A Egenesis é uma startup que está usando a ferramenta de edição de genes CRISPR para tornar os órgãos de porcos viáveis para transplantes para pessoas. A empresa acabou de se tornar a primeira a criar porcos que não transmitem um vírus-chave, algo que pode nos aproximar dos transplantes entre as duas espécies.
A empresa, que arrecadou US$ 38 milhões (R$ 121 milhões) em março e é co-fundada pelos geneticistas de Harvard, George Church e Luhan Yang, quer eliminar determinados genes de suínos que podem causar doenças ou rejeição de órgãos em seres humanos, permitindo assim o transplante.
A equipe da Egenesis anunciou na revista Science que produziu 37 leitões em que haviam conseguido inativar os retrovírus endógenos dos porcos (PERVs).
O vírus, que faz parte do DNA dos animais, tem sido um problema para os transplantes de porcos para humanos no passado, devido ao fato de que eles poderiam infectar os humanos. A inativação dos vírus pode aliviar essas preocupações.
“Esta é a primeira publicação a reportar produção de porcos sem PERVs”, disse Yang, que é diretora científica da Egenesis, em um comunicado de imprensa.
Como órgãos de porcos podem ajudar com a escassez de transplantes
De acordo com a Administração de Recursos e Serviços de Saúde dos EUA, existem mais de 118 mil pessoas no país que estão na lista de espera para transplantes de órgãos. Em 2016, houve um recorde de 33.500 transplantes, mas estima-se que 22 pessoas morrem todos os dias aguardando um novo órgão.
Obter órgãos de animais, particularmente de porcos, cujos órgãos tendem a ter um tamanho próximo e trabalhar de forma semelhante aos órgãos humanos, poderia ser a solução para essa falta.
Mas há dois grandes obstáculos para que os transplantes de órgãos de animais funcionem com sucesso em seres humanos – um processo conhecido como xenotransplante.
O primeiro é a virologia, ou o fato de que os porcos carregam genes codificados com vírus que poderiam transmitir doenças aos seres humanos – esses são os genes PERVs, que Egenesis está trabalhando para desativar.
O segundo obstáculo, disse ela, é a imunologia. Uma vez que o órgão de porco seria estranho ao corpo, o sistema imunológico da pessoa pode tentar expulsá-lo, rejeitando o órgão. Isso acabou sendo desafiador demais para os pesquisadores que tentaram resolver esse problema na década de 1990.
Idealmente, o CRISPR ajudará a resolver essas questões “que antes eram insuperáveis”, disse Yang. “Nós pensamos que o avanço da edição de genes pode nos ajudar a abordar ambos [os problemas]”, afirmou a pesquisadora.
Como o processo funciona
- A Egenesis quer construir clones de porcos geneticamente modificados que abordem os desafios de virologia e imunologia que acompanham a tomada de um órgão de porco para colocá-lo em um ser humano.
- Para fazer isso, você primeiro modifica geneticamente células do porco. Esse foi o primeiro passo que a empresa retomou em 2015, quando inativou 62 genes de vírus em embriões de porco.
- A partir dessas células, você pode clonar porcos que crescem até o ponto em que você pode tirar os órgãos deles. É aí que a novidade aparece: Yang e seu time conseguiram criar 37 leitões, 15 dos quais sobreviveram e os mais velhos tinham 4 meses de idade.
- Agora, a empresa pode testar os porcos para se certificar de que os seus órgãos são seguros e eficazes e, eventualmente, mover os órgãos de suínos para ensaios clínicos.
A Egenesis não é a única empresa tentando aproveitar os órgãos animais para uso em seres humanos. A United Therapeutics também está buscando o xenotransplante, tomando uma abordagem diferente de tentar cultivar órgãos humanos em porcos.
Além disso, o maior produtor de carne de porco do mundo está explorando meios de cultivar tecidos e órgãos que possam ser usados em transplantes humanos. Yang disse que o número de empresas que começam a trabalhar novamente com a ideia é uma boa notícia.
“Eu acho que é um bom sinal de que o campo foi revivido”, concluiu.
