Limitar o aquecimento global a 1,5°C, em vez de 2°C até 2100 representaria uma economia de US$ 20 trilhões, de acordo com novos cálculos feitos por cientistas americanos. Os resultados do novo estudo foram publicados na revista científica Nature.
De acordo com os autores do artigo, é a primeira vez que uma pesquisa quantifica os benefícios econômicos decorrentes da limitação do aquecimento global às metas mais ambiciosas do Acordo de Paris.
O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, determina que os 195 países signatários se esforcem para conter o aquecimento global a menos de 2°C até o final do século, com tentativas de atingir uma meta mais ambiciosa de limitar o aquecimento a 1,5°C, em comparação aos níveis pré-industriais.
Segundo o novo estudo, caso o aquecimento seja limitado a 1,5°C, 71% dos países, onde vive 90% da população global, teriam 75% de chance de uma redução dos danos econômicos – incluindo os maiores poluidores, Estados Unidos e China. Por outro lado, se o aquecimento subir acima de 2°C, os prejuízos podem atingir mais de 15% da produção econômica do mundo.
De acordo com o autor principal da pesquisa, Marshall Burke, da Universidade de Stanford (Estados Unidos), compreender os benefícios econômicos trazidos pelo cumprimento das metas climáticas é fundamental para subsidiar decisões sobre como buscar esse objetivo.
“No século passado nós já havíamos experimentado um aumento de 1°C na temperatura global, portanto atingir as metas ambiciosas determinadas pelo Acordo de Paris não será fácil, nem barato. Nós precisamos de uma compreensão clara sobre a dimensão dos benefícios econômicos que conseguiremos se atingirmos diferentes metas”, disse Burke.
Para realizar o estudo, a equipe liderada por Burke combinou dados históricos, projeções socioeconômicas e estimativas climáticas nos países, a fim de avaliar os danos econômicos associados com diferentes níveis de aquecimento futuro.
Os resultados mostraram que a grande maioria dos países se beneficiaria economicamente de um limite máximo de 1,5°C para o aquecimento global. Segundo os cientistas, além das maiores economias do mundo – como a China, os Estados Unidos e o Japão – essa meta também traria grandes benefícios econômicos a algumas das regiões mais pobres do planeta, onde uma pequena redução do aquecimento no futuro poderia gerar um considerável aumento do PIB per capita.
“Os países que serão mais provavelmente beneficiados são os que já estão relativamente quentes atualmente. Os registros históricos mostram que um aquecimento adicional será muito danoso para as economias dessas nações – e que mesmo pequenas reduções no aquecimento futuro poderiam trazer enormes benefícios à maior parte dos países”, disse Burke.
Os custos decorrentes de temperaturas globais mais altas são provenientes de fatores como o aumento nos gastos para lidar com eventos extremos, queda da produtividade agrícola e impactos nos sistemas de saúde pública, de acordo com os cientistas.
Os cientistas, porém, admitem que o estudo pode ter subestimado os custos totais de elevações maiores do aquecimento global, especialmente se houver transformações catastróficas como o rápido derretimento das geleiras na Groenlândia ou na Antártica, ou se eventos climáticos extremos como ondas de calor e enchentes se intensificarem muito além das variações registradas em observações históricas.