Depois de meses de espera e incertezas, a vacina contra a Covid-19 finalmente começa a se tornar realidade no Brasil, com início da vacinação prevista para meados de fevereiro de 2021.
No primeiro momento, serão priorizados grupos específicos, mais expostos a riscos de desenvolver a forma grave da doença causada pelo novo coronavírus, como profissionais de saúde e pessoas acima de 60 anos.
Entretanto, a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA), alerta para uma questão deixada de lado pelo Ministério da Saúde: pacientes com câncer ativo ou em tratamento com drogas imunossupressoras também deveriam ser incluídos no grupo prioritário para a vacinação contra a Covid-19.
Estudos internacionais, como o publicado pela Associação Americana pela Pesquisa do Câncer (artigo: Prioridade na vacinação de Covid-19 para pacientes com câncer enquanto o suprimento de vacina é limitado), e o posicionamento da Sociedade Espanhola de Oncologia Médica trazem dados que mostram que pacientes em tratamento de câncer ativo e aqueles com casos avançados da doença, especialmente câncer de pulmão e neoplasias hematológicas, têm maior risco de desenvolver a forma grave da Covid-19 e maior índice de mortalidade.
Esses pacientes, que precisam continuar o tratamento oncológico mesmo durante a pandemia já que o câncer não faz quarentena, também estão mais expostos a risco, por conta das necessárias e constantes visitas a unidades de saúde. A exposição ao vírus pode diminuir a resposta imunológica natural do organismo desses pacientes.
Na pesquisa dos EUA, os resultados da infecção por SARS-CoV-2 em pacientes com câncer em comparação a pacientes sem câncer mostrou uma grande variação na taxa de letalidade, apontando o dobro do risco quando as doenças são combinadas.
Em pacientes com câncer, a taxa variou entre 21% e 28%; já em pacientes sem câncer, ficou entre 9% e 14%. Alguns tipos de câncer apresentam uma letalidade ainda mais alta. Em um único hospital de Nova Iorque, por exemplo, a letalidade em pacientes com neoplasias hematológicas foi de 37% enquanto em pacientes com câncer sólido ficou em 25%, de acordo com o estudo.
Ainda não há dados suficientes para avaliar as interações entre tratamento oncológico ativo e a capacidade de induzir imunidade protetora ao Covid-19 com vacinação e nem o momento do ciclo de tratamento em que é preferível administrar a vacina, mas as evidências disponíveis até o momento de que as vacinas podem fornecer maiores níveis de anticorpos neutralizantes do que a infecção por SARS-CoV-2 em um número substancial de pacientes, indicam a importância de incluir pacientes oncológicos nos grupos prioritários da vacinação.
Avaliando estudos recentes do mundo todo e adaptando para a realidade do Brasil, o Comitê Científico-Técnico da FEMAMA entende que a prioridade, na vacinação, deve ser de pacientes com câncer em tratamentos imunossupressores, não se enquadrando pacientes com histórico de câncer que não estão em tratamento e não têm câncer ativo.
“Há mais de 14 anos, a FEMAMA luta não só por maior acesso ao diagnóstico ágil e tratamento eficaz para pacientes com câncer de mama, mas também por todos os pacientes oncológicos e não poderia ser diferente em um momento tão desafiador, onde a saúde do país virou campo de batalha político”, pontua a Dra. Maira Caleffi, mastologista e presidente voluntária da FEMAMA.
Em 2020, a entidade, responsável por trazer o Outubro Rosa de forma organizada para o Brasil em 2008, pontuou a falta de atuação do Ministério da Saúde na gestão da oncologia no país, especialmente em um momento de crise. Leis que deveriam estar em pleno funcionamento – como a Lei dos 30 Dias, que garante o diagnóstico de câncer pelo SUS em até 30 dias – não têm ações coordenadas e nem fiscalização por parte do Governo Federal, que repassa a responsabilidade para estados e municípios.
Para as vacinas contra a Covid-19, na avaliação do comitê da FEMAMA, todos métodos de imunização que estão nas fases finais de estudo e aprovação no Brasil parecem seguros e são indicados.
“Hoje, não há evidências de que a imunoterapia contra o câncer aumente as complicações de qualquer administração anterior de vacina viral”, afirma Dra. Daniela Rosa, oncologista e vice-presidente do Comitê Científico-Técnico da FEMAMA.
“Assim como em outras infecções virais, as vacinas de vírus vivo ou atenuado são contraindicadas para pacientes oncológicos. Vacinas recombinantes inativadas, subunidades proteicas e de ácido nucleico, como DNA ou RNA, podem ser administradas com segurança”, completa.