Nas primeiras horas desta terça-feira, 12, Donald Trump e Kim Jong-un se encontraram na ilha de Sentosa, em Cingapura, onde realizaram, pela primeira vez na história, um encontro pessoal entre os líderes dos Estados Unidos e Coreia do Norte. Além de realizarem alguns reuniões e conversas, Trump e Kim assinaram um acordo emblemático entre os dois países.
Trump descreveu o documento como acordo “muito compreensivo que liderá com um problema muito grande e perigoso para o planeta.”
Observando o documento logo de cara e tudo que foi ancorado durante o encontro, fica claro que o principal ponto é a desnuclearização da Coreia do Norte. Mas, no fundo, ele possui outras implicações e não se difere muito do outro acordo assinado entre Kim e Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul, após o encontro que ocorreu no final de abril.
O acordo possui quatro pontos principais. Confira abaixo o que cada um deles representa e possíveis impactos para o futuro.
– Os Estados Unidos e a Coreia do Norte se comprometem a estabelecer novas relações, de acordo com o desejo de paz e prosperidade da população dos dois países.
Esse ponto terá muito mais impacto para os norte coreanos, e por um simples motivo. A nação terá de abandonar as costumeiras relações entre Washington e Pyongyang, já que a Coreia do Norte sempre retratou os EUA em suas propagandas como um inimigo que possuía o desejo de destruir o regime e sua população.
Mas também significa o desejo de Kim Jong-Un de conseguir progresso econômico para seu país, e agora, com uma possível assistência dos americanos. E também não deixa, de ser certa forma, uma vitória, já que a ameaça dos mísseis (em especial o projétil que era capaz de alcançar os Estados Unidos continental) foram um dos pilares para que negociasse com Trump.
– Ambos os países irão “construir um duradouro e estável regime de paz” na Península Coreana.
Mesmo que seja uma afirmação mais que positiva, não existe um comprometimento muito direto desse sentimento, como menção a um acordo de paz para substituir o armistício assinado no final da Guerra da Coreia, em 1953.
Mas para que a paz consiga reinar de vez na Península Coreana, seria preciso o envolvimento da China e de outros países que se envolveram no conflito. Também vale lembrar que Trump ofereceu garantias de segurança à Coreia do Norte, mas sem especificá-las. É algo tão vago quanto o comprometimento de Kim em desnuclearizar seu país, que também não foi muito especificado.
– Reafirmando a Declaração de Panmunjon, de 27 de abril de 2018, a Coreia do Norte se compromete a trabalhar para a “completa desnuclearização da península.”
Esse é o mais crítico e, com certeza, problemático dos pontos do acordo assinado. Ele não atende o desejo de Washington de desmantelar por completo os arsenais norte coreanos, apenas reafirma a posição de Kim após seu encontro com Moon Jae-in.
Muitos analistas acreditam que a medida não deve ser adotada logo após o encontro de Trump e Kim. Na realidade, esse é um processo que pode levar anos para ser concluído (alguns afirmam que pode levar até uma década) e custar alguns bilhões de dólares.
Outro problema apontado por muitos especialistas é o que o acordo define como desnuclearização, tudo por conta de interpretações. Washington, por exemplo, apenas quer que Kim Jong-un abandone suas ambições nucleares. Já Pyongyang pode vê-lo de outra forma. O regime pode querer, por exemplo, que a Coreia do Sul não esteja sob a proteção nuclear dos americanos. Uma possível vontade dos norte coreanos sé ver a retirada dos pouco mais de 28 mil soldados americanos estacionados na divisa entre as duas nações.
E conforme disse Alexander Vershbow, ex-embaixador dos EUA na Coreia do Sul e ex-secretário geral da OTAN, existe uma grande diferença entre desnuclearizar a Península Coreana e a desnuclearização da Coreia do Norte.
– EUA e Coreia do Norte se comprometem a recuperar restos mortais de prisioneiros de guerra, começando pela imediata repatriação daqueles já identificados.
Por fim, esse seria um legado final da Guerra da Coreia, que durou de 1950 a 1953, já que as duas partes desejam repatriar os restos mortais de soldados que desapareceram ou se tornaram prisioneiros de guerra.
“Restos mortais de aproximadamente 5,3 mil soldados americanos desaparecidos estão na Coreia do Norte e são potencialmente recuperáveis. Por conta das tensas relações entre os dois países, esforços para recuperá-los não foram bem sucedidos desde 2005”, relatou o site Stars and Stripes, que pertence ao exército dos EUA.
E esse é um ponto que pode causar um pequeno problema entre Japão e Estados Unidos. Os japoneses, com certeza, já devem estar desapontados ao notar que não existe menção aos seus cidadãos que foram sequestrados por agentes norte coreanos durante a época da Guerra Fria.
Só resta saber se Donald Trump dará um jeito de contornar essa questão, pois havia prometido ao primeiro ministro japonês Shinzo Abe, um dia antes do encontro, que abordaria o assunto com Kim Jong-un.