Quando pensamos em campos de concentração, pensamos na Segunda Guerra Mundial e na Alemanha Nazista. Mas esses campos já existiram no Brasil antes de tudo isso.
Eles foram criados principalmente no Nordeste brasileiro, quando a seca foi tão impiedosa que gerou um verdadeiro caos em forma de êxodo rural e superpopulação das capitais. E não foi nada melhor do que o exemplo europeu.
Em 1877, o sertão nordestino conheceu aquela que ficou conhecida como a Grande Seca, que matou cerca de meio milhão de pessoas. Apavoradas com as condições precárias das áreas rurais, cerca de 100 mil sobreviventes migraram para a cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, causando um impacto inesperado.
A seca, mesmo de forma intermitente, virou o século e em 1915, outra grande leva de sertanejos foi tentar a vida em Fortaleza – e foi aí que o caos foi instaurado. A pobreza extrema causou uma onda de roubos, violência, assassinatos, suicídios e até episódios de canibalismo foram registrados.
Como solução, o governador Benjamin Liberato Barroso mandou erguer aquele que ficou conhecido como o primeiro “curral do governo”, o campo de Alagadiço.
Ali, cerca de 8 mil pessoas foram amontoadas em um espaço de 500 metros quadrados, onde viviam em casas de zinco e trabalhavam sob a supervisão de truculentos soldados da polícia. Comida e água eram escassos e as condições de trabalho e moradia eram sub-humanas.
O pior ainda estava por vir
O campo de Alagadiço foi desativado no final do ano, mas no início dos anos 30, durante uma nova seca, outros sete campos de concentração foram construídos, todos próximos a linhas férreas, com o objetivo de impedir os retirantes de chegarem à capital. As condições eram ainda piores.
Os prisioneiros recebiam sacos para usar como roupas e tinham seus cabelos raspados. Morriam aproximadamente 150 pessoas por dia e os corpos eram jogados na proximidade das linhas de trem. Ao todo, cerca de 90 mil pessoas passaram por esses campos de concentração.
Foi a partir daí que os nordestinos iniciaram seu êxodo. Os destinos mais comuns eram a Amazônia, onde trabalhavam como seringueiros, São Paulo, Rio de Janeiro e o Centro-Oeste do país, onde sua influência pode ser vista até os dias de hoje.