Normalmente, os filmes de zumbis podem terminar de duas formas, uma onde existe uma cura milagrosa no final, e outra, onde todos estão condenados a um futuro inserto, como no excelente filme Madrugada dos Mortos de 2004. Mas o que aconteceria se uma nova doença começasse a transformar as pessoas ou os mortos em zumbis, como poderíamos realmente parar isso? Responder a esse tipo de pergunta pode nos dizer muito como poderíamos lidar com uma verdadeira “epidemia zumbi”.
Mesmo que ainda não exista algo parecido com uma epidemia zumbi, os epidemiologistas (cientistas que estudam epidemias), tem de responder perguntas como estas, cada vez que um novo tipo de doença contagiosa aparece. Eles precisam saber o quão susceptível ela é em se espalhar através da população e, o mais importante, a melhor forma de conte-la.
Imagine, se uma nova “doença zumbi” aparecesse e se espalhasse através da saliva infectada de um zumbi que mordeu uma ou várias pessoas. Este tipo de propagação, que normalmente, precisa de contato direto, seria um método bastante ineficiente para a transmissão da doença em comparação com infecções transmitidas pelo ar, que podem ser espalhados muito mais facilmente.
Um “vírus zumbi” é interessante porque, assim como a raiva, os seus sintomas poderiam alterar o comportamento do indivíduo infectado, o fazendo sentir ansiedade, agitação, paranoia e terror. Então zumbis poderiam ativamente tentar morder ou comer suas vítimas, assim espalhando mais rápido a doença.
Encontrar a fonte
A fonte original de uma epidemia zumbi, raramente, é uma preocupação nos filmes desse temática. Enquanto que na vida real, epidemiologistas gastam muito tempo usando análises e modelos, traçando um caminho de volta ao primeiro caso da doença. Por exemplo, se um agente biológico fosse liberado na atmosfera ou contaminasse alimentos que depois fossem consumidos em um grande evento social, isso poderia gerar um grande número de indivíduos infectados de uma só vez. Já um acidente de laboratório, por outro lado, poderia inicialmente afetar um número, relativamente, pequeno de indivíduos dentro de uma área ou região. Estes parâmetros, assim como o modo de transmissão, afetam a disseminação da doença.
Compreendendo o método de transmissão, podemos considerar o quão rápido a doença pode se mover através da população. Para qualquer tipo de epidemia, os epidemiologistas tentam calcular uma escala de reprodução básica que descreve o número médio de casos que um indivíduo infectado pode gerar. Este número, muitas vezes chamado de “R₀”, descreve quão grave um surto é. Um surto com um R₀ inferior a 1, eventualmente, levara a morte, mas um surto maior do que 1, pode se espalhar através da população.
A principal consideração em um modelo de epidemiologia zumbi, é quantas pessoas um zumbi pode morder antes dele ficar sem vítimas ou ser “morto”. Existem muitas outras variáveis, como a densidade populacional e a capacidade das pessoas em “matar” zumbis. Os zumbis podem ser lerdos como nos tradicionais filmes, ou talvez rápidos, como nos filmes mais recentes.
A densidade populacional é uma das considerações mais importantes. Uma área densamente povoada, oferece muitas oportunidades para qualquer zumbi se alimentar, e os casos de infectados podem aumentar rapidamente. Mas se eles forem isolados, isso afetaria a progressão da epidemia.
Baseado no estudo epidemiológico, existem algumas estratégias de resposta para uma epidemia zumbi. A estratégia óbvia: colocar em quarentena os indivíduos infectados, com a esperança de desenvolver uma cura ou vacina. Mas como o processo de desenvolvimento de uma cura é longo e árduo, manter pessoas infectadas sob uma quarentena é muito perigoso.
Uma estratégia muitas vezes usada na ficção, é, essencialmente, isolar aqueles que são saudáveis daqueles que estão infectados, como visto no inicio da série Fear The Walking Dead. Essa estrategia é tipicamente empregada quando os indivíduos infectados estão superando em número os indivíduos saudáveis. Esta proteção pode ser vista como uma espécie de imunização, mas o sucesso depende da capacidade permanente das pessoas saudáveis permanecerem separadas das pessoas infectadas. Uma vez que as hordas de infectadas consigam violar a zona protegida, os zumbis tem um ambiente perfeito para atacar e espalhar rapidamente a doença.
Soluções extremas
Sem uma opção de tratamento, um abate seletivo, na tentativa de eliminar os indivíduos infectados na população, é uma opção tentadora. Mas isso sofre dos mesmos problemas da quarentena. Pois exige uma remoção eficiente dos infectados, por meio de um processo de triagem diagnostica, de modo que os primeiros casos com menos sintomas possam ser detectados.
Isso também abre portas para a mais assustadora das opções: erradicar a área infectada com um abate preventivo, com pouca ou nenhuma preocupação com quem, ou o quê, é destruído no processo. Com um alto número de baixas, mas com um final garantido para a infecção, esta é muitas vezes a escolha dos lideres em muitas histórias de zumbis na ficção. Supondo que você poderia erradicar com sucesso todos os indivíduos infectados, isso pode parecer a melhor opção. Mas questões morais sobre indivíduos não infectados podem pesar durante essa escolha. Mas vale lembrar que situações desesperadas, pedem medidas desesperadas. Afinal, é um apocalipse zumbi, esperar algo moral vindo de alguém que precisará tomar medidas desesperadas, pode não ser uma boa ideia.
Doenças reais raramente são tão devastadoras como as apresentadas em filmes de zumbis, que normalmente têm uma taxa de transmissão de 100% e vêm com uma quase completa falta de imunidade, recuperação ou tratamento. Acredite ou não, mas explorar as pandemias de zumbis fictícios pode gerar discussão sobre a transmissão, prevenção e tratamento de doenças infecciosas.