A ficção e a mitologia já nos fizeram imaginar como seria um ser humano misturado com outros animais. Mas isso pode ser algo que comece a surgir na vida real. Um grupo de cientistas anunciou recentemente que conseguiu criar embriões híbridos entre seres humanos e porcos.
O objetivo desse experimento é dar um passo importante para o desenvolvimento de órgãos para transplantes, além de mostrar que células humanas podem ser introduzidas em outros organismos, sobreviver e até mesmo crescer em um animal hospedeiro.
Apesar da importância do experimento, os responsáveis lembram que ele ainda está nos estágios iniciais de desenvolvimento e que ele foi muito mais difícil do que o esperado.
“Este é um primeiro passo importante. O objetivo final é desenvolver tecidos e órgãos funcionais e transplantáveis, mas estamos longe disso”, disse Juan Carlos Izpisua Belmonte, o principal autor do projeto e professor do laboratório de expressão genética do Instituto Salk para Pesquisas Biológicas, que fica na Califórnia.
Desenvolvimento de “quimeras”
O experimento aconteceu da seguinte forma: os cientistas implantaram em embriões suínos células-tronco de humanos adultos, conhecidas cientificamente como células-tronco pluripotentes induzidas, e permitiram que se desenvolvessem por pelo menos quatro semanas.
Em aproximadamente 150 embriões, foi possível notar que eles se desenvolveram em “quimeras”, em referência à figura híbrida da mitologia grega. Na realidade, eles ainda eram suínos, mas com uma pequena parcela humana.
Todo o trabalho envolveu aproximadamente 1500 embriões suínos e mais de quatro anos de estudo, por conta da complexidade do experimento.
Este é, provavelmente, o método mais interessante para tentar desenvolver órgãos humanos: criá-los desde o nível embrionário em outro animal. A outra forma que existe é introduzi-los em outra espécie, mas isso é algo bem arriscado, já que o sistema imunológico do hospedeiro pode rejeitá-lo.
Solução para a escassez de órgãos
Em um futuro, seja ele distante ou não, este pode ser o método para solucionar a escassez de órgãos para doação. Por exemplo, a cada dez minutos uma pessoa entra na lista de transplante de órgãos, e todo dia, 22 delas morrem por não conseguirem um doador.
Darren Griffin, professor de genética da Universidade de Kent, no Reino Unido, disse que este experimento pode solucionar tal problema, e que “o trabalho também nos ajudará a entender melhor a evolução, o desenvolvimento e as doenças.”
Texto por Augusto Ikeda
Edição por Igor Miranda