Cientistas descreveram pela primeira vez uma espécie de formigas que utiliza uma técnica inusitada para defender suas colônias de ataques inimigos: elas explodem, espalhando um líquido tóxico e pegajoso acumulado em suas glândulas, para matar ou afastar os invasores.
Bem conhecidas pelos habitantes das florestas tropicais do sudeste da Ásia, as “formigas explosivas” ainda não haviam sido descritas formalmente pela ciência. Até agora, os pesquisadores se referiam a elas apenas como membros de um grupo do gênero Colobopsis.
Na nova pesquisa, um grupo de cientistas da Áustria, da Tailândia e do Brunei identificou em Bornéo, na Indonésia, pelo menos 15 novas espécies de “formigas explosivas” e fez a descrição científica de uma delas em um artigo científico publicado na revista científica Zookeys.
A nova espécie, batizada de Colobopsis explodens, foi escolhida como “espécie modelo” para o grupo de formigas que têm o mesmo comportamento. De acordo com os cientistas, isso significa que a formiga servirá como um importante ponto de referência para estudos futuros sobre outras formigas explosivas.
Segundo os autores do novo estudo, a Colobopsis explodens foi escolhida como espécie modelo porque elas são “particularmente propensas a se auto-sacrificar quando ameaçadas por artrópodes inimigos, assim como por pesquisadores intrometidos.”
Os cientistas afirmam que já estão sendo preparadas diversas publicações sobre o comportamento, o perfil químico, a micriobiologia, a anatomia e a evolução das espécies de formigas que têm esse “comportamento explosivo” – e várias novas espécies devem ser descritas em breve.
O novo estudo descreve em detalhes os sistemas defensivos da Colobopsis explodens. Há duas castas distintas de operárias. As operárias menores são as únicas que têm a capacidade de “explodir”.
Já as operárias maiores – também chamadas de “porteiras” -, têm grandes cabeças achatadas na frente, que são utilizadas para bloquear fisicamente as entradas do formigueiro, impedindo a entrada de invasores.
Quando o formigueiro é atacado, ou o grupo de formigas é ameaçado por outros insetos, as operárias menores podem romper ativamente sua parede corporal. A explosão causa a morte da formiga, mas ejeta também um líquido pegajoso e tóxico que fica armazenado em suas glândulas, matando ou afastando o inimigo.
Um século de indefinição
As formigas com “comportamento explosivo” foram mencionadas pela primeira vez na literatura científica em 1916, mas nenhuma nova espécie havia sido descrita formalmente a partir de 1935, por conta da falta de evidências. Os cientistas se referiam a elas então como um membro de um grupo de espécies relacionadas à Colobopsis cylindrica.
Durante uma expedição para coleta de amostras em Brunei, em 2015, dois dos autores do novo estudo, Alexey Kopchinskiy e Alice Laciny, observaram a Colobopsis explodens em várias situações – até mesmo o voo de acasalamento de rainhas e machos. A dupla coletou a primeira amostra já obtida de machos dessas formigas.
Embora tenham um papel dominante nas florestas tropicais, as formigas que explodem ainda têm sua biologia muito pouco conhecida. A observação e os experimentos feitos com a nova espécie, segundo os autores do estudo, prepararam o terreno para futuras pesquisas que descobrirão mais detalhes sobre esses insetos.
Participaram do estudo cientistas do Museu de História Natural de Viena, da Universidade Técnica de Viena, da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida de Viena – todas instituições da Áustria – e da Universidade Darussalam de Brunei.