Brasil e África não são próximos apenas culturalmente. No passado, quando o mundo estava coberto de gelo, nosso país e o continente africano estavam ainda mais ligados, por meio do que os pesquisadores estão chamando de uma verdadeira rodovia expressa onde blocos de gelo deslizavam em alta velocidade de lá para cá e a descoberta dessa ligação do passado pode nos fornecer informações sobre o futuro.
Enquanto estudavam rochas vulcânicas no deserto da Namíbia, cientistas da Universidade da Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, descobriram a existência de colinas íngremes e alongadas, denominadas drumlins. Essas formações foram a primeira evidência da ponte de gelo entre os continentes. Incomuns em regiões desérticas, as colinas desse tipo específico passaram a ser estudadas e foram descobertos sulcos nas rochas que foram feitos pela passagem de grandes blocos de gelo através delas.
De acordo com os novos estudos, os enormes blocos de gelo deslizavam sobre as rochas por centenas de quilômetros e vinham do continente africano até a placa continental onde hoje está localizado o Brasil. Vale lembrar que nessa época, cerca de 300 milhões de anos atrás, as duas bordas do oceano Atlântico eram muito mais próximas e formavam um único supercontinente, denominado Pangeia.
Passado e futuro
A descoberta da ponte de gelo ligando Brasil e África valida pesquisas mais antigas, como uma realizada na bacia do rio Paraná. Segundo o estudo, o rio brasileiro conteria rastros de sedimentos cuja origem pode ser traçada até a região sul da África, mais ou menos onde as duas regiões eram ligadas quando eram uma só massa de terra.
Entender como esse fenômeno ocorria na Era Paleozoica também pode ajudar na compreensão de eventos similares que muito possivelmente vão acontecer no futuro. “Essas super-rodovias de gelo são, na verdade, a forma como as coberturas de gelo desaparecem”, explica o geólogo Graham Andrews, da Universidade da Virgínia Ocidental, em clara referência ao derretimento das calotas polares devido ao aquecimento global.