Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mandou seu exército bombardear uma base militar da Síria, jogou a “mãe de todas as bombas” contra o Estado Islâmico no Afeganistão, e agora volta suas atenções para a Coreia do Norte, por conta do teste com um míssil no início dessa semana.
O presidente moveu diversos navios da marinha americana para a península coreana. Trump, inclusive publicou a seguinte mensagem em seu Twitter: “a Coreia do Norte está procurando problemas”. Foi um tipo de ameaça ao governo do ditador Kim Jong-Un, enquanto seus técnicos faziam os últimos preparos para o teste, que falhou, mas não deixou de ser provocador.
Mas muitos especialistas acreditam que este último ato de Pyongyang reforçou a futilidade dos esforços de Trump para forçar Kim Jong-Un a abandonar seu programa nuclear.
“Há um problema em fazer uma ameaça militar contra a Coreia do Norte, já que eles devem chamar um blefe. Não estou dizendo que eles testaram por conta das ameaças. Mas trazer uma artilharia naval não ajuda se o objetivo é impedir um teste”, disse John Delury, um especialista da Coreia do Norte da Universidade de Yonsei, na Coreia do Sul.
Ajuda chinesa
Os apoiadores de Trump afirmam que essa estratégia adotada pelo presidente, com o uso de força militar, é uma forma de intimidar o ditador norte-coreano e convencer o presidente chinês, Xi Jinping, a diminuir a ajuda que oferece para seu aliado.
Alguns observadores já notaram que um recente editorial do jornal The Global Times (que é controlado pelo partido comunista chinês) é a prova de que Trump, enfim, convenceu Pequim a colocar rédeas no governo de Kim Jong-Un, ao aumentar as sanções ao governo norte-coreano.
Mas, segundo Delury, não há evidências que sugerem que Xi está preparado para fazer mais do que “aumentar algumas sanções” contra a Coreia do Norte. A mensagem de Pequim para Trump já foi bem clara: “Acalme-se.”
Delury também acredita que essa retórica ameaçadora e uso equivocado de força só irão aumentar ainda mais a determinação de Kim em desenvolver uma arma nuclear que possa o livrar de um destino igual ao de Saddam Hussein ou Muammar Gaddafi.
“Isso é apenas jogar o jogo de Pyongyang. É uma perda de tempo, e a administração Trump deveria adotar outra estratégia para resolver o problema. Como eles não tem nada a perder e o governo americano tem tudo a perder, eles sempre ganharão esse jogo”, disse Delury.
Programa nuclear deve continuar
Leonid Petrov, um especialista da Coreia do Norte na Universidade Nacional Australiana, disse que o último lançamento de míssil “é uma mensagem da Coreia do Norte de que, apesar da postura dos Estados Unidos, eles não irão abandonar seu programa militar e nuclear.”
Petrov também disse que não ficou surpreso com a decisão de Kim Jong-Un de não comemorar o aniversário de 105 anos do fundador da Coreia do Norte, o seu avô Kim Il-Sung, por conta da antecipação do sexto teste nuclear do país.
“Com os danos físicos que (o teste) poderia causar a áreas próximas, seria muito incomum para um neto leal ordenar um teste nuclear em uma data tão auspiciosa”, disse.
Mas no dia em que esse teste ocorrer, ele poderá ser uma espécie de “acerto de contas” contra a aproximação agressiva de Trump. “Se os EUA responderem com um ataque, isso irá confirmar o apelo de Kim de que ele está cercado por forças hostis, que estão determinadas a começar um conflito”, disse Petrov.
“O momento da verdade para os EUA será ou atacar (em resposta a um teste nuclear) e provocar o retorno da Guerra da Coreia, o que irá botar a segurança sul-coreana em jogo, ou dar um passo atrás e trair suas fraquezas. O que os EUA irão fazer? A bola está na quadra americana”, complementou Petrov.
Fonte: The Guardian