Mais de 380 novas espécies de plantas e animais foram descobertas na Amazônia apenas entre 2014 e 2015, de acordo com um relatório publicado pela organização não governamental WWF-Brasil, em parceria com o Instituto Mamirauá, uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
De acordo com o relatório, naquele biênio, uma nova espécie foi registrada a cada dois dias – e a maior parte delas foi descoberta no interior ou no entorno de áreas protegidas. Duas das novas espécies de peixes foram localizadas em unidades de conservação na área da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), que foi extinta pelo governo na semana passada.
Produzido por um grupo de especialistas a partir de revisões da literatura científica, o relatório está em sua terceira edição. A primeira apresentou 1,2 mil novas espécies descobertas entre 1999 e 2009 e a segunda revelou 602 novas espécies descobertas entre 2010 e 2013. Foram mais de 2,1 mil espécies descobertas em 17 anos.
“Conhecer as espécies existentes é muito importante do ponto de vista da conservação, porque ao medir a ocorrência das populações temos um indicador do estado de conservação do ambiente, que nos permite traçar políticas públicas para preservar a biodiversidade”, disse ao Estado o coordenador do Programa Amazônia da WWF-Brasil, Ricardo Melo.
Segundo Melo, entre 1999 e 2009, uma espécie foi descoberta a cada três dias, em média. Entre 2010 e 2013, a taxa subiu para uma nova espécie a cada 2,5 dias. “Imaginar que ainda hoje estamos verificando a existência de novas espécies mesmo com escassos recursos, diz que ainda temos muito a conhecer e descobrir nesta região”, declarou.
Ele afirma, porém, que apesar do aumento contínuo da taxa de descobertas, ainda há muitas lacunas no conhecimento e é provável que inúmeras espécies sejam extintas na Amazônia sem jamais terem sido catalogadas.
“Há um declínio global da biodiversidade e a extinção de espécies passa atualmente por uma escalada sem precedentes na História. De 1800 para cá, a extinção de espécies aumentou cinco vezes por ano. Isso ficou mais grave nas últimas décadas: desde 1970, tivemos um declínio de 51% nas populações das várias espécies”, explicou.
Das 381 novas espécies descobertas entre 2014 e 2015, o relatório registra 216 novas espécies de plantas, 93 de peixes, 32 de anfíbios, 19 de répteis, 18 de mamíferos, uma ave e dois mamíferos fósseis.
Melo afirma, no entanto, que o conhecimento sobre a Amazônia ainda é pequeno, por conta da grande extensão territorial e da ausência de recursos para viabilizar pesquisas científicas.
“Quanto mais pudermos identificar novas espécies, melhora para a conservação. Na Floresta Amazônica, temos cerca de 40 mil espécies de plantas catalogadas, sendo 5 mil espécies de árvores Em algumas regiões há 300 espécies diferentes por hectare. Mas, tudo indica que mal começamos a compreender a Amazônia”, disse.
O fato de muitas espécies terem sido descobertas em áreas protegidas, segundo Melo, reforça a importância de manter intactas as unidades de conservação e de aumentar os esforços de pesquisas nessas áreas.
“Muitas dessas espécies estão concentradas em locais endêmicos – isto é, não ocorrem em outras áreas. Só na área da Renca, por exemplo, foram descobertas duas espécies de peixes, animais que sofrem muito diretamente os efeitos da mineração. Foram descobertas também muitas espécies novas no sul da Amazônia, onda há uma enorme pressão a favor de retrocessos ambientais”, disse.
Mais ciência, menos impacto. Segundo Melo, ao inventariar as novas espécies em um só documento, o relatório mostra o quanto é estratégico preservar a biodiversidade amazônica. “O número expressivo de descobertas demonstra a importância dos investimentos em pesquisa científica na Amazônia e de redobrar a atenção para a região, que tem sofrido o impacto de ações antrópicas como desmatamento, agropecuária e grandes obras de infraestrutura – como é o caso da construção de hidrelétricas e rodovias”, disse.
Melo afirmou também que empresários e políticos deveriam pensar melhor nos impactos irreversíveis provocados por grandes projetos como estradas e hidrelétricas na Amazônia. “Essa biodiversidade precisa ser conhecida e protegida. Estudos indicam que o maior potencial econômico de uma região como a Amazônia é a inclusão da biodiversidade nas soluções tecnológicas de um novo modelo de desenvolvimento, incluindo desenvolvimento de curas para doenças, uso de novas espécies para fins alimentares, como exemplo os superalimentos”, disse.