A nossa consciência ainda existe momentos após a morte?

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No filme Além da Morte, que tem estreia marcada no Brasil para semana que vem, cinco estudantes de medicina decidem parar seus corações de propósito para vivenciarem uma experiência de quase morte. Apesar da euforia causada pelo experimento, eles rapidamente descobrem inesperadas e assustadoras consequências de “brincar” com a morte.

Mas nem tudo é, exatamente, ficção científica. Uma linha de pesquisa está tentando descobrir quais são os processos que acontecem após a morte, e sugere que a consciência humana não é imediatamente “desligada” após o coração parar de bater.

Então, o que acontece com o corpo e o cérebro momentos após uma parada cardíaca?

Os termos “parada cardíaca” e “ataque cardíaco” são frequentemente usados, mas não são condições semelhantes. No ataque cardíaco, uma artéria bloqueada impede o sangue de chegar a certos locais do coração, e pode causar sua morte, apesar do órgão continuar batendo.

Já durante a parada cardíaca, algo interrompe os sinais elétricos enviados para o coração bombear o sangue. O órgão para de bater e a morte da pessoa é bem provável.

Tocamos nesse ponto por que muitas mortes são definidas a partir do momento em que o coração para de bater, explicou Sam Parnia, diretor de pesquisa de cuidados intensivos e ressuscitação na NYU Langone School of Medicine, em Nova Iorque.

“Tecnicamente falando, é assim que se marca o horário da morte – tudo se baseia no momento em que o coração para”, disse.

Uma vez que isso acontece, o sangue para de circular até o cérebro, o que significa que a função cerebral é interrompida quase instantaneamente. “Você perde todos os seus reflexos do tronco encefálico – seu reflexo mordaz, seu reflexo pupilar, tudo isso desaparece”, explicou Parnia.

A trajetória da morte celular

O córtex cerebral – conhecido como a “parte pensante” do cérebro – também diminui seu funcionamento instantaneamente, o que significa que as ondas cerebrais não são mais visíveis em um monitor elétrico dentro de 2 a 20 segundos. Isso inicia uma reação em cadeia que resulta na morte das células cerebrais, mas isso também pode acontecer horas depois da parada cardíaca, explicou Parnia.

Realizar uma reanimação cardiorrespiratória pode enviar um pouco de sangue até o cérebro, aproximadamente 15% do que é necessário para que ele funcione normalmente. Desta forma, é possível desacelerar o processo de morte, mas também não é o suficiente para fazê-lo voltar a trabalhar de novo.

Estudos recentes já mostram que alguns animais ainda possuem atividade cerebral alguns minutos após a morte. E que pessoas na chamada “primeira fase de morte” ainda podem ter algum tipo de consciência, segunda Parnia. Além disso, evidências substanciais já comprovaram que muitas pessoas que conseguiram ser ressuscitadas descreveram, com precisão, que tinha noção do que estava acontecendo ao seu redor.

A morte e além

Parnia e seus colegas estão, neste momento, investigando a questão da consciência após a morte. O estudo envolve justamente pessoas que sofreram paradas cardíacas.

Os pesquisadores estão também observando detalhes do cérebro durante o período de parada cardíaca, a morte e a ressuscitação para entender a quantidade de oxigênio que chega ao cérebro, exatamente quando o córtex é “ligado” novamente e como essas experiências estão relacionadas com a atividade cerebral.

O mais importante desse estudo seria encontrar uma forma mais precisa de monitorar o cérebro nos limites da morte e melhorar as qualidades das técnicas de ressuscitação, para poder prevenir qualquer dano ao cérebro durante o processo.

“Ao mesmo tempo, nós também estudamos a mente e a consciência humanas no contexto da morte, para entender se a consciência se destrói ou se ela continua depois que você morreu por algum período de tempo – e como isso se relaciona com o que está acontecendo dentro do cérebro em tempo real”, explicou Parnia.

O filme Além da Morte sugere que a ressureição pode melhorar a atividade cerebral. Só que no mundo real, uma passagem de volta à vida não inclui ganhar superpoderes cerebrais, mas pode providenciar uma nova perspectiva de vida.

“O que tende a acontecer é que as pessoas que tiveram essas experiências muito profundas podem voltar positivamente transformadas – tornam-se mais altruístas, mais empenhadas em ajudar os outros. Eles acham um novo significado para a vida depois ter tido um encontro com a morte. Mas não há como um súbito aprimoramento mágico de suas memórias. Isso é apenas o jazz de Hollywood”, explicou Parnia.

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