Com todas as opções aparentemente intermináveis de entretenimento que temos hoje, é fácil esquecer que não era assim um tempo atrás. Antes que a Internet nos desse acesso imediato a tudo o que queremos ver, ouvir ou ler no momento, aqueles que vieram antes de nós poderiam chegar a algumas coisas muito estranhas em busca de um bom momento.
Esportes Telegráficos
Logo que o telégrafo permitiu a comunicação instantânea ao longo de centenas de quilômetros, os clubes esportivos locais de várias cidades principais começaram a utilizá-lo para organizar competições com clubes em outros estados. Durante anos, os cidadãos podiam ver postados em seus jornais locais os resultados das mais recentes partidas de esportes telegráficos.
A ideia parece ter se originado a partir dos clubes de boliche e logo virou moda, se espalhando para outros esportes. Uma edição de 1905 da revista Shooting and Fishing relatou os resultados de um jogo de tiro telegráfico entre a Associação de Revolver de Washington, D.C. e o Smith and Wesson Revolver Club de Springfield, Massachusetts. As ligas de boliche telegráfico, em particular, eram muito populares nas primeiras duas décadas do século XX, mas sua popularidade começou a morrer por volta da segunda década.
Duelo com Balas de Cera
Duelo com pistolas ainda era um passatempo popular, embora orgulhoso e letal, nos EUA dos anos 1900. Especialmente no sul do país, sacar uma arma para desafiar alguém era uma maneira possível de elevar o status social; e negar um desafio poderia fazê-lo ser socialmente excluído. Mas, por um breve momento, o duelo se tornou um esporte para espectadores. Os participantes vestiam uma roupa preta e uma máscara e se enfrentavam usando balas de cera.
O esporte teve origem na França, com uma “Escola de Duelo” estabelecida em Paris. O duelo com balas de cera foi ainda uma modalidade das Olimpíadas de Verão de 1908, com regras baseadas nos códigos de honra do duelo clássico. Os duelos não estavam completamente livres de perigo. As balas de cera podiam causar algum dano sem a proteção adequada, e os espectadores tinham que tomar cuidado com os olhos – pois um fragmento de cera perdido poderia ser prejudicial.
Colisão de Trens Encenada
Os seres humanos sempre foram um tanto imbecis quanto a espetáculos, desde o Coliseu romano até o último filme Marvel em IMAX 3-D. Mas nos anos passados, alguns espetáculos poderiam ser difíceis de encontrar sem se colocar em perigo. Pesquise por “Head-On” Joe Connolly, talvez o promotor mais famoso dos maiores eventos de sua época: colisões encenadas entre duas locomotivas.
Entre 1896 e 1932, Connolly encenou nada menos que 73 desses eventos, enviando 146 trens para mortes ferozes. O primeiro, e mais infame, desses destroços encenados terminou em catástrofe. William George Crush, executivo da Texas Railway Company, propôs a ideia como uma forma de aumentar a venda de ingressos, e o evento aconteceu do lado de fora de uma cidade temporária improvisada – “Crush, Texas” – em setembro de 1896. Mais de 40 mil espectadores foram assistir ao evento, mas o impacto fez as caldeiras de ambos os trens explodirem, enviando uma chuva flamejante na multidão. Pelo menos três morreram, e muitos ficaram feridos.
Arrastamento de Cama
Um hobby estranho do campus, originalmente da universidade de Rhodesia (agora Zimbábue) e rapidamente alcançando o Canadá, foi reportado pelo Time em fevereiro de 1961: arrastamento de cama. Basicamente o que se fazia era arrastar camas de tamanho normal e com rodas por longas distâncias em terrenos difíceis.
Os estudantes canadenses “da Nova Escócia à Columbia Britânica” podiam ser vistos empurrando camas em qualquer lugar “por estradas, pradarias e lagos congelados”. Na época, o recorde de distância percorrida era de 1.600 quilômetros – feito pela equipe da Universidade de Ontário, que “manteve as rodas da cama rolando noite e dia por uma semana”. Mas o recorde mundial foi estabelecido em 1979, anos após a popularização do hobby, por estudantes do Pensilvânia St. Vincent College. A equipe empurrou sua cama em círculos ao redor de um shopping center por 3 mil quilômetros.
Truckin
A frase “Keep On Truckin ‘” – basicamente, “siga em frente, por pior que seja” – se originou com uma música blues de Blues Boy Fuller, na década de 1930, mas pareceu realmente fazer sucesso nos anos 70, quando a frase aparecia em diversas camisas. Aparentemente era uma maneira simples e inocente de expressar que se deve continuar, não importa quão difíceis as coisas se tornem, mas estudantes universitários americanos – com alguma inspiração do artista Robert Crumb – transformaram a frase em uma atividade estranha e inútil.
O cartoon de Crumb, “Keep On Truckin ‘”, apresentava caricaturas de homens andando de maneira característica e exagerada, inclinando-se para trás enquanto fazia movimentos de pernas largos e bruscos. Universitários – que eram o público alvo – levaram isso a sério, e começaram a copiar a caminhada dos desenhos animados. O fenômeno foi documentado pela primeira vez em jornais do campus em 1970, mas morreu na metade da mesma década. Talvez porque Crumb tenha recebido os direitos autorais para a sua imagem original, utilizada sem licença em mercadorias durante anos, em 1977.
Equipamento de Raio-X de sapatos
Na década de 1920, os raios-X eram uma invenção estranha e maravilhosa com um nome futurista. Os cientistas dificilmente poderiam conceber seu potencial – ou seus perigos em potencial. Isso explica por que, durante essa década, os equipamentos de raio-X de sapatos fizeram grande sucesso nas lojas de calçados dos EUA; embora tivessem material radioativo sem proteção para o vazamento dessa radiação.
Eram os chamados “equipamento de sapatos fluorescentes”, e caio no gosto de crianças e adultos. No início dos anos 1950, havia mais de 10 mil desses dispositivos radioativos extremamente perigosos em lojas de todo o país. Eles foram proibidos na década de 1970, uma vez que os perigos se tornaram conhecidos, e alguns casos de câncer de pé em pacientes mais velhos foram ligados a esses equipamentos. Provavelmente nunca saberemos quantas outras pessoas podem ter desenvolvido problemas de saúde por causa dos mesmos dispositivos.
Salto com Balão
Sim, as pessoas dos anos 20 amavam futurismo, e nada era mais futurista do que o voo. A ficção científica da época estava repleta de carros voadores e dirigíveis bizarros, e alguns esportistas ricos pensaram em uma maneira de trazer o futuro para o presente: o salto com balão.
Os saltadores prendiam balões em seu corpo através de apetrechos. Os balões eram grandes o bastante para fazê-los levitar um pouco, mas não o suficiente para que saíssem voando pelo céu. Os participantes podiam fazer uma espécie de salto moonwalk, voando por cima de árvores, cercas e até casas. As publicações do esporte ao longo da década de 1920 elogiavam esse novo esporte, chamando-o de seguro, fácil e divertido; mas ele nunca atingiu ao público em geral – possivelmente devido a um caso de morte de uma pessoa que praticava o esporte na Inglaterra.
Lançamento de Raposa
Voltando ainda mais no tempo, as oportunidades de diversão do século XVII eram ainda mais escassas. Um esporte esquecido, descrito em um manual alemão da caça de 1720, foi conhecido como “Fuchsprellen” – traduzido como “Lançamento da raposa”.
A idéia era colocar uma série de lonas sobre uma grande área de jogo ao ar livre. Então, várias raposas – junto com texugos e pequenos gatos selvagens – seriam soltas. Os participantes iriam persegui-los, esperando o momento em que um animal desafortunado fosse posicionado perfeitamente em uma das lonas. Feito isso, dois jogadores agarrariam então a lona em uma ou outra extremidade e a puxariam rapidamente até esticar, lançando o animal no ar o mais alto possível.
Embora alguns pensem que esse tipo de atividades estúpidas envolvendo crueldade com animais sejam coisa de um passado distante, a realidade não é bem assim.
Luta com Polvos
Nos anos 1950 e 1960 o mergulho livre era um passatempo popular. Era bastante competitivo, com os mergulhadores tentando ver quem podia mergulhar mais fundo ou ficar submerso por mais tempo, mas logo um novo elemento foi adicionado à competição: até onde poderia chegar uma disputa com polvos arrastando-os à superfície?
Embora seja absolutamente ilegal hoje, a luta com polvos se transformou num esporte popular de espectadores no noroeste do pacífico. Os competidores tinham de encontrar e extrair um polvo de sua toca e lutar contra ele enquanto o arrastava até a superfície. A contagem de pontos levava em conta o peso do animal, com um extra para os competidores que não usassem equipamento de respiração.
Em 1963, mais de 5 mil espectadores compareceram a Puget Sound, no estado de Washington, para o Campeonato Mundial de Luta com Polvos. Os organizadores posicionaram alguns polvos em locais estratégicos ao longo da praia, pois deveriam garantir um espetáculo. O evento chegou a ser televisionado.
Polo Automobilístico
Em 1912, um vendedor de Ford no Kansas organizou o que esperava ser a primeira de muitas disputas para gerar negócio. O evento foi realizado entre as duas equipes pioneiras – os Fantasmas Cinzentos (Grey Ghosts) e os Diabos Vermelhos (Red Devils) – do mais novo esporte dos EUA: o polo automobilístico. A partida foi jogada quase como se esperaria do polo tradicional, mas usando carros ao invés de cavalos.
Como os carros foram inicialmente comercializados como um substituto para cavalos, o esporte estranhamente faz sentido. Neste primeiro jogo, realizado em um campo de alfafa do Kansas, duas equipes de três homens competiram: dois homens para dirigir o carro e um para carregar em um bastão uma bola de borracha do tamanho de uma de basquete. Apesar (ou talvez por causa) da probabilidade de acidentes, ferimentos e mortes, o esporte disparou em popularidade nas décadas seguintes, com os últimos jogos ocorrendo em meados da década de 1950.