É da natureza humana tentar superar todos os obstáculos e progredir. Não importa a área em que competimos, sempre queremos evoluir cada vez mais e atingir o topo da performance possível, e nas corridas do atletismo não é diferente.
Um bom exemplo é Usain Bolt e talvez ele será o exemplo notório por muitos e muitos anos. Bolt continua ganhando prova atrás de prova e, embora deva se aposentar neste ano – inclusive ele já está com novas empreitadas, como ser um dos novos embaixadores do poker e talvez jogar futebol – o jamaicano continua sendo a referência quando o assunto é velocidade. Mas qual é o limite da velocidade humana?
Em um estudo publicado em 2008 no Jornal de Biologia Experimental, o pesquisador Mark Denny utilizou dados das corridas de 100 m desde o século passado para montar um gráfico da melhora nos tempos de velocidade dos corredores em relação as competições.
Com estes dados na mão, Denny utilizou programas de computador para montar uma equação que fosse capaz de prever qual seria o melhor tempo que os corredores poderiam atingir. E de acordo com o cientista, os atletas progridem cada vez menos com o passar dos anos, até atingirem um limite.
Durante o estudo, o pesquisador também olhou para as melhoras de tempos em corridas de cachorros e cavalos e pode observar que os limites já foram atingidos para a primeira espécie em 1950 e para a segunda em 1970, o que indicaria que existe um limite biológico para quão rápido uma espécie pode correr – mesmo que ela sofra seleção artificial para melhorar a velocidade.
A conclusão é que a velocidade máxima que um humano poderia alcançar, devido as limitações físicas e biológicas da espécie, seria de 9,48 segundos. Ou seja: um décimo a menos do recorde de Bolt. Entretanto, o pesquisador Peter G. Weyand e sua equipe acreditam que humanos podem diminuir o tempo na corrida de 100 metros a bem mais do que isso.
Em outro estudo publicado em 2010 no Jornal de Fisiologia Aplicada, Weyand e três pesquisadores compararam três tipos diferentes de corrida – corrida normal para frente, corrida saltando e corrida de costas – para medir qual a velocidade máxima em cada uma delas.
O que eles descobriram foi que os principais fatores para limitação da velocidade não são as “forças máximas que os membros podem aplicar ao solo, mas, sim, o tempo mínimo necessário para aplicar as grandes forças específicas de massa necessárias”. Em linguagem comum, isso significa que quanto menor o tempo necessário para pisar forte no solo, mais rápido a pessoa vai correr. Correr saltando no ritmo certo é a melhor maneira de correr mais rápido e diminuir o tempo.
Extrapolando os resultados obtidos com a pesquisa, Weyand e sua equipe calcularam que um humano que otimizasse sua proporção de saltos durante uma corrida conseguiria terminar os 100 m em 9 segundos ou menos. Uma diminuição considerável de 0.58 segundos em relação ao recorde atual.
Finalmente, há um terceiro fator que nenhum dos cientistas acima consideraram em suas pesquisas: a evolução da tecnologia.
Durante sua apresentação no TED, David Epstein, jornalista investigativo especializado em evolução de atletas e autor do livro “The Sport Gene”, argumentou que um dos principais fatores responsáveis pela melhora da performance de atletas nas diversas categorias de esportes – incluindo o atletismo – era a evolução tecnológica.
Esta evolução pode ocorrer tanto em forma de equipamentos melhores quanto nas formas de treinamento, suplementos, escolha de atletas e até mesmo nos locais em que as competições acontecem.
No caso das corridas, Epstein afirmou que as pistas atuais melhoram o tempo dos atletas em 1,5% em comparação as pistas antigas. Este ganho parece irrisório, mas somado aos outros ganhos que a tecnologia – tênis, roupas de compressão etc – proporciona em uma corrida o tempo diminui consideravelmente.
Considerando todos estes fatores, podemos afirmar que o recorde mundial dos 100 m eventualmente será quebrado e seres humanos se tornarão cada vez mais rápidos. Ainda assim, não há limite claro para quanto ele pode baixar e qualquer número abaixo dos nove segundos por enquanto ainda não passará de um palpite.