É comum no Brasil se chamar qualquer médico ou advogado de doutor, mesmo que esses profissionais não tenham cursado doutorado. Mas por que isso acontece?
A explicação é realmente uma tradição muito antiga, que acabou chegando aos tempos atuais. Só que isso tem sido cada vez mais questionado, tanto por doutores de outras áreas, como também pelos próprios médicos e advogados.
A polêmica começa na etimologia da palavra. No original, em latim, “doctor” tem uma conotação muito próxima de “professor”, significando alguém que possui um conhecimento suficiente para ensinar outras pessoas.
Ou seja, até a Idade Média, aproximadamente, qualquer professor era chamado de doutor, principalmente dentro da Igreja Católica, já que eram de lá os maiores doutores da época.
A história começa a mudar quando surgem as primeiras universidades e seus título de PhD, ou Philosophae Doctor.
Esse título era dado ao mais alto grau teórico de uma profissão ou área do conhecimento, sem ter muita relação com o que entendemos hoje por filosofia. Ou seja, um PhD é um pesquisador, um acadêmico de determinada área.
Foi desse título de PhD que surgiram os doutores modernos, aqueles que apresentam ou refutam uma tese de doutorado, ou seja, produzem um novo conhecimento na área em que atuam.
Mas no Brasil, as coisas pegaram um caminho um pouco diferente.
No Brasil
Por aqui, o título de doutor para médicos e advogados que não possuem doutorado é uma herança direta do século XIX.
Nas universidades brasileiras, os cursos de direito e medicina são graduações, não doutorados, mas como muitos ricos naquela época mandavam seus filhos para estudar no exterior, eles voltavam como PhDs, ou seja, doutores.
Existe até um decreto imperial, assinado por D. Pedro I em 1827, que autorizava o uso do título de doutor para pessoas formadas em ciências jurídicas ou sociais, mas pela herança elitista, muitos desses profissionais hoje rejeitam o título.
Por outro lado, os que cursam doutorado, também costumam desaprovar que um graduado, em qualquer área, seja chamado de doutor.