O que acontece nos primeiros momentos após a morte? Existe algum tipo de consciência, ou a mente desaparece junto com o fim da vida? Essa é uma pergunta que ainda desafia vários cientistas em todo o mundo, apesar de décadas de pesquisa.
As experiência de quase-morte (EQMs) foram alvo de diversos estudos que tentaram desvendar os processos que ocorrem no cérebro quando o corpo finalmente para de funcionar. Existem relatos de todos os tipos, desde pessoas que disseram sair do próprio corpo a indivíduos que alegam ver momentos do passado ou do futuro.
A definição clínica de morte é a morte cerebral, ou a parada cardíaca irreversível. Porém, como não é possível afirmar com certeza que após uma parada cardíaca os médicos vão conseguir recuperar o coração do paciente, podemos dizer que durante o período entre a parada e o retorno dos batimentos, o indivíduo estava morto.
Estudando os instantes que antecedem a morte em ratos de laboratório, cientistas da Universidade de Michigan descobriram que uma onda de eletricidade invade o cérebro momentos antes da morte cerebral, colocando os animais em um estado de hiper-alerta.
Os resultados do experimento sugerem que as EQMs são causadas pela redução do fluxo sanguíneo associado ao comportamento elétrico anormal dentro do cérebro. Essa é uma explicação possível para o conhecido efeito do túnel de luz branca, relatado por vários pacientes que passaram por esse tipo de experiência.
O Dr. Sam Parnia , diretor de pesquisa de cuidados intensivos e ressuscitação, na NYU Langone School of Medicine em Nova Iorque é um dos estudiosos que buscam entender o que acontece com o cérebro nos momentos que precedem e sucedem a morte.
Em uma entrevista com o LiveSience, o pesquisador explica que várias equipes médicas relatam casos de pacientes que parecem ter consciência do que aconteceu ao seu redor no momento em que eles estavam tecnicamente mortos – e portanto, não deveriam ter qualquer noção do que estava acontecendo.
“Muitas vezes, aqueles que tiveram tais experiências falam sobre flutuar ao redor da sala e estar cientes da equipe médica trabalhando em seu corpo. (…) Eles descrevem ter assistido os médicos e enfermeiras trabalhando e eles descrevem ter consciência das conversas inteiras, de coisas visuais que estavam acontecendo, que de outra forma não seriam conhecidas por eles”.
É justamente essa percepção que motiva o surgimento de diversas teorias, que envolvem tanto explicações puramente científicas como o resultado de processos cerebrais ainda desconhecidos, como também casos de viagens astrais, ou explicações que envolvem a separação da alma do corpo.
Mas ainda que não exista um consenso a respeito do que causa as EQMs, Parnia afirma que elas são um fato incontestável.
“O ponto que eu tento fazer é o de que sim, nós não sabemos o que são esses gatilhos químicos [que causam as experiência de quase-morte]. Um dia podemos identificá-los, mas isso ainda não anula a realidade de uma experiência. E a realidade não é cronometrada por qualquer gatilho neurológico em relação a qualquer experiência.”
Parnia explica que mesmo após a parada cardíaca, as pessoas podem continuar conscientes por até 20 segundos. Durante esse tempo, o cérebro continua ativo mesmo sem oxigênio, tentando coletar e interpretar as informações captadas por nossos sentidos. É possível que esse essa percepção alterada seja a explicação para os relatos tão comuns.
O cientista pretende continuar observando como o cérebro reage através do processo de morte e ressuscitação, para entender melhor os limites do corpo e da mente. Decifrar os processos que ocorrem nos instantes cruciais que antecedem a morte pode um dia servir de fundamento para melhorar técnicas que poderiam salvar milhões de vidas todos os anos.
Com informações de HypeScience e Skeptiko.