frequência de inundações?”
Não muito, eles descobriram. Os níveis do mar estão aumentando atualmente em três a quatro milímetros por ano, mas o ritmo aumentou cerca de 30 por cento na última década.
A velocidade esse aumento poderia acelerar ainda mais enquanto os blocos do gelo do tamanho de continentes perto dos pólos continuam a perder sua massa, especialmente a Antártica. Vitousek descreveu esta mudança no nível do mar como uma imprevisibilidade (“wild card”).
Se os oceanos subirem 25 centímetros até o meio deste século, “os níveis de inundação que ocorrem a cada 50 anos nos trópicos estariam acontecendo a cada ano ou mais”, afirmou o pesquisador.
A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos EUA prevê que o nível médio do mar subirá em até 2,5 metros até 2100. As temperaturas médias globais aumentaram em um grau Celsius desde o meio do século 19, com a maior parte da mudança acontecendo nos últimos 70 anos.
O Acordo de Paris, de 196 anos, assinado em 2015, apela para que o aquecimento global fique bem abaixo dos 2 graus Celsius, um objetivo descrito pelos cientistas climáticos como extremamente assustador.
Fonte: Phys.org