O câncer, por mais que seja uma doença que acreditamos ter um bom conhecimento, pode nos surpreender a cada dia. E a mais nova descoberta do assunto deve chocar até quem não liga muito para a área de saúde: cientistas descobram um estômago, duodeno e intestino em miniatura em células cancerígenas removidas do pulmão.
O estudo foi publicado no jornal Developmental Cell, e mostra como as células cancerígenas podem se modificar com o tempo. “As células cancerígenas fazem o que for preciso para sobreviver. Com a quimioterapia, as células do pulmão desligaram alguns reguladores chave e adquiriram as características de outras células para conseguir uma maior resistência”, afirmou Purushothama Rao Tata, principal autor da pesquisa.
Tata, que dedicou boa parte de sua carreira profissional estudando essas mudanças nas células cancerígenas, e sua equipe notaram que as células que desenvolveram esses órgãos em miniatura perderam um gene chamado de NKX2-1, que funciona como uma espécie de comando master. Sem ela, o tumor pode seguir o patamar de um vizinho de desenvolvimento.
A equipe pegou dados de um enorme banco de dados dos EUA, com amostras de 33 tipos distintos de câncer, e notou que muitas células cancerígenas do pulmão não tinham o gene NKX2-1. Sem ele, o tumor acabou desenvolvendo tratos do sistema digestivo, que pertece às mesmas celulas progenitoras do sistema respiratório, justamente por conta desse patamar de seguir o seu “vizinho.”
Tata e os seus colegas fizeram o experimento em tecidos do pulmão de ratos, e isolaram o NKX2-1. E foi aí que notaram a presença de características comuns ao sistema digestivo, como tecidos gástricos. Elas ainda produziram enzimas digestivas, como se estivessem dentro de um estômago.
Os pesquisadores tiveram ainda mais certeza dos resultados após realizarem o oposto e ativar nas células os oncogenes (os genes relacionados com o surgimento de tumores) SOX2 e KRAS, e notarem este mesmo desenvolvimento de características digestivas.
“Especialistas sempre suspeitaram que as células cancerígenas poderiam se modificar para evitar a quimioterapia e adquirir resistência, mas não sabiam os mecanismos por trás disso. Agora que sabemos com o que estamos lidando, podemos pensar nos caminhos que essas células seguem e criar terapias para bloqueá-los”, finalizou Tata.