A Sonda Cassini, que orbitou Saturno por 13 anos, encerrou sua missão na última sexta-feira (15), após se chocar contra o gigante gasoso. Pode ter sido o fim da linha para a espaçonave, mas as suas descobertas a respeito do planeta e suas luas deixaram um legado importantíssimo para a realização de novos estudos aqui na Terra.
Muitas dessas descobertas, além de serem de grande importância e relevância, também são, no mínimo, estranhas e bizarras. Veja abaixo 7 delas:
Hipérion é estática
Hipérion é uma das várias luas de Saturno, e é uma enorme rocha, de formato irregular, que orbita o planeta a 1,48 milhão de quilômetros de distância dele. Durante um voo, em 2005, a Cassini se encontrou em meio a raios de partículas carregadas que emanavam da lua. Depois, foi descoberto que Hipérion estava carregada com eletricidade estática, que era tão grande que foi detectada pela Cassini, segundo a NASA.
Eletricidade estática é um fenômeno importante da nossa Lua, por conta da combinação de secura e exposição a partículas carregadas, oriundas do Sol. Foi a primeira vez que esse evento foi detectado em outra lua do nosso sistema solar. E ofereceu algumas pistas de como que cientistas podem desenvolver uma espaçonave que pode resistir a ambientes e locais cheios de eletricidade.
O nascimento de uma lua
Saturno possui 62 luas, que vão desde a gigante Titã, que é maior que Mercúrio, a luas minúsculas que não tem mais do que 400 metros. Mas com que frequência é possível ver o nascimento de uma lua? A Cassini pode ter registrado esse momento em 2014. A NASA divulgou imagens do anel A de Saturno, que é um dos mais brilhantes. Foi possível ver um arco que era mais brilhante que os demais, e tinha 1200 km de comprimento e 10 km de largura.
Cientistas notaram algumas irregularidades nos limites do anel: pequenas protuberâncias, causadas pela atração gravitacional de algo próximo. Acredita-se que poderia ser o surgimento de uma pequena lua, feita de material congelado, o que seria o mesmo processo utilizado na criação das luas maiores de Saturno.
A NASA informou que não havia mais indícios de que o objeto, que recebeu o nome de Peggy, crescesse mais – tinha apenas pouco mais de 1 km – e poderia até se desintegrar. Mas foi um bom indicativo de como ocorre o processo de formação de uma lua.
Mimas tem um núcleo em formato de bola de futebol americano
Mimas, outra lua de Saturno – normalmente chamada de Estrela da Morte, por ser muito parecida com a icônica arma da franquia Star Wars – pode ter um núcleo que lembra o formato de uma bola de futebol americano.
Durante seu voo pelo satélite, a Cassini tirou algumas fotos, que permitiram que cientistas observassem como que a lua girava em seu eixo, e foi possível notar que existe uma pequena oscilação. E os pesquisadores encontraram algo estranho: o núcleo sólido, que se acreditava ser parte de Mimas, não se encaixava com os seus dados. Então, duas hipóteses foram lançadas: ou o núcleo é líquido, composto por água, ou não era, exatamente, esférico.
Diversas outras luas do nosso sistema solar possuem oceanos, como Encélado e Ganímedes, então o mesmo poderia acontecer com Mimas. Só que uma pesquisa publicada no início deste ano apontou que o núcleo poderia ter um formato diferente, ao invés da hipótese do oceano escondido.
Isso acabou criando outra pergunta: como que um núcleo planetário possui formato não esférico? A hipótese mais aceita é que Mimas, originalmente, era pequena demais e poderia ter um formato irregular. Mas com o tempo, foi acumulando mais e mais material, deixando um núcleo “fóssil” que manteve essa forma irregular.
Titã também tem água, só que muito salgada
Titã é famosa por seus lagos de metano e chuva e neve compostos por hidrocarbonetos. Mas também possui oceanos das mais variadas formas: informações enviadas pela Cassini mostraram que Titã também possui um oceano composto por água muito salgada, de forma semelhante ao Mar Morto, na Terra.
Fluxo de jato hexagonal no polo norte de Saturno
Talvez uma das características mais estranhas e intrigantes de Saturno é o hexágono que está presente no planeta, que até parece ser artificial. Um grande número de jatos, no entorno do polo norte de Saturno, possuem o formato de um hexágono, o que é diferente de qualquer coisa já vista na Terra.
O hexágono possui 32 mil km de largura e alcança uma altura de quase 100 km dentro da atmosfera do planeta. Cientistas e astrônomos já criaram vários modelos para explicar como que é possível ter um formato tão geométrico.
Uma hipótese bem aceita é a lançada pelo astrônomo Raúl Morales-Juberias. Sua equipe criou diversas simulações em computador e descobriram que um fluxo de jato no entorno do polo norte de Saturno, que possua mais de 320 km/h, é capaz de assumir um formato hexagonal.
Raios em outro planeta
Em 17 de agosto de 2009, a Cassini gravou o primeiro vídeo de um raio em Saturno. Essa foi a primeira vez que o fenômeno foi registrado, em vídeo, em outro planeta. Andrew Ingersoll, membro da equipe da Cassini, disse que as tempestades que causam esses raios são tão poderosas quanto às da Terra, apesar de ocorrerem com menos frequência no planeta conhecido por seus anéis.
Só que diferente das tempestades terrestres, as que ocorrem em Saturno costumam durar meses ao invés de horas, disse Ingersoll. As imagens iniciais foram tiradas de noite, mas dois anos depois, a Cassini registrou essa tempestade durante o dia de Saturno.
O clima estranho de Titã
Nos primeiros dias da Cassini, em 2006, um de seus instrumentos encontrou evidências de chuviscos de metano em Titã. Na época, não tínhamos muitas informações a respeito da superfície da Lua. Sabíamos, apenas, que a atmosfera local era 1,5 vezes mais forte que a da Terra e que era composta, principalmente, de nitrogênio, com pequenas quantidades de metano e hidrogênio.
A Cassini nos deu a primeira visão direta dos lagos de metano presentes nos polos da lua. E os instrumentos da sonda deram uma previsão do tempo nada agradável de Titã: 100% de chuviscos de metano durante todo o dia e temperaturas na casa de menos 184 graus Celsius.