Entenda as consequências da saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris

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Na tarde desta quinta-feira (1º), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que o país está se retirando, oficialmente, do Acordo de Paris, após prometer que faria isso durante sua campanha presidencial.

O acordo foi assinado no final de 2015, e se tornou um marco, após quase todos os países do mundo o assinarem, e visa colocar um fim as mudanças climáticas do planeta. Ele foi assinado por 195 nações.

Entenda abaixo as consequências da saída dos EUA do Acordo de Paris:

O que foi definido em Paris?

No Acordo de Paris, os países signatários concordaram com os seguintes termos:

– Assegurar que o aumento da temperatura média fique dois graus abaixo dos níveis pré-industriais.

– Limitar a quantidade de gases emitidos pela atividade humana, em um nível no qual as árvores, o solo e os oceanos consigam absorvê-los naturalmente. Isso deve começar em algum momento entre 2050 e 2100.

– Cada país deve rever suas políticas de diminuição da emissão de gases a cada cinco anos.

– Os países mais ricos devem dar um “financiamento climático” para os mais pobres, para que se adaptem as mudanças climáticas e façam a transição para energia limpa.

Por que Trump queria a saída dos EUA?

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Durante sua campanha presidencial, Donald Trump disse as mudanças climáticas era uma “invenção” do governo chinês. E prometeu que iria retirar seu país do acordo, por considerá-lo “péssimo para os negócios dos Estados Unidos”, pois assim “burocratas estrangeiros teriam o controle da quantidade energia de usamos”.

Quem defende a opinião de Trump também afirma que o acordo iria impor restrições sobre o que os EUA fariam com suas fontes de energia, um importante setor da economia do país.

O que isso significa para os Estados Unidos?

Por ter assinado o acordo, os Estados Unidos terão de enfrentar um processo legal para deixa-lo, o que deve levar quatro anos para ser concluído. A saída oficial aconteceria em 4 de novembro de 2020, um dia após a eleição presidencial do país. Se quiser, a próxima administração pode optar por assina-lo novamente.

Os Estados Unidos ainda podem participar de discussões sobre mudanças climáticas na ONU, e permanecerá como uma parte importante da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre a Mudança do Clima. Mas Trump já afirmou que seu país não irá mais cumprir os objetivos assinados no Acordo de Paris, e só voltará a assiná-lo se for drasticamente renegociado, algo improvável de acontecer.

A administração Trump ainda tem como objetivo desmantelar algumas políticas climáticas do seu próprio país, como modificar várias regulamentações sobre a queima do gás metano, por exemplo.

Mas deixar o Acordo de Paris não significa que os Estados Unidos irão virar as costas para as mudanças climáticas. Estados como a Califórnia e Nova Iorque possuem seus próprios programas para reduzir as emissões de usinas e veículos. E o próprio setor privado já voltou seu foco para as energias limpas e renováveis.

Qual será a resposta dos demais países?

Lídere da China, Índia e Europa insistem que irão combater as mudanças climáticas mesmo sem a presença dos EUA. Mas o futuro do clima do planeta se torna uma incógnita.

Uma possibilidade é que, sem a presença do segundo maior poluidor do planeta no acordo, os demais países sentirão menos pressão para estabelecer seus planos para diminuir as emissões de gases.

Outro ponto que deve ser considerado é que os Estados Unidos haviam prometido doar até US$ 3 bilhões para os países mais pobres, e assim, ajudá-los a adotar energias limpas e se adaptar a secas, aumento do nível do mar e outras calamidades semelhantes. A administração de Barack Obama já havia doado US$ 1 bilhão, como fizeram outras nações ricas. Só que Donald Trump jurou que iria cancelar qualquer pagamento futuro, e atrapalhar os planos de nações pobres na África e na Ásia.

Mas nem tudo deve ser encarado com pessimismo. Luke Kemp, especialista em políticas climáticas da Universidade Nacional Australiana, sugere que a saída dos EUA pode ter efeito oposto, e fazer os demais países redobrarem seus esforços na luta contra as mudanças climáticas.

Os Estados Unidos também podem enfrentar sérias retaliações diplomáticas por deixar o Acordo de Paris. A Europa, China e outros países podem se negar a manter cooperação com o país, como por exemplo, na área comercial. Em casos mais extremos, podem até mesmo impor tarifas de carbono nos Estados Unidos.

O que isso significa para as mudanças climáticas?

O céu poluído de Pequim, capital da China
O céu poluído de Pequim, capital da China

O Acordo de Paris foi um primeiro passo para um longo e lento processo para interromper as mudanças climáticas.

Antes mesmo das ameaças da administração de Trump, muitos dos esforços não estavam dando muito resultado. No momento, as temperaturas do planeta estão três graus Celsius ou mais acima dos níveis pré-industriais. Como consequência, existe um risco enorme de desestabilizar gelerias da Groenlândia e da Antártica, aumentar o nível do mar, ondas de calor e secas mais destruidoras e a perda de ecossistemas vitais, como as barreiras de corais.

Agora está nas mãos da China, o maior poluidor do planeta, a responsabilidade de liderar as políticas mundiais contra as mudanças climáticas. O país já está investindo em energia solar, eólica e nuclear, mas ainda é incerto como os líderes chineses vão pressionar outros países.

Até o momento, nenhum país se prontificou a aumentar seus esforços para compensar as fracas ações dos Estados Unidos.

Uma futura administração pode mudar a direção das mudanças climáticas e até mesmo fazer os Estados Unidos assinarem novamente o Acordo de Paris após Trump deixar o cargo. “Se a atual administração durar apenas quatro anos, é provável ver os demais países continuando a manter suas políticas climáticas, sem desistir totalmente dos Estados Unidos”, disse David G. Victor, professor de relações internacionais da Universidade da Califórnia, em San Diego.

Fonte: BBC e The New York Times

 

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