Entenda as possíveis consequências do novo teste de míssil da Coreia do Norte

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Nesta terça-feira (4), a Coreia do Norte conduziu aquele que já é considerado o mais importante e significativo teste com um míssil balístico capaz de viajar a distâncias intercontinentais, segundo informações da TV estatal do país. Por mais que tal informação possa ser questionada, o fato ocorrido se tornou motivo de preocupação entre Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos.

Entenda abaixo o que esse novo teste norte coreano pode significar para o planeta:

O que a Coreia do Norte reivindica e por que o teste foi significativo?

O regime disse nesta terça-feira (4) que conduziu seu primeiro teste com um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês), e que ele foi um sucesso. Ele seria capaz de chegar a qualquer lugar do mundo, disse a TV estatal do país.

Apesar de qualquer informação vinda de Pyongyang precisar sempre ser verificada, oficiais em Saul e Washington ficaram preocupados com o teste, que mostra mais evidências de que a Coreia do Norte está cada vez mais próxima do objetivo de ter um míssil nuclear que pode chegar ao território americano.

Uma eventualidade desse tipo pode mudar a dinâmica diplomática e colocar pressão na administração de Donald Trump para responder ao teste. Vale lembrar que o presidente americano não descartou uma resposta militar por conta de provocações sérias. Também seria suficiente para a ONU modificar sua aproximação com o Estado.

O que é um Míssil Balístico Intercontinental?

O ICBM é um míssil lançado por um sistema em terra que tem como objetivo carregar armamento nuclear.

A maior diferença desse tipo de míssil para os demais é que ele possui um grande alcance e velocidade, o que permite atingir o alvo, mesmo a grandes distâncias e sem deixar qualquer aviso prévio.

Para ser qualificado dessa forma, o míssil precisa ter um alcance de, pelo menos, 5.500 km.

O que especialistas afirmam sobre o novo teste da Coreia do Norte?

Dados divulgados pela Coreia do Norte sobre o alcança e o peso do míssil batem com os relatórios feitos pelo Japão e Coreia do Sul, apesar do exército dos EUA afirmar mais cedo que o teste envolveu um míssil da alcance intermediário.

Mas existe algo que todas as partes concordam: esse foi o teste mais bem sucedido de Pyongyang desde que o seu programa de mísseis foi instaurado no final da década de 90. O que é menos convincente é a reivindicação de que o projétil pode conseguir alcançar qualquer alvo do mundo.

John Schilling, um especialista na Coreia do Norte, afirma que o país precisrá de, pelo menos, mais 3 anos para desenvolver um míssil capaz de chegar ao território americano, e mais 25 anos para construir um que seja movida combustível sólido.

O quão avançado é o programa nuclear norte coreano?

É impossível verificar o quão longe que a Coreia do Norte chegou em seu programa nuclear, desde que conduziu o primeiro de seus seis testes deste tipo, em 2006.

Existem também dúvidas sobre a veracidade das informações divulgadas pelo país sobre o seu programa nuclear. Acredita-se que o quinto teste, feito em janeiro de 2016, envolveu um poderoso dispositivo de hidrogênio, mas especialistas disseram que o tamanho da explosão produz questionamentos sobre tal reivindicação.

O Instituto de Ciência e Segurança Internacional dos EUA estima que a Coreia do Norte possui entre 13 e 21 armas nucleares desde junho do ano passado, em comparação com as 10 a 16 de 2014.

O órgão também afirmou, em um relatório de 2015, que o regime de Kim Jong-Un conseguiu material físsil para construir de seis a 30 armas nucleares, dependendo da quantidade de urânio enriquecido produzido.

Oficiais sul coreanos disseram que a Coreia do Norte consegue montar uma ogiva nuclear em um míssil de médio alcance capaz de acertar o Japão e a Coreia do Sul, incluindo bases militares dos Estados Unidos que estão estacionadas nos dois países.

Por que o regime norte coreano está atrás de um programa nuclear?

Muita da legitimidade do regime do país é baseada na ameaça constante dos EUA e seus aliados regionais, o Japão e a Coreia do Sul.

Para dar suporte a reivindicação de sofre ameaças de Washington, a Coreia do Norte diz que centenas de milhares de tropas americanas estão na parte sul da zona desmilitarizada, a fortemente patrulhada divisa entre o norte e o sul. As tensões sempre aumentam toda vez que os exércitos dos EUA e Coreia do Sul realizam exercícios em conjunto. O Norte insiste que são um indicativo de uma possível invasão.

Encarando aquilo que diz ser uma provocação dos Estados Unidos, a Coreia do Norte diz que possui o direito, como qualquer outro estado, de desenvolver um programa nuclear. O ditador Kim Jong-Un também está ciente com o destino de outros ditadores que não tinham armas desse calibre.

Qual é a política de Donald Trump sobre Pyongyang?

Em quase seis meses de presidência, Trump ainda está encontrando dificuldades para articular uma política coerente com a Coreia do Norte, exceto pelo fato de ter dispensado a chamada “paciência estratégica” desenvolvida por seu antecessor, Barack Obama.

Trump investe pesado na habilidade da China de utilizar sua relevância econômica e diplomática para persuadir a Coreia do Norte em abandonar os seus programas de mísseis e armas nucleares. Mas até o momento, não surtiu grande efeito.

Ele também ameaçou utilizar a força contra o Norte em resposta a sérias provocações, mas ainda não especificou como seria essa retalhação. Qualquer ameaça desse tipo é capaz de trazer sérias preocupações para a Coreia do Sul e o Japão.

Para complicar ainda mais essa situação, em um encontro recente com o presidente sul coreano, Moon Jae-in, Trump concordou em abrir as portas para o diálogo com a Coreia do Norte “sob as condições apropriadas.”

Como a polícia da Coreia do Sul com o Norte mudou desde que Moon Jae-in se tornou presidente?

Conservadores sul coreanos já disseram que estão preocupados com o fato de que Moon, que é liberal e é a favor de acordos com o Norte, pode aliviar um pouco as preocupações com os vizinhos.

Só que desde que tomou posse, em maio, Moon misturou o discurso de cooperação entre as duas Coreias com o fato de que sua administração não irá tolerar mais testes e provocações dos norte coreanos.

Nesta terça, Moon pediu para a Coreia do Norte interromper seus lançamentos de mísseis, e avisou que não sabe quais podem ser as consequências que o regime pode ter de enfrentar caso chegue a um “ponto que não há volta”, como ele próprio descreveu.

Algo pode ser feito para interromper as ambições nucleares da Coreia do Norte?

No momento, a resposta mais óbvia é não. Uma resposta verdadeira para essa questão já é evitada por diplomatas, líderes mundiais e especialistas nucleares há anos. Barack Obama deixou a Casa Branca com a península coreana em uma situação ainda mais perigosa do que quando assumiu a presidência, em 2009.

Provocar um ataque contra as instalações nucleares do Norte, com certeza, será imediatamente retalhado pelo regime, o que pode causar enormes perdas na Coreia do Sul e Japão.

A demanda do Norte em entrar em uma conversa bilateral com os EUA, na qual planeja ganhar garantias de segurança de Washington, parece algo fantasioso, por conta dos testes de mísseis e a retórica utilizada pela Casa Branca.

Além disso, parece que Washington perdeu as esperanças de qualquer chance de diálogo a partir de Pequim. E o grande medo dos chineses é que um crise na Coreia do Norte resulte em milhões de refugiados, o que fará tropas sul coreanas e americanas se deslocarem até a fronteira com os norte coreanos.

A Coreia do Norte sabe que pode testar a paciência de Pequim e ainda conseguir cantar vitória.

 

 

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