Por que os replicantes de Blade Runner ainda estão longe de existirem?

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Os fãs do clássico de ficção científica Blade Runner, de 1982, tiveram de esperar 35 anos para ver a continuação do filme, Blade Runner 2049, que está em exibição nos cinemas. Mas nós teremos de esperar muito, muito mais para ver, na vida real, os replicantes, os androides semelhantes a humanos que aparecem na franquia.

O filme original se passa no ano de 2019, e como o seu próprio título já entrega, Blade Runner 2049 deu um pulo no tempo de 30 anos. Mas apesar dos dois longas se passarem em um futuro não tão distante, a incrível tecnologia utilizada para a construção dos replicantes é muito mais avançada do que a que possuímos atualmente. Esses androides são praticamente indistinguíveis dos seres humanos: eles se movem, falam, possuem o comportamento de um humano e são programados para serem autônomos, autossuficientes e até mesmo autoconscientes.

Os engenheiros e programadores de hoje já fizeram grandes avanços na área de robótica e inteligência artificial desde que o Blade Runner original estreou nos cinemas. Mas a ideia de existirem os replicantes na vida real ainda parece muito distante, igual há 35 anos.

Há décadas, programadores estão trabalhando em sistemas de computador chamados de redes neurais. Elas são responsáveis por formar conexões semelhantes com o que o cérebro humano faz e podem ser utilizadas para treinar um computador a aprender certas tarefas. Apesar de os computadores ainda não estarem aptos a reproduzir todas as funcionalidades do nosso cérebro, as máquinas já mostraram que possuem a capacidade de “aprender” coisas que jamais imaginamos que elas conseguiriam.

Xeque mate

Em 1997, o computador Deep Blue, da IBM, mostrou, pela primeira vez, que a inteligência artificial poderia “pensar” em uma forma de derrotar um humano campeão de xadrez. Capaz de calcular 200 milhões de movimentos de xadrez por segundo, Deep Blue derrotou a campeão Garry Kasparov em uma partida que demorou vários dias para ser concluída. O Deep Blue mostrou ao mundo que os computadores poderiam aprender a fazer complexas e estratégicas escolhas após verificar uma enorme base de dados de potenciais respostas, de acordo com a IBM.

Outro computador da empresa, chamado Watson, teve uma tarefa um pouco mais complicada em 2011, após competir contra humanos em um programa de perguntas e respostas, contra dois campeões anteriores. O “cérebro” de Watson era muito mais sofisticado que o de Deep Blue e respondeu todas as perguntas naturalmente, a partir de dados coletados alguns meses antes da competição.

Já em 2016, um sistema de inteligência artificial, chamado AlphaGo, derrotou um jogador humano em uma partida de Go, jogo chinês de estratégia, considerado por muitos o mais complexo já inventado pelo ser humano.

O AlphaGo se tornou um mestre no jogo após “observar” milhões de partidas e utilizar dois tipos de redes neurais: uma para avaliar o estado da partida e outra para determinar o próximo movimento, de acordo com seus programadores.

Recentemente, redes neurais estão sendo utilizadas para explorar o lado “artístico” das máquinas, como compor uma canção, criar imagens de dinossauros e até escrever a continuidade da série livros As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin.

Dificuldades

O grande problema das histórias de ficção científica é que elas raramente explicam o que está debaixo do “capô” de um androide, e em Blade Runner, isso não é diferente. Para que uma rede neural conseguia fazer um corpo robótico replicar o de um ser humano, os programadores teriam de colocar imensas quantidades de dados e a capacidade de processamento está muito além da atual, explicou Janelle Shane, pesquisadora da área de engenharia elétrica.

“O mundo é muito variado – essa é uma das dificuldades. Existem muitas coisas que uma rede neural pode encontrar. Você pode treinar sua rede para ser razoavelmente boa para realizar tarefas simples, mas forçá-la a fazer diferentes coisas de uma vez – falar, reconhecer um objeto, mover seus membros – é um problema complicado. É difícil antecipar o que elas podem encontrar e como que vão se adaptar”, explicou Janelle.

A pesquisadora já conseguiu programar redes para fazerem coisas consideradas simples, se comparado com o repertório dos replicantes de Blade Runner: criar nomes para cores ou desenvolver feitiços para o jogo de RPG de tabuleiro Dungeons & Dragons, também conhecido pela abreviatura D&D.

E nesse segundo exemplo, os resultados foram, no mínimo, estranhos: a máquina colocou o nome “Dave” em quase todos os feitiços que bolou, além de criar outro que é praticamente impronunciável: “Mordenkainen’s lucubrabibiboricic angion.”

O corpo robótico

Em décadas recentes, também ocorreram avanços no design de robôs humanoides bípedes, apesar de estarem bem longe dos replicantes de Blade Runner. Mas recentes inovações permitem que os robôs consigam se mover cada vez mais igual a um ser humano.

“Nós estávamos travados nessa parte da robótica simplesmente por que só tínhamos acesso a componentes rígidos: motores pesados, peça de metal e juntas duras. Mas se você observar a biologia, verá que os animais são feitos de materiais macios que oferecem muitas coisas que os robôs não possuem”, explicou Hod Lipson, professor de engenharia mecânica da Universidade Columbia, em Nova Iorque.

Lipson e seus colegas criaram, recentemente, um “músculo” macio, impresso em uma impressora 3D, para robôs. Feito a partir de materiais sintéticos, ele é flexível, é ativado eletricamente e é 15 vezes mais forte que um músculo humano. Ele consegue responder a estímulos, o que é exatamente algo que faltava no mundo da robótica, segundo Lipson.

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“Músculo” desenvolvido por Lipson e seus colegas

Nas últimas décadas, já vimos diversos exemplares de robôs com pele artificial em exibições ou que já foram alvo de testes, mas existe um bom motivo que explica por que eles ainda não andam pelas ruas.

“Os robôs ainda não conseguem lidar bem com ambientes físicos pouco estruturados. Em muitos filmes, não temos a resposta da questão de como que se fazem essas máquinas. Ninguém ainda possui uma pista de como construir uma máquina que ágil e que consiga guardar energia para andar por dias”, explicou Lipson.

Portanto, jamais veremos qualquer exemplar dos replicantes de Blade Runner em um futuro próximo. “Se eu tivesse de previr o futuro, eu acredito que teremos uma inteligência artificial igual ao da mente humana muito em breve. Mas quando falamos de um corpo, ainda vai levar mais um século”, afirmou Lipson.

Fonte: Live Science
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