O nono mês lunar do calendário chinês marca o início do incomum Festival dos Nove Deuses. A comemoração pode assustar quem não compartilha da mesma religião, pois seus rituais são brutais, envolvendo automutilação.
Este festival é celebrado em países do sudeste asiático, como Tailândia, Vietnã, Malásia, Indonésia e Singapura. O mais famoso deles é o que ocorre na paradisíaca ilha de Phuket, sudoeste tailandês, onde é conhecido também como Festival Vegetariano.
Parte significativa da população (35%) segue o taoísmo, o que torna grande o número de participantes. Turistas de diferentes países são atraídos à Phuket para testemunhar as práticas religiosas nada usuais.
Tradição com base no Taoismo
São nove dias de festival, cada um reservado a adoração de um deus. A tradição tem suas bases na milenar religião taoista, doutrina mística e filosófica chinesa.
Reza a lenda que uma epidemia mortal assolou um grupo chinês do sudeste asiático, entretanto eles se salvaram mediante uma dieta vegetariana e orações aos nove deuses.
Apesar de ser uma religião de tradicionalmente chinesa, o taoismo não é celebrado na China. Acredita-se que suas práticas foram incorporadas por tradições indianas. A prática é uma veneração aos deuses e ancestrais, seus seguidores creem que a partir do sacrifício terão a alma purificada.
Durante as festividades os devotos adotam uma dieta vegetariana, vestem-se de branco, não ingerem bebidas alcoólicas e praticam a abstinência sexual. A carne não é consumida pois creem ser necessário para alcançar a paz de espírito e saúde.
Masongs recebem o espírito dos deuses
Não é qualquer devoto que pode praticar os rituais de automutilação, são apenas homens, puros e solteiros. Apesar de raro, mulheres sem famílias também podem participar.
A pessoa que convida o espírito de um dos nove deuses para possuir o seu corpo é chamada de Masong. O termo em tailandês significa cavalo e refere-se ao modo que os espíritos dos deuses usam os corpos desses crentes como instrumento, assim como um homem guia o caminho de um animal.
Automutilação por perfurações no corpo
Acreditando estar com o corpo possuído pelas entidades e então livres de sofrimentos deste mundo, os Masongs perfuram os seus corpos como forma de obter a purificação espiritual, não só a pessoal, como a de toda a comunidade.
Diferentemente dos outros que vestem branco, eles portam elaboradas fantasias coloridas. Perfuram as bochechas e línguas com os mais diferentes objetos, como facas, espadas, armas, flores e o que mais estiver disponível.
A escolha dos objetos é livre. Cada um deve fazer um estilo de perfuração própria. Além do rosto, alguns perfuram braços com anzóis e pinos.
Procissão por ruas e templos em clima de Carnaval
Os Masongs percorrem as ruas da cidade e templos abençoando os outros devotos, esses os aguardam em frente as suas casas com oferendas (constroem um pequeno altar e entregam frutas).
Nos templos são realizados rituais para protegê-los durante as mutilações. E o processo de perfuração é acompanhado por médicos, enfermeiros e voluntários. Entretanto, não é dado anestesia, eles apenas ajudam a manter a ferida limpa e a carregar os “piercings”, quando são muito pesados. Além deles, há outros fiéis que os seguem carregando bandeiras dos templos e imagem dos deuses.
É em clima de carnaval que acontecem os nove dias de festival. O tilintar do sino de orações e o canto dos sacerdotes podem sempre ser ouvido nesse dias. A perfuração corporal, meditação, oração e vegetarianismo simbolizam a purificação espiritual, saúde e paz para esses povos.