A iminente separação daquele que é já esperado para ser um dos maiores icebergs já registrados na história tomou um rumo mais dramático, após uma fenda de 180 km na Antártica se dividir, de repente, em duas.
Cientistas já tem observado o desenvolvimento dessa fenda massiva na plataforma de gelo Larsen C, no noroeste da Antártica, por décadas. Mas desde o ano passado, essa rachadura se dividiu rapidamente em duas partes distintas, sendo que a segunda avançou 15 km desde o início desta semana.
“Enquanto que a antiga fenda não teve qualquer aumento, uma nova acabou sendo criada. Ela já está distante 10 km da anterior, e está a caminho da parte frontal do gelo”, disse o glaciólogo Adrian Luckman, da Universidade de Swansea, no Reino Unido.
Enquanto que essa nova fenda está indo de encontro ao Mar de Weddell, existe um trecho de apenas 20 km de extensão que está prevenindo que o gigantesco pedaço de gelo se solte da Antártica e se torne um iceberg.
Uma das maiores perdas de gelo da história
Se – ou melhor, quando – isso acontecer, esse pedaço se tornará a terceira maior perda de gelo antártico já registrado na história.
Para se ter ideia do tamanho desse novo iceberg, ele teria aproximadamente um terço da área do estado do Sergipe. Se comparado com outros locais, teria o mesmo tamanho do estado do Delaware, nos Estados Unidos.
“Essa é a primeira mudança significativa da fenda desde fevereiro deste ano. E apesar dela ter ficado estática nos últimos meses, ela está se alargando, em uma taxa que excede um metro por dia”, disse Luckman
Já a fenda principal, que parece ter diminuído o ritmo recentemente, aumentou em 10 km durante o mês de janeiro. Isso sem contar os 18 km que ganhou no mês anterior, em dezembro do ano passado.
Zona de sutura
Apesar de a rachadura ter aumentado em 60 km desde o ano passado, os pesquisadores acreditam que ela agora entrou uma região úmida e “lamacenta” de gelo chamada de zona de sutura.
Essa porção mais macia do gelo é uma das razões que podem ter diminuído o progresso da fenda. Mas ao mesmo tempo, ela provavelmente também contribuiu para que a rachadura tenha se dividido em duas partes.
“Como a fenda chegou a uma área que possui um gelo mais macio, que é difícil de dividir, todo o estresse foi transferido para outro lugar, o que pode ter criado a segunda rachadura. Ela está em um local no qual o gelo é mais vulnerável a quebra, e está justamente a 10 km da fenda original”, explicou Luckman.
Apesar de ainda não estar muito claro o que essa divisão repentina significa para o desenvolvimento da fenda e do próprio pedaço de gelo como um todo, muito estudiosos acreditam que é apenas uma questão de tempo até que o fenômeno crie um novo iceberg.
Quando isso acontecer, Luckman diz que os efeitos na parte restante da plataforma Larsen C podem ser dramáticos.
A perda de uma porção tão grande da plataforma de gelo pode enfraquecer a estabilidade do que sobrar da plataforma, o que pode causar um colapso completo da Larsen C, bem como o que aconteceu com a Larsen A e a Larsen B.
“Quando isso acontecer, a plataforma de gelo Larsen C irá perder mais de 10% de sua área, o que fará com que parte frontal fique na posição mais retrátil já registrada. Esse evento irá, fundamentalmente, mudar a paisagem da Península Antártica”, concluiu Luckman.
