Donald Trump disse que uma das principais prioridades da sua presidência será retirar os Estados Unidos dos acordos internacionais a respeito de conter as emissões de gases que causam o efeito estufa. Trump inclusive frisou que iria renegar o histórico do pacto climático de Paris. Além disso, ele escolheu Myron Ebell – que não acredita na mudança climática causada pelo homem – pra liderar a transição da Agência de Proteção Ambiental dos EUA – a EPA, que até agora é envolvida no desenvolvimento de regulamentos que reduzirem a produção de gases de efeito estufa – pra nova administração, como relatado por ClimateWire.
Mas o que isso significaria para o clima do mundo?
Acontece que, embora seja relativamente simples remover os EUA das obrigações dos tratados, os especialistas dizem que os impactos de tal movimento ainda não estão claros.
“Se todas as nações do mundo cumprirem plenamente suas promessas de Paris, evitariamos as emissões cumulativas de gases de efeito estufa em cerca de 100 gigatoneladas de dióxido de carbono” até 2030, disse John Sterman, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e consultor sênior do Climate Interactive – uma organização sem fins lucrativos. Os Estados Unidos representariam 22 gigatoneladas desse total até 2025, de modo que renunciar totalmente ao pacto significaria que os gases de efeito estufa seriam muito mais altos. E, na pior das hipóteses, poderia levar ao completo desmoronamento do acordo, disse Sterman.
“Poderia ser pior, porque muitas nações podem decidir que, se os Estados Unidos não cumprirem seu acordo, por que eles deveriam?” Sterman disse à Live Science.
No entanto, o acordo nunca foi vinculativo e não será aplicado com sanções, por isso nunca foi garantido que todos os signatários cumpririam seus compromissos de qualquer maneira, disse Sterman. E, no melhor dos casos, motoristas econômicos ou iniciativas de cidades ou estados poderiam levar os EUA a reduzirem suas emissões independentemente de um pacto, acrescentou.
Cancelando os acordos
Há menos de um ano, o presidente Barack Obama assinou o acordo de Paris. Os Estados Unidos, juntamente com 195 outros países, concordaram em fazer os cortes de emissões de dióxido de carbono necessários pra evitar mais 2 graus Celsius no aumento das temperaturas médias globais. Em discursos ao longo de toda a campanha, Trump fez com que fosse prioridade desfazer o trabalho climático de Obama, apesar do próprio acordo permite que os signatários se retirem do tratado somente após quatro anos.
“É projetado pra alguém como Trump em mente”, disse Michael Wara, um especialista em energia e direito ambiental na Stanford Law School na Califórnia, referindo-se a um líder que quer sair das obrigações. No entanto, existem maneiras pra Trump realmente descarrilar o processo mais cedo.
“O acordo de Paris entrou em vigor, mas ainda há muito a fazer pra explicar como ele realmente vai ser implementado”, disse Wara à Live Science. “Se os EUA simplesmente não prosseguirem com as negociações de implementação do acordo de Paris, isso pode ser tão impactante quanto a retirada dos EUA”, disse Wara. Por exemplo, se a EPA for dirigida por alguém cético a respeito das questões climáticas, eles poderiam simplesmente sucatear as regras pra regular o dióxido de carbono, tornando a imposição dos objetivos impossível.
Além disso, o acordo climático de Paris faz parte de um tratado maior, chamado A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – UNFCC -, que foi negociado pela primeira vez em 1992. Trump poderia remover os Estados Unidos da UNFCC dentro de um ano com o golpe de uma caneta . Esse passo eliminaria a exigência de que os Estados Unidos relatassem seus níveis de emissões, disse Wara.
No início deste ano, Obama ajudou a elaborar uma emenda ao Protocolo de Montreal, um acordo assinado por 197 países em 1989 pra proteger a camada de ozônio da Terra. A nova emenda visa eliminar a produção de gases superpotentes denominados hidrofluorcarbonetos – HFCs -, fornecendo incentivos financeiros aos países em desenvolvimento pra reduzir esses gases, mas o Senado ainda não o ratificou. Assim, o futuro presidente Trump poderia simplesmente recusar-se a tomar tais medidas. Essa inação, por sua vez, pode levar aos países em desenvolvimento a questionarem se devem se preocupar em limitar suas emissões de HFC. “A Índia, em particular, estava extremamente nervosa sobre a assinatura”, disse Wara.
Efeitos tangenciais
“Muitas das peças-chave dos equipamentos que poderiam ter o efeito de reduzir tais emissões – baterias, painéis solares, turbinas eólicas -, que vão ser implantados nos próximos quatro a cinco anos, têm cadeias de suprimento globais”. Se a Trump cancelar os acordos comerciais e impor tarifas elevadas, esses produtos podem se tornar mais caros de fabricar, o que significa que as energias renováveis não seriam mais competitivas com outras fontes de energia. Por exemplo, a queda dos custos das baterias fez com que os carros elétricos fossem competitivos em termos de custo com os veículos convencionais, mas esse impulso poderia ser descarrilhado por rígidas penalidades comerciais, disse Wara.
Por outro lado, há uma pequena chance de algumas das políticas de Trump poderem, embora indiretamente, reduzir as emissões. Por exemplo, Trump tem sido um grande defensor da perfuração de petróleo e gás natural, e se ele promover essa agenda como presidente “a indústria do carvão estaria realmente em grande dificuldade”, disse Wara. “É mais barato gerar eletricidade com gás do que o carvão e, se continuarmos, a indústria do carvão estará indo embora, parada completamente.”
Consequências desastrosas
No pior cenário, onde os EUA prosseguem com o normal funcionamento, em 2100, o clima poderá aquecer por cerca de 4,5 graus C e os mares podem subir em 2 metros.
“Isso levaria a um alto risco de catástrofe climática”, disse Sterman.
Tal aquecimento extremo pode levar à escassez de água, à seca em todo o mundo, mais ondas de calor – o que poderia matar centenas de milhares de pessoas -, migrações em massa – que superariam a crise de refugiados dos últimos anos – e a devastação faria com que o furacão Sandy pareça um dócil.
“É extremamente grave”, disse Sterman.
Fonte: http://www.livescience.com/56817-how-trump-will-affect-climate.html