Se já não bastasse a ameaça das radiações cósmicas e de possíveis falhas no equipamento, cientistas descobriram outro fator que pode ser um grande risco para astronautas que viajarem para Marte ou outros locais distantes um dia: os micróbios.
Os especialistas analisaram dados de um experimento de 17 meses, que simulava as condições dentro de uma nave em missão para Marte, chamado de Mars-500. E notaram que a presença de micróbios e micro-organismos poderia ser prejudicial para a saúde dos astronautas.
Os cientistas descreveram a ameaça como um “inimigo interior”, e afirmaram que é preciso garantir que esses micro-organismos não se transformem em risco para a vida dos astronautas.
A pesquisa
Uma equipe de pesquisadores da Alemanha, Áustria e da Universidade de Edimburgo, na Escócia, cultivaram colônias de micróbios a partir de amostras coletadas dos seis homens que participaram no projeto Mars-500.
A cada mês, eles coletaram amostras de ar e de sujeira de 20 diferentes locais da cápsula da Mars-500. Mais amostras foram recolhidas seis meses após o término do experimento.
Com os dados em mãos, os pesquisadores descobriram sinais muito fortes de vida microbiana em locais onde os homens se alimentavam, dormiam e gastavam seu tempo livre. As maiores concentrações de micro-organismos foram registradas nos banheiros e mesas da cápsula.
Em entrevista para o jornal The Guardian, Kevin Fong, da University College de Londres, que não esteve envolvido na pesquisa, disse que mesmo que esses micróbios não sejam exatamente perigosos na Terra, eles podem se tornar uma grande ameaça no espaço, e por um simples motivo:
“Qual quer coisa que você trouxer da Terra não será um grande problema se você conseguir chegar a hospital que está à meia hora de distância. Se você notar o quão extremo esse ambiente se torna, é preciso pensar sobre o que você pode trazer da Terra”, disse.
Uma pesquisa anterior já havia mostrado que os humanos no espaço estão mais suscetíveis a infecções. Tal ambiente também pode fazer com esses micro-organismos se propaguem mais rápido e se tornem mais resistentes a qualquer tipo de tratamento.
Segurança em viagens futuras
Com tal revelação, muitos especialistas já afirmam que se tornou essencial levar esse fator em conta na segurança de futuros astronautas que viajarem para Marte e outros planetas um dia.
Além disso, muitos dos micro-organismos que foram encontrados no experimento estão associados com os humanos, como os bacillus e os estafilococos, o que indica que os próprios seres humanos são os responsáveis por sua dispersão.
Petra Schwendner, uma das autoras do estudo, lembra que a presença desses micro-organismos também pode trazer outros problemas para a viagem: “em adição ao potencial risco de saúde da equipe, alguns desses micro-organismos podem ter um impacto negativo na nave, já que eles podem crescer e danificar alguns materiais”, disse.
Apesar das preocupações, Schwendner explicou que o número de colônias encontradas, no geral, ficou dentro do limite, e que o rigoroso regime de limpeza da Mars-500 tinha um grande feito na disseminação dos micro-organismos.
“Apesar de termos encontrado alguns lugares com grandes concentrações de micróbios, onde o número de bactérias era muito maior que em outras áreas, ficamos aliviados em ver que o número geral de bactérias estava dentro dos limites aceitáveis. Por conta de medidas apropriadas de limpeza, a comunidade microbiana no interior do habitat estava sob controle o tempo todo, com pouco ou nenhum risco para a equipe”, disse.