Para muitos, um profissional mais experiente é mais confiável do que um mais jovem. No entanto, uma pesquisa da Universidade de Harvard quebra esse preceito – ao menos na medicina. Cientistas de Harvard notaram que pacientes de médicos mais velhos morrem mais do que os pacientes de doutores novinhos.
Conforme o estudo, divulgado no prestigiado “British Medical Journal” recentemente, médicos mais experientes atuam com base no conhecimento adquirido na época em que estudaram, que pode ter se tornado ultrapassado. Caso o médico não frequentes congressos e grupos de discussão ou use softwares específicos voltados para o diagnóstico, há o risco de aplicar técnicas datadas.
“Achamos que médicos velhos estão tentando bastante aprender tratamentos inovadores e implementá-los na sua prática. No entanto, visto que o conhecimento médico e as novas tecnologias mudam frequentemente, eles podem ficar sobrecarregados para se atualizar”, explica o médico pHD Yusuke Tsugawa, líder do estudo em entrevista à reportagem.
Já os doutores jovens, ainda que mais crus, saem da faculdade a par do que há de mais recente na medicina. É como se saíssem já treinados para usar tratamentos e tecnologias de ponta.
A diferença é pequena, mas ainda assim chamou a atenção dos pesquisadores de Harvard. Para chegar aos resultados, foram analisados, do banco de dados relativo ao país inteiro, 736.537 pacientes, entre 65 e 75 anos, tratados por 18.854 médicos entre 2011 e 2014. As comparações eram sempre feitas entre pacientes do mesmo hospital, para não haver discrepância.
A exceção se dá apenas para médicos mais velhos bastante ativos, que continuam a atender muitas pessoas no hospital – estes tinham uma mortalidade entre seus pacientes abaixo da média.
Manutenção
Apesar dos dados encontrados, os pesquisadores ressaltam que é preciso manter médicos mais experientes nas equipes – afinal, a experiência e mentoria deles é fundamental para ensinar os mais novos.
No estudo, foi visto que médicos mais velhos com alto número de pacientes (pelo menos 200 por ano) perdiam 10,9% dos seus pacientes – portanto, abaixo da média geral de mortalidade para todos, de 11,1%.
Aliás, em todas as idades, o fator que mais definia a queda no número de mortes não era o pouco ou muito tempo de carreira, mas sim a quantidade de pacientes atendidos. Há, portanto, uma relação direta: quanto mais um médico trabalha, mais pacientes ele salva.
“Aqueles que continuam a ver um grande número de pacientes se atualizam sobre as últimas tecnologias e o conhecimento médico mais recente. Portanto, eles mantêm um cuidado de alta qualidade ao longo da carreira”, explica Tsugawa.
Além disso, conta a favor dos mais velhos as queridas rugas de experiência adquiridas no dia a dia. “Só o conhecimento não resolve as angústias do paciente. O médico mais velho tem mais percepção da necessidade do indivíduo e tem mais vantagem no trato pessoal”, diz Carlos Eduardo Andrade Pinheiro, professor e ex-coordenador do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Além disso, na chefia de uma equipe, o médico mais velho sabe ser um bom conciliador”, acrescenta.
A data de nascimento, portanto, não pode ser levada somente em conta na escolha do profissional. Vale pedir a boa e velha indicação. “Julgar apenas a idade como um fator não é o jeito certo de avaliar a performance de médicos”, diz Tsugawa, da Universidade de Harvard.
Veja alguns dados da pesquisa
- Média geral de mortalidade para médicos de todas as idades: 11 1%* / **
- Médicos com menos de 40 anos: mortalidade de 10,8% entre os pacientes* / **
- Médicos entre 40 e 49 anos: mortalidade de 11,1%* / **
- Médicos entre 50 e 59 anos: mortalidade 11,3%* / **
- Médicos acima de 60 anos: mortalidade de 12,1%* / **
* Morte em até 30 dias após a internação
** Doenças mais comuns analisadas: infecção por bactéria, pneumonia, insuficiência cardíaca e obstrução pulmonária crônica
Fonte: Estadão Conteudo