A ciência descobriu por que crianças nunca cansam: resistência de atleta

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Uma descoberta feita por um grupo internacional de cientistas explica a razão de as crianças serem capazes de gastar energia o dia todo sem ficarem cansadas. De acordo com a pesquisa, elas têm um preparo físico comparável ao de atletas de alta performance de modalidades de resistência.

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O estudo feito com crianças de 8 a 12 anos mostra que elas não apenas têm músculos mais resistentes à fadiga do que os adultos que não são atletas, mas também se recuperam muito rápido quando fazem exercícios de alta intensidade.

Um exemplo disso é Rafael Tambellini tem 9 anos, mas já é experiente no taekwondo, modalidade que pratica desde 2013. São dez aulas por mês, alternadas com treinos de natação. “Não canso muito. Quando o treino é muito puxado, eu fico ofegante e dou uma parada para respirar. Mas logo depois já volto a treinar”, diz.

O garoto conta que não costuma sentir dores ou exaustão nos músculos após os treinos, ainda que eles sejam realizados logo após as aulas de natação. “Nunca senti dor, só um pouco de cansaço mesmo”, afirma ele, que achou “incrível” a conclusão dos cientistas. “Já vi mesmo os adultos ficarem bem cansados.”

Os resultados foram publicados nesta terça-feira, 24, na revista científica Frontiers in Physiology. De acordo com os autores do artigo, as crianças que participaram do experimento mostraram desempenho semelhante ao de atletas de resistência em vários aspectos, mas tiveram recuperação muscular mais rápida que a deles.

O professor de taekwondo de Rafael, na academia Competition, na zona central de São Paulo, é o próprio padrasto do garoto, Luís Cinquini de Souza, de 37 anos. Segundo Souza, que dá aulas da modalidade desde os 14 anos, é comum ver garotos irem jogar futebol depois de uma aula mais puxada. “Depois de um treino de alta intensidade, os adultos querem apenas um chuveiro e descanso. Mas os garotos saem daqui e vão jogar bola”, conta.

O taekwondo é preciso ter resistência, força e agilidade, além da técnica. A diferença entre a resistência de crianças e adultos é enorme, segundo Souza.

Também é fácil notar a discrepância nas aulas. “Depois de um exercício de resistência anaeróbica – quando propomos uma atividade muito forte por cinco minutos -, os adultos vão tomar água ofegantes e as crianças vão brincando. Em seguida, os adultos vão fazer uma pausa e os garotos eventualmente pedem mais treino”, diz o professor.

Limitações

O artigo mostra também que, em todos os testes realizados, as crianças tiveram desempenho melhor que os adultos não treinados, embora elas tivessem, a princípio, muito mais limitações que eles.

“Em várias tarefas físicas, as crianças podem cansar antes dos adultos porque elas têm capacidade cardiovascular mais limitada, uma tendência a adotar padrões de movimentos menos eficientes e precisarem dar mais passos para percorrer uma determinada distância”, disse um dos autores do estudo, Sébastien Ratel, da Universidade Clermont Auvergne (França).

“Mas nosso estudo mostra que as crianças superam todas essas limitações com o desenvolvimento de músculos mais resistentes à fadiga e capacidade para se recuperar muito rapidamente dos exercícios de alta intensidade”, explicou Ratel.

Estudos anteriores já mostravam que as crianças não se cansam tão rápido como adultos sem treinamento durante as atividades físicas. Os autores do novo trabalho sugeriam que os perfis energéticos das crianças poderiam ser comparáveis aos dos atletas de provas de resistência, mas não havia nenhuma prova científica disso até agora.

Ciclismo

Para realizar a pesquisa, os cientistas submeteram à realização de exercícios ciclísticos três grupos diferentes: meninos de 8 a 12 anos, adultos sem treinamento e adultos que participam de provas de resistência no ciclismo. O cientistas afirma que mais estudos serão realizados para determinar se as transformações estão diretamente ligadas ao risco de doenças.

Nem as crianças nem os adultos sem treinamentos participavam de atividades físicas de impacto regularmente. Já o o grupo dos atletas de resistência era formado por competidores de provas de triatlo de nível internacional, ou de velocistas e ciclistas que se dedicam a provas de longa distância.

Cada grupo foi avaliado levando em conta as duas maneiras pelas quais o corpo produz energia: a via aeróbica – que utiliza o oxigênio do sangue – e a via aneróbica, que não utiliza oxigênio e produz acidose induzida pelo lactato (amplamente conhecida pelo termo incorreto de ácido lático), levando à fadiga muscular.

Metabolismo aeróbico das crianças

Para avaliar a rapidez da recuperação dos participantes, após os exercícios ciclísticos, os cientistas verificaram suas taxas cardíacas, os níveis de oxigênio e as taxas de remoção de lactato. Em todos os testes as crianças se saíram melhor que os adultos sem treinamento.

“Descobrimos que as crianças utilizam mais o seu metabolismo aeróbico e, por isso, ficam menos cansadas durante as atividades físicas de alta intensidade. Eles também se recuperaram muito rapidamente – mais rápido até que os ateltas de resistência adultos e bem treinados – como foi demonstrado por sua recuperação mais rápida da taxa cardíaca e sua capacidade para remoer o lactato do sangue”, disse Ratel.

“Esse processo metabólico pode explicar por que as crianças parecem ter capacidade para brincar, brincar e brincar por muito tempo depois que os adultos já ficaram cansados”, disse outro dos autores do estudo, Anthony Blazevich, da Universidade Edith Cowan (Austrália).

Segundo Blazevich, o estudo pode dar uma resposta aos pais que querem descobrir a melhor maneira para desenvolver o potencial atlético dos filhos.

“Nosso estudo mostra que a resistência muscular já é muito boa nas crianças, então seria melhor focar em outras áreas do condicionamento físico, como a técnica esportiva, a velocidade de arranque e a força muscular. Isso pode ajudar a otimizar o treinamento físico das crianças, de forma que elas tenham um desempenho melhor e que gostem do esporte”, disse.

Doenças

Segundo Ratel, com o aumento atual das doenças relacionadas à inatividade física, é útil compreender as mudanças fisiológicas provocadas pelo crescimento, que podem contribuir para os riscos de doenças.

“Nossa pesquisa indica que o metabolismo aeróbico, pelo menos em nível muscular, é consideravelmente reduzido quando a criança se torna adulta. E é exatamente nessa transição que vemos um aumento da ocorrência de doenças como diabetes”, afirmou Ratel.

O cientista afirma que mais estudos serão realizados para determinar se as transformações musculares observadas entre a infância e a idade adulta estão diretamente ligadas ao risco de doenças.

“Por enquanto, ao menos, nossos resultados podem fornecer motivação para que os praticantes de esportes mantenham o condicionamento muscular à medida que crescem. Parece que ser criança é algo muito saudável”, declarou Ratel.



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