Uma tempestade de críticas caiu em um artigo pioneiro de sequenciação do genoma, de Craig Venter, que afirma ser capaz de predizer os traços físicos das pessoas a partir de seu DNA. Os revisores e até mesmo um co-autor do artigo dizem que ele exagera a capacidade de usar os genes para identificar um indivíduo, algo que poderia gerar medos desnecessários sobre a privacidade genética.
No artigo, publicado nos Procedimentos da Academia Nacional de Ciências (PNAS), Venter e seus colegas de sua empresa Human Longevity, Inc. (HLI), com sede em San Diego, na Califórnia, sequenciaram todos os genomas de 1.061 pessoas de diferentes idades e origens étnicas.
Usando os dados genéticos, juntamente com fotografias 3D de alta qualidade dos rostos dos participantes, os pesquisadores usaram uma abordagem de inteligência artificial para encontrar pequenas diferenças nas sequências de DNA, chamadas SNPs, associadas a características faciais como a altura da maçã do rosto.
A equipe também procurou por SNPs que se correlacionavam com outros fatores relevantes na identificação de uma pessoa, incluindo a altura, o peso, a idade, as características vocais e a cor da pele dos indivíduos que participaram da pesquisa.
A abordagem identificou corretamente um indivíduo dentro de um grupo de dez pessoas selecionadas aleatoriamente do banco de dados da HLI em 74% do tempo. As conclusões, de acordo com o documento, sugerem que as agências de aplicação da lei, cientistas e outros grupos que manipulam genomas humanos devem proteger os dados cuidadosamente para evitar que as pessoas sejam identificadas pelo seu DNA.
“Uma crença central dos pesquisadores do HLI agora é a de que não existe mais como manter a noção de privacidade total em qualquer banco de dados [genéticos] de acesso público”, afirmou o HLI em um comunicado.
Mas outros geneticistas, depois de estudar a publicação, dizem que a reivindicação é muito exagerada. “Eu não acho que este artigo levanta esses riscos, porque eles não demonstraram habilidade para individualizar as pessoas pelo DNA”, disse Mark Shriver, um antropólogo da Pennsylvania State University no University Park.
Em um grupo selecionado aleatoriamente de dez pessoas – especialmente quando falamos de um grupo escolhido de um conjunto de dados tão pequeno e diversificado quanto o HLI – sabendo a idade, sexo e raça, é fácil descartar a maioria dos indivíduos, disse Shriver. Dessa forma, ainda estamos longe de um cenário onde o DNA poderia afetar a privacidade de alguém de forma tão direta.