Por que as moscas são tão difíceis de se bater? Essa é uma questão que irritou a humanidade por milênios, mas os cientistas podem finalmente ter encontrado a resposta.
As moscas reagem a ameaças iminentes como se fossem aviões de combate – se afastando em uma fração de um piscar de olhos, de acordo com um estudo publicado em 10 de abril, na revista Science.
Rápidos demais para serem atingidos por um tapa, os insetos voadores aproveitam a sua força aerodinâmica dentro de uma ou duas batidas de asa para mudar quase que instantaneamente o seu curso, de acordo com o que foi descoberto pelo estudo das moscas da fruta.
Na verdade, isso acontece tão rapidamente – em menos de um centésimo de segundo – que os cientistas precisaram de três câmeras de alta velocidade, cada uma capaz de levar 7.500 quadros por segundo, para conseguir capturar o movimento.
Não só isso, mas a manobra de fuga – em que vemos as moscas da fruta (Drosophila hydei) se lançarem em rotações de 90 graus ou mais, às vezes voando quase de cabeça para baixo – é muito controlada e específica.
Isto de acordo com o co-autor do estudo, Florian Muijres, pesquisador do Dickinson Lab, da Universidade de Washington, em Seattle, onde a pesquisa foi realizada.
Pequenas diferenças na batida das asas geram a força necessária para que a mosca suba e role de repente. As diferenças devem ser muito precisas; caso contrário, “o animal iria voar e girar sem controle”, afirma Muijres.
“Com base na direção da ameaça iminente – seja por trás, frente ou lado – as moscas realizam um tipo diferente de manobra de fuga que é muito controlada”, acrescentou.
Moscas velozes e furiosas
Isso contrasta com outra tática de fuga, utilizada por uma mosca de repouso, um tópico investigado anteriormente pelo Dickinson Lab.
Partindo de uma posição de repouso, a mosca faz um salto selvagem e tropeça através do ar usando as pernas. “Somente na segunda fase, elas ganharão controle e começarão a bater as asas”, disse Muijres.
O novo estudo, que empregou robôs alados mergulhados em cubos de óleo mineral para entender melhor os movimentos rápidos das moscas, desafia estudos recentes que, em vez disso, apontam para moscas girando usando uma manobra de guinada.
A “guinada” é o que o motorista de um carro sente ao girar o veículo, o que é bastante diferente do movimento de achatamento facial, fenômeno que um piloto de um avião a jato experimenta.
Guinadas, ou piruetas em torno de um eixo vertical, é uma forma eficiente para que os insetos mudem de direção, de acordo com Graham Taylor, professor de biologia e matemática da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Para mudar de direção ao voar, no entanto, os insetos precisam redirecionar sua força aerodinâmica para criar a rotação necessária para curvar sua trajetória de voo, explicou Taylor, que não estava envolvido no novo estudo.
O que é uma surpresa, disse Taylor, é a extraordinária rapidez da resposta de fuga, “e a sutileza das mudanças que as moscas fazem para a sua batida de asa ao girar”, explicou.
“As moscas estão respondendo a uma ameaça próxima na metade do tempo necessário para começar a piscar em resposta a um flash da câmera”, disse ele. “E o tempo que leva para realizar o movimento depois disso é ainda mais rápido, então elas estão acelerando até seu poder total em uma fração do que você leva para completar esse piscar dos olhos”.
O fato de que moscas podem reagir tão rapidamente sugere que elas estão conectadas para isso – com algum neurônio dedicado a tais emergências em voo, ligado até as suas asas e músculos.