A ideia de alguém vasculhando seu histórico, ou melhor, seu rastro na internet já é um motivo de preocupação para a maioria das pessoas, Hillary Clinton que o diga, com seus mais de 30 mil emails vazados pela organização WikiLeaks. Mas o rastro do qual estamos falando é outro, pois se trata da sujeira que você deixa para trás em seu smartphone. De acordo com um novo estudo, ele também pode revelar muitas informações sobre você.
Os cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, podem construir um esboço do estilo de vida do proprietário do telefone, que é capaz de mostrar informações sobre sua dieta, estado de saúde, locais visitados e até mesmo produtos de higiene preferidos pelo usuário.
Os pesquisadores dizem que existem uma série de possíveis usos para essa análise, desde perfis criminais e forenses até estudos de saúde que monitoram a exposição de uma pessoa a toxinas ou adesão a um regime de medicamentos.
A análise, descrita pela revista científica da “Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos”, pode não ser capaz de identificar indivíduos através de testes de DNA ou impressões digitais (embora estes também poderiam ser deixados em um telefone), mas a sujeira em seu smartphone pode revelar uma imagem bastante completa de suas atividades do dia-a-dia, afirmam os pesquisadores.
Segundo Pieter Dorrestein, professor de farmacologia da Faculdade de Medicina de UC San Diego e lider o estudo, todos os traços químicos de nossos corpos podem ser transferidos para objetos. Sendo assim, os pesquisadores perceberam que poderiam criar um perfil do estilo de vida de uma pessoa, se baseado apenas nestes traços químicos que são deixados nos objetos que elas mais usam freqüentemente. E qual melhor objeto para se analisar do que o smartphone?
Coletando Dados
Para o estudo, a equipe de Dorrestein analisou traços químicos deixados nos telefones de 39 voluntários. Os pesquisadores coletaram “dados” em quatro partes de cada telefone, assim como oito regiões da mão direita de cada participante do estudo. Os cientistas então conduziram uma técnica chamada “espectrometria de massa” em cada uma das amostras, afim de determinar os tipos de moléculas presentes no objeto.
Uma vez que as amostras foram analisadas, os pesquisadores compararam o que encontraram com uma enorme base de dados de moléculas de vários produtos e medicamentos comercializados. Os resultados mostraram vestígios de medicamentos como remédios para perda de cabelo, antidepressivos, cremes anti-fungos para a pele e anti-inflamatórios. Já na parte de ingredientes alimentares, foi encontrado vestígios de ervas, temperos e cafeína. O mais incrível, é que até mesmo cremes de proteção solar e repelentes de mosquito usados pelo proprietário do telefone meses antes do estudo, foram encontrados pelos pesquisadores.
Amina Bouslimani, cientista assistente do projeto no laboratório de Dorrestein, diz que os pesquisadores poderiam até mesmo dizer se uma pessoa é mais susceptível a ser uma mulher, apenas analisando resíduos cosméticos como tinta de cabelo e etc… Os vestígios são bem abrangentes e podem revelar gostos pessoas como: café, se prefere cerveja ou vinho, se gosta de comida picante, se está em tratamento para depressão, se passa muito tempo ao ar livre, além é claro, de outros hábitos ( ͡° ͜ʖ ͡°).
Embora a técnica esteja nos estágios iniciais do desenvolvimento, é razoavelmente exata e “pode ser usada na investigação criminal como um método auxiliar para filtrar uma busca a um grupo menor de prováveis culpados.
Essa técnica pode se tornar mais poderosa à medida que mais moléculas são adicionadas ao banco de dados de referência, que o grupo de Dorrestein desenvolveu e expandiu via crowdsourcing. Os pesquisadores estão interessados nas moléculas dos alimentos mais comuns, materiais de vestuário, tapetes, tintas de parede e qualquer outra coisa com que as pessoas entram em contato.
Dorrestein diz que poderia analisar os micro-organismos intestinais de uma pessoa, o que poderia revelar o estado de saúde das pessoas a partir de vestígios de matéria fecal que poderia estar no telefone, embora, ele não tenha detectado nada em seu estudo. Dorrestein também tem trabalhado com outros cientistas no projeto American Gut para entender melhor as moléculas e os micróbios no intestino humano, para servir como outra base de dados de referência.