O Facebook compartilhou dados pessoais de seus usuários, sem o devido consentimento, com gigantes de tecnologia como Microsoft, Amazon e Netflix. A revelação vem do jornal The New York Times na quarta-feira (19): a publicação teve acesso a centenas de documentos internos da companhia de Mark Zuckerberg que revelam como a empresa compartilhou os dados com parceiros comerciais.
Apesar de não vender os dados diretamente a outras empresas, como já negou diversas vezes, o Facebook se beneficiou das parcerias atraindo novos usuários e aumentando seu faturamento a partir do modelo de negócios com a venda de anúncios publicitários.
Entre os casos de compartilhamento de dados, o Facebook autorizou o Bing, motor de busca da Microsoft, a ver os nomes de todos os amigos de um determinado usuário do Facebook. Além disso, a empresa permitiu que parceiros como Netflix, Spotify e até um banco canadense pudessem ler as mensagens privadas dos usuários.
A rede social também deu à Amazon acesso ao nome dos usuários e informações de contato; já ao Yahoo, permitiu que a empresa visse publicações das amizades de um determinado usuário. Algumas destas práticas, diz o New York Times, ocorreram pelo menos até julho deste ano.
No total, cerca de 150 companhias – a maior parte delas, do setor de tecnologia – se beneficiaram dos acordos para ter acesso aos dados dos 2,2 bilhões de usuários do Facebook. Ao jornal, o diretor de privacidade do Facebook, Steve Satterfield, disse que nenhum dos pactos violou os acordos de privacidade do Facebook ou os compromissos assumidos pela empresa com órgãos regulatórios americanos.
Já empresas citadas pelo NYT, como Microsoft, Amazon e Yahoo, disseram ter usado os dados de forma adequada. Netflix e Spotify, por sua vez, alegaram até desconhecer que possuíam o poder de acessar as mensagens privadas dos usuários.
Em nota, a Netflix disse que, por anos, tentou tornar a plataforma mais social e que por isso lançou em 2014 um recurso que permitiu que os membros recomendassem programas para seus amigos via Messenger ou via Neftlix. Apesar disso, a empresa diz que o recurso “nunca foi muito popular” e que por isso foi descontinuado em 2015. “Em nenhum momento acessamos as mensagens particulares das pessoas no Facebook ou pedimos para conseguir fazê-lo”, completou a empresa.
A publicação vai contra uma das principais declarações de Mark Zuckerberg neste ano: em abril, quando interpelado pelo congresso americano após a revelação do caso Cambridge Analytica, o presidente executivo do Facebook garantiu que os usuários tem “controle total sobre tudo que compartilham dentro do Facebook”.
Os documentos descobertos pelo Times, bem como entrevistas feitas com mais de 50 pessoas, entre funcionários da empresa e parceiros, vão no sentido contrário. Além disso, levantam dúvidas se a empresa rompeu com as regras de um acordo feito com o governo americano, em 2011, para não desrespeitar a privacidade dos usuários e não fornecer seus dados sem consentimento explícito. Caso isso tenha acontecido, o Facebook poderá sofrer pesadas sanções do governo americano.
Confissão
Em seu blog oficial, o Facebook praticamente admite que compartilhou dados privados de seus usuários com outras empresas. “Os parceiros tiveram acessos às mensagens? Sim. Mas as pessoas tinham que concordar explicitamente com isso no Facebook ao usar o recurso de mensagens. Por exemplo, o Spotify. Depois de acessar sua conta do Facebook na aplicação desktop Spotify , você pode enviar e receber mensagens sem sair do aplicativo. Nossa API forneceu aos membros acesso às mensagens do usuário para aprimorar esse tipo de função”, afirmou.
2018 ruim
O escândalo revelado nesta quarta-feira, 19, pelo The New York Times amplia a crise do Facebook em 2018. Em março, foi revelado o escândalo Cambrigde Analytica, que usou sem consentimento os dados de 87 milhões de pessoas para tentar influenciar as eleições presidenciais americanas de 2016.
Outro episódio grave envolvendo a rede social foi noticiado em setembro deste ano: uma falha de segurança na plataforma que permitiu que 29 milhões de usuários tivessem seus dados pessoais roubados por hackers.
Além disso, há ainda a controvérsia que rodeia a rede social pelo uso de sua plataforma divulgar mentiras e notícias falsas em processos eleitorais com o objetivo de influenciar os resultados. No caso concreto, nas eleições presidenciais nos EUA de 2016, Facebook estimou que cerca de 10 milhões de pessoas estiveram expostas aos mais de 3 mil anúncios pagos por contas falsas supostamente ligadas com a Rússia.