A Operação Carne Fraca, promovida pela Polícia Federal (PF) na última sexta-feira (18), investiga uma série de procedimentos ilegais feitos por grandes empresas do ramo alimentício. Segundo as autoridades, mudar data de vencimento das carnes estragadas, usar produtos químicos para mascarar seu cheiro e disfarçar seu aspecto são algumas das táticas ilegais que as grandes empresas de carne do país usavam para vender o alimento em mau estado de conservação.
As maiores empresas do Brasil e também algumas das maiores exportadoras, como a JBS e a BRF, estão envolvidas na operação. A investigação também revelou uma extensa rede de subornos e propinas na qual estariam envolvidos dezenas de inspetores do governo encarregados de garantir que os produtos cumpram as normas sanitárias.
Entre as práticas fraudulentas, estavam a injeção de água na carne para aumentar seu peso e tratá-las com ácido ascórbico, a vitamina C – que, em doses excessivas, pode prejudicar a saúde. Tudo isso em carnes já vencidas.
Mas quais os reais riscos de tudo isto para a saúde dos consumidores? Estamos suscetíveis a que tipos de doenças?
Risco de câncer?
Especialistas da saúde afirmam que o consumo de carnes estragadas e fora do prazo de validade podem causar infecções gastrointestinais gravíssimas. No entanto, dificilmente isto fará com que um câncer se desenvolva.
As carnes receberam conservantes e aditivos acima da quantidade permitida e essas substâncias são favoráveis para o aparecimento de tumores. Sabe-se, por outro lado, que é necessário um longo período de exposição a esses agentes para que possam causar danos significativos ao organismo.
O infectologista Marcos Boulos, coordenador do controle de doenças da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo e também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explicou ao jornal O Estado de S. Paulo que todas as substâncias usadas para conservar os alimentos são lesivas às nossas células, mas para que elas causem problemas sérios, como o câncer, seriam necessários anos ou até décadas de consumos desses produtos.
“A maioria das infecções gastrintestinais que vemos no dia a dia são consideradas autolimitadas, ou seja, a pessoa que tem um quadro de diarreia, põe as toxinas para fora e fica boa depois de alguns dias. Já as bactérias geralmente presentes em carnes estragadas podem entrar no intestino e levar a quadros mais graves, com muita febre e diarreia. Há casos em que as bactérias causam lesão no tecido intestinal e é necessário que o paciente passe por uma cirurgia”, disse Boulos.
Câncer e vitamina C
A relação entre o aparecimento de tumores com o alto consumo do ácido ascórbico não está bem fundamentada na literatura científica. “Esses ácidos e vitaminas podem ser prejudiciais se usados em grandes quantidades e por muito tempo, mas não há um vínculo forte na ciência que comprove que o uso da vitamina C cause câncer”, disse o oncologista Fernando Cotait Maluf, membro do Comitê Gestor de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
O principal risco associado ao consumo de alimentos deteriorados é o desenvolvimento de infecções causadas por bactérias resistentes. Uma delas, a salmonela – que foi encontrada em alguns frigoríficos investigados pela PF -, é um dos microrganismos que podem causar problemas graves no intestino. “Ela é muito resistente, podendo resistir a temperaturas muito baixas, até mesmo dentro de um freezer”, afirma o médico infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn.
O especialista ainda afirma que as crianças e os idosos são os pacientes mais vulneráveis a desenvolver formas graves de infecções causadas pelo consumo da carne estragada. “A gravidade do caso vai depender do tipo de bactéria, da quantidade de agentes contaminantes e do sistema imunológico da pessoa afetada. As crianças ainda têm o sistema de defesa imaturo, então respondem pior a essas infecções. Os idosos têm imunodeficiência. Nos dois casos, os quadros de diarreia podem ser mais graves, levando à desidratação e, em algumas situações, até a morte”, disse o médico. Todas as informações são do jornal O Estado de S. Paulo.