A Cambridge Analytica, empresa de dados que trabalhou para a campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2016, está encerrando suas atividades em decorrência do escândalo envolvendo mau uso de dados do Facebook.
Segundo fontes, a companhia decidiu fechar as portas porque estava perdendo clientes e enfrentando custos legais crescentes na investigação relacionada ao Facebook. O encerramento das atividades ocorreu nesta quarta-feira (2). Nigel Oakes, fundador do SCL Group, a afiliada britânica da Cambridge Analytica, confirmou que ambas as empresas estavam fechando.
Em março, a empresa suspendeu seu CEO, Alexander Nix, e afirmou que estava lançando uma investigação independente para determinar se a companhia havia se envolvido em algum malfeito nos seus trabalhos em campanhas políticas. Na ocasião, foi divulgado um vídeo que mostra Nix falando sobre táticas de campanha como armadilhas para adversários políticos envolvendo propinas e sexo. A suspensão de Nix também veio após relatos de que a empresa usou impropriamente os dados de milhões de perfis do Facebook sem autorização.
Facebook e Cambridge Analytica – Entenda o caso
Reportagens dos jornais The New York Times e The Observer, de Londres, revelaram que a empresa de inteligência Cambridge Analytica colheu informações privadas de mais de 50 milhões de usuários do Facebook, em um esforço para beneficiar a campanha eleitoral do presidente americano, Donald Trump, em 2016.
A empresa britânica de inteligência digital coleta e relaciona dados para ações de marketing digital feitas por companhias e políticos. No caso em questão, ela usou o método para desenvolver ações para influenciar o cenário político americano e favorecer Trump.
Atingir o objetivo só foi possível graças a uma parceria com outra empresa, a também britânica Global Science Research, liderada por Aleksandr Kogan, pesquisador da Universidade de Cambridge. Ele criou um quiz online, chamado This is your digital life (Esta é sua vida digital), que exigia que as pessoas conectassem sua conta do Facebook para ser acessado. Isso permitiu que o quiz de Kogan obtivesse informações pessoais dos usuários da rede social e de seus amigos.
Os dados obtidos por meio do teste foram vendidos pela Global Science à Cambridge Analytica, numa clara violação aos termos de uso do Facebook. Isso permitiu que a empresa de inteligência cruzasse dados com outras fontes e chegasse a um perfil preciso das pessoas, usado para enviar mensagens direcionadas – incluindo notícias falsas – para influenciar votos.
Brasileiros afetados
O Facebook divulgou que dados de 443.117 usuários brasileiros “podem ter sido compartilhados indevidamente” com a consultoria Cambridge Analytica. O país ficou entre os 10 principais territórios que foram afetados pela questão – os EUA lideram com 70 milhões de usuários. Ao todo, dados de pelo menos 87 milhões de usuários da rede social podem ter sido obtidos pela consultoria, a partir de um quiz feito pelo pesquisador Aleksandr Kogan.
A informação surgiu em uma atualização do post feito por Mike Schroepfer, diretor de tecnologia do Facebook, sobre as mudanças promovidas pela rede social em seus termos de uso e política de privacidade.
É a primeira vez que o Facebook revela quais foram os países mais afetados pelo uso indevido de aplicativos para a obtenção de dados pessoais pela consultoria. Territórios como Filipinas, Indonésia e Reino Unido, por sua vez, tiveram informações de mais de 1 milhão de contas varridas.