O medo pode ser tão antigo quanto a vida na Terra. É uma reação fundamental. Profundamente enraizada, que evoluiu através dos tempos para proteger os organismos vivos contra a ameaça percebida de sua integridade ou existência.
O medo pode ser tão simples como uma antena de caracol que se encolhe ao ser tocada. Ou tão complexo quanto a ansiedade existencial de um ser humano.
Independentemente se amamos ou odiamos sentir medo, é difícil negar que certamente o reverenciamos. Afinal, dedicamos um feriado inteiro à sua celebração, o Halloween.
Pensando nos circuitos do cérebro e na psicologia humana, alguns dos principais hormônios que contribuem para a resposta “lutar ou fugir” também estão envolvidos em outros estados emocionais positivos, como felicidades e emoções.
Dessa forma, faz sentido que o alto estado de excitação que experimentamos durante um susto também pode ser considerado positivo. Mas o que diferencia os sustos que te dão uma “ondinha” daqueles que te fazem sentir-se completamente aterrorizado?
Alguns psiquiatras da Universidade de Wayne State pesquisam a neurobiologia do medo. Eles publicaram recentes resultados de alguns de seus estudos. As pesquisas sugerem que um fator importante na forma como experimentamos o medo tem muito a ver com o contexto.
Ou seja, a parte “pensante” de nosso cérebro dá feedback ao nosso cérebro “emocional”. Nesse momento, percebemos que estamos em um espaço seguro. Então, conseguimos rapidamente mudar a maneira como experimentamos esse alto estado de excitação. Assim, passamos do estado de medo aterrorizante para um de prazer excitante.
Quando você entra em uma casa assombrada de um parque de diversões, por exemplo. Você já sabe que um monstro vai pular em você. Sabendo que ele não é realmente uma ameaça, você pode rapidamente modificar como enxerga a experiência.
Em contrapartida, se você estiver andando em um beco escuro durante a noite. Um estranho começa a te perseguir. Suas áreas emocionais e pensantes do cérebro concordariam que a situação é perigosa e é hora de fugir!
Por que algumas pessoas gostam de sentir medo?
O medo cria distração, o que pode ser uma experiência positiva. Quando algo assustador acontece, naquele momento, estamos em alerta e não estamos preocupados com outras coisas que podem estar em nossa mente (problemas no trabalho, se preocupar com um grande teste no dia seguinte). O medo nos leva e nos entrega ao “aqui e agora”.
Além disso, quando experimentamos essas coisas assustadoras acompanhados, muitas vezes as emoções podem ser contagiosas de forma positiva. Nós somos criaturas sociais, capazes de aprender um com o outro. Então, você olha para seu amigo na casa assombrada. Ele, rapidamente, parou de gritar e começou a rir escandalosamente. Socialmente, você é capaz de captar o estado emocional dele, o que pode influenciar positivamente o seu.
Embora cada um desses fatores – contexto, distração, aprendizagem social – tenha potencial para influenciar a forma como experimentamos o medo, um ponto comum que conecta todos eles é o nosso senso de controle. Quando somos capazes de reconhecer o que é e não é uma ameaça real, reclassificamos uma experiência e aproveitamos a adrenalina desse momento, estamos em uma posição onde nos sentimos no controle.
Essa percepção de controle é vital para a forma como experimentamos e respondemos ao medo. Quando superamos o efeito “lutar ou fugir”, muitas vezes ficamos satisfeitos, tranquilizados com a segurança e mais confiantes em nossa capacidade de enfrentar as coisas que inicialmente nos assustaram.
É importante ter em mente que todos são diferentes, com um sentido único do que achamos assustador ou agradável. Isso levanta mais uma pergunta: enquanto muitos podem desfrutar de um bom susto, por que outros podem detestá-lo?
Por que algumas pessoas NÃO gostam de sentir medo?
Qualquer desequilíbrio entre a excitação causada pelo medo no cérebro animal e a sensação de controle no cérebro humano contextual pode causar excitação demais ou não suficiente. Se o indivíduo percebe a experiência como “muito real”, uma resposta de medo extremo pode superar o senso de controle sobre a situação.
Isso pode acontecer mesmo naqueles que amam experiências assustadoras. Por exemplo, a mesma pessoa pode adorar os filmes do Freddy Krueger e sentir muito medo com “O Exorcista”. A pessoa pode achar o segundo filme “muito real” e a resposta do medo não é modulada pelo cérebro.
Por outro lado, se o fato não é gatilho o suficiente para o cérebro emocional ou se é irreal demais para o cérebro cognitivo, a experiência pode acabar sendo chata ou entediante. Por exemplo, um biólogo que não consegue sintonizar seu cérebro cognitivo ao assistir “The Walking Dead”. Se ele não se deixar levar e ficar analisando toda a impossibilidade física de um zumbi acontecer na vida real, provavelmente ele não vai se divertir assistindo à série.
Então, se o lado emocional do cérebro está muito aterrorizado e o cérebro cognitivo desamparado ou se o cérebro emocional está entediado e o cérebro cognitivo é muito supressor, filmes assustadores e experiências de medo podem não ser tão divertidos.