Ao contrário do que acontece na maioria das cidades do interior de São Paulo, em Bauru não há corrida para abastecimento nos postos de combustível. Há muitos anos, a cidade é abastecida por trens que saem diretamente dos terminais da Refinaria de Paulínia (Replan), na região de Campinas.
De acordo com a empresa Rumo, responsável pela estrada de ferro, não houve interferência da greve dos caminhoneiros no transporte pelos trilhos, já que os vagões-tanques são carregados no interior da refinaria e seguem por linha férrea. Conforme a concessionária da ferrovia, Bauru é a única do interior de São Paulo abastecida por seus trens.
Gasolina e diesel são entregues a três unidades de recebimento em Bauru, de onde o combustível é distribuído para os postos. Apesar de a população – 372 mil habitantes, segundo o IBGE – não estar sentindo a falta de gasolina e diesel, esses combustíveis não estão chegando às cidades da região, por conta dos bloqueios em rodovias.
O abastecimento de etanol em Bauru está comprometido, pois esse combustível não chega de Paulínia, sendo enviado por distribuidores de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto. Por conta do desabastecimento parcial e dos bloqueios em rodovias, a prefeitura decretou situação de emergência na última sexta-feira (25).
Greve continua
A paralisação dos caminhoneiros entra nesta segunda-feira (28) no oitavo dia. A categoria ainda mantém bloqueios em todo o País, o que causa o desabastecimento de produtos e combustível nas cidades.
Polícias estaduais, Polícia Federal e tropas do Exército negociam a saída dos manifestantes das estradas e fazem escoltas para liberar a saída de caminhões-tanque de refinarias.
Na noite de domingo (27), o presidente Michel Temer anunciou seis medidas em resposta às reivindicações dos caminhoneiros:
1) A redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel. Isso corresponde aos valores do PIS/Cofins e da Cide, somados. Segundo Temer, o governo irá cortar do orçamento, sem prejuízo para a Petrobras;
2) A garantia de congelamento do preço do diesel por 60 dias. Depois disso, o reajuste será mensal, de 30 em 30 dias;
3) Será editada uma Medida Provisória para a isenção de eixo suspenso em praças de pedágios, tanto em rodovias federais, como nacionais;
4) O estabelecimento de uma tabela mínima de frete, conforme previsto no PL 121, em análise no Congresso;
5) A garantia de que não haverá reoneração de folha de pagamento no setor de transporte de carga;
6) A reserva de 30% do transporte da carga da Conab para motoristas autônomos.
Mais cedo, o Comando Militar do Sul (CMS) do Exército Brasileiro havia afirmado, em um vídeo divulgado em sua página oficial na internet, que espera resolver o “problema” causado com a greve de caminhoneiros na região pela negociação, e não pelo emprego da força. O CMS pede que os caminhoneiros colaborem e afirma que é “necessário que se entenda” que é por meio do diálogo que se chegará a uma solução que beneficie a todos.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, demonstrou preocupação com a paralisação de caminhoneiros. Segundo ele, com o movimento, que completa sete dias, “a economia brasileira está sendo asfixiada”. “Todos estamos na iminência de um grave conflito social”, relatou em comunicado.
O governo vê participação de patrões, empresários do transporte e distribuição na greve. Já foram abertos 37 inquéritos, em 25 Estados, para investigar a prática de locaute. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, 400 multas já foram aplicadas, que juntas somam pouco mais de R$ 2 milhões.
Abcam prevê volta ao trabalho
Em entrevista concedida à Rádio Eldorado na manhã desta segunda-feira (28), o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse que o momento agora é de que os caminhoneiros voltem às suas atividades. “Agora o pessoal ainda está dormindo, mas acredito que até o meio-dia tudo estará resolvido”, afirmou.
Lopes explicou que há grupos envolvidos nas manifestações que têm outras pretensões, diferente das dos caminhoneiros e da Abcam. Lopes também agradeceu o apoio da população à categoria, mas ressaltou que ainda há coisas a fazer e “reuniões internas para resolver”.
“Vamos colocar ordem nesse segmento que transporta o Brasil nas costas. Um segmento que antes não tinha o reconhecimento do governo, que estava em uma situação pior que um indigente. A partir de hoje, essa situação deve se resolver”, disse ele.