Foi Andien Aisyah, uma famosa cantora da Indonésia, quem deu início à nova polêmica da internet. Através de sua conta do Instagram, ela revelou que dorme com a boca tapada de fita adesiva – uma técnica chamada buteyko. Seu marido e seu filho de apenas dois anos também se utilizam do hábito inusitado.
Buteyko é um método que consiste em encontrar formas de respirar melhor pelo nariz – por isso, obriga-se a boca a se manter fechada durante o sono. Criada há 70 anos, a tendência está gerando um grande debate entre os médicos e muitos deles acreditam que ela pode ser bastante perigosa.
A artista, que conta com 1,6 milhão de seguidores na rede social, revelou aos seus fãs que adotou o buteyko há cerca de 3 meses. Ela listou alguns benefícios que sentiu: passou a dormir melhor, nunca mais teve garganta seca e diminuiu o seu mau hálito.
Uma reportagem da BBC revela que a técnica foi desenvolvida em 1950 pelo médico soviético que batizou sua criação, Konstantin Pavlovich Buteyko. O especialista acreditava que as condições respiratórias, sobretudo a asma, poderiam estar ligadas à forma como respiramos e, portanto, se os pacientes aprendessem a respirar de forma correta – pelo nariz – os problemas desapareceriam.
Quase sete décadas mais tarde, a terapia continua a ser popular e tem praticantes em todo o mundo, que alegam que o buteyko combate uma série de doenças. Entre elas, estão o diabetes, a fadiga crônica, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e a depressão.
A condição com a qual o buteyko é mais associada, no entanto, é a apneia do sono. Patrick McKeown, fundador da ‘Clínica Internacional de Buteyko’, na Irlanda, diz que “a respiração oral é um grande fator para a apneia obstrutiva do sono”, porque pode empurrar a língua para trás e obstruir as vias aéreas. Tapar a boca com fita, afirma, pode impedir que isso aconteça.
Os perigos do buteyko
Grande parte da comunidade médica discorda de tudo isso e alerta para os perigos do método. “Entendo que seja preferível respirar pelo nariz, mas a maioria das pessoas não abre a boca a não ser que esteja com dificuldade de respirar pelo nariz”, diz a otorrinolaringologista Kathleen Yaremchuk, especialista do sono.
Nirmal Kumar, otorrinolaringologista e presidente da organização médica britânica ‘Ear, Nose and Throat UK’, que reúne médicos desta especialidade, também concorda e diz que “não há evidências convincentes na literatura médica que apoiem este tratamento”.
Além do fato de tapar a boca com fita adesiva ser pouco eficaz, ambos avisam que pode ser também perigoso, já que há a possibilidade de vômito noturno. Nesse caso, poderia levar qualquer um a morrer engasgado. “Se estiver doente e tiver que vomitar, não vai ser capaz de o fazer”, alerta Yaremchuk.
O próprio McKeown, apesar de ser defensor do método, diz ser totalmente contra o uso da fita quando se trata de crianças pequenas. O fundador da clínica diz ter visto a fotografia de Andien na rede social e diz que isso “não é de forma alguma recomendado, porque existe um perigo significativo de a criança morrer durante o sono”.
“Com crianças pequenas, o uso da fita pode ocorrer talvez a partir dos cinco anos de idade, mas não a colocamos diretamente sobre os lábios”, explica. Numa emergência, a maioria dos adultos provavelmente acorda e consegue arrancar a fita, algo que as crianças não conseguiriam fazer com tanta facilidade.