Alarmados com a quantidade de pontas de cigarro espalhadas pelos parques de Amsterdã, dois designers holandeses criaram um plano incomum para treinar corvos para pegar essas pontas de cigarro e trocá-las por recompensas saborosas.
Os designers Ruben van der Vleuten e Bob Spikman originalmente consideraram o uso de robôs para limpar as ruas das pontas de cigarro, mas encontraram uma série de dificuldades, em particular a programação complicada necessária para que eles conseguissem aspirar todos os cantos da cidade ao mesmo tempo em que evitavam bicicletas e pedestres.
Então, eles voltaram a sua atenção para um dos recursos mais abundantes das áreas urbanas – os pássaros.
Os pombos foram os primeiros a serem considerados, porque eles podem ser encontrados em praticamente todas as cidades do mundo, mas uma busca rápida revelou que eles não são realmente conhecidos por sua inteligência, então treiná-los teria sido muito difícil. Mas os dois designers logo encontraram outro pássaro que também é muito comum em várias cidades, além de ser muito mais inteligente – o corvo.
Os corvos estão classificados entre as espécies mais inteligentes do planeta, e sua compreensão da causalidade permite que eles sejam capazes de planejar, além de criar e usar ferramentas para atingir seus objetivos.
Eles podem aprender coisas, observando seus arredores, manipulando humanos para ajudá-los, e alguns, aparentemente, podem até mesmo contar. O quociente de encefalização dos corvos (nível aproximado de inteligência) é igual ao dos chimpanzés, por isso eles eram perfeitos para o projeto imaginado por Ruben e Bob.
Os dois designers sabiam que queriam treinar corvos para limpar as cidades das pontas de cigarros descartadas, mas não foi até que descobriram o Crow Box, um projeto de Joshua Klein, que eles perceberam como fazer isso.
Klein inventou uma máquina para treinar de forma autônoma, para que eles pudessem pegar moedas das ruas e trocá-las por pedaços de amendoim. Então, se pudessem ser treinados para fazer isso, eles definitivamente poderiam aprender a pegar as pontas de cigarro também.
“O que você quer é que os corvos associem comida com as pontas”, disse Ruben van der Vleuten. Para conseguir isso, eles planejam seguir um processo de quatro passos julgado e tentado por Joshua Klein.
O primeiro passo é você apresentar uma ponta de cigarro e um lanche, numa bandeja na máquina. Isso ajuda o pássaro a associar a ponta com a comida, de modo que ele volte para pegar mais.
No segundo passo, você tira a comida e só oferece ela quando o corvo chegar ao Crow Box, o que ajuda o pássaro aprender que a máquina faz coisas. Durante o terceiro passo, o corvo descobre que o Crow Box responde a certas ações, então você tira completamente a comida, deixando apenas a ponta do cigarro na bandeja.
Durante este “passo crucial”, o corvo, acostumado com o fato da comida sempre estar lá, começará a se aproximar e eventualmente empurrar a ponta no receptáculo da máquina, fazendo com que a comida caia.
“O quarto passo é o único passo em que os seres humanos estão envolvidos. Quando o corvo se sente confortável com o passo 3, uma pessoa dispersa uma dúzia de pontas ao redor da máquina. Agora, o corvo tem que descobrir que pode pegar essas pontas e depositá-las na máquina “, disse van der Vleuten.
Uma vez que eles se acostumam e entendem como as coisas funcionam, os corvos começarão a procurar as pontas de cigarro na natureza ao redor e trocarão ela pelos lanches saborosos na máquina Crow Box.
Perguntado se o ato de pegar constantemente as pontas de cigarro cheias de toxinas não seria algo ruim para os corvos, a dupla holandesa deu uma resposta muito pragmática: “O efeito sobre a natureza é enorme, e sentimos que poucos corvos são um pequeno preço a pagar”.
“Além disso, o contato curto com a extremidade garante que o efeito seja mínimo. Podemos regular a máquina para limitar o número de corvos treinados. Mas na verdade, ainda precisamos fazer uma pesquisa extensa sobre isso, porque se os efeitos forem ruins para os corvos, precisamos buscar outra solução”, afirmaram.