Homem fica 43 anos em cadeira de rodas por diagnóstico errado

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A ciência pode trazer conhecimentos fantásticos quando aplicada corretamente. No entanto, quando não é bem utilizada, corre-se o risco de prejudicar vidas em nome dela.

Foi o caso de Rufino Borrego, português de Alandroal, atualmente com 61 anos. Aos 13, ele foi diagnosticado com uma distrofia muscular. A doença era incurável, de acordo com os médicos.

Os 43 anos seguintes de Rufino Borrego foram de eterna adaptação. Ele passou todo este período de cadeira de rodas, acreditando que não poderia voltar a andar.

Já em 2010, depois de quatro décadas, Rufino Borrego teve um segundo diagnóstico. E, apesar de ter perdido tanto tempo, o homem descobriu, enfim, que poderia voltar a andar. Apesar de ter acontecido há seis anos, o caso demorou para ganhar notoriedade, pois só no segundo semestre de 2016 ele ganhou notoriedade, após uma reportagem do Jornal de Notícias, de Portugal.

A doença de Borrego não era incurável. Ele sofria de miastenia congênita, doença neuromuscular que danifica a transmissão dos impulsos nervosos aos músculos.

Um dos sintomas mais característicos é a variação na função motora – o paciente consegue desempenhar algumas atividades, mas não por muito tempo, pois a musculatura muda de comportamento. É diferente da distrofia muscular, que promove fraqueza permanente e degeneração progressiva do tecido muscular.

Vale destacar que quando se diz que o português ficou na cadeira de rodas por engano, não quer dizer que ele poderia, simplesmente, ter se levantado e caminhado – a miastenia congênita causa uma enorme fraqueza nos músculos e, com isso, a incapacidade de andar. Quer dizer, na verdade, que ele poderia ter sido rapidamente curado com um medicamento.

Com isso, a miastenia congênita que deixou Rufino Borrego por 43 anos na cadeira de rodas foi curada com um simples remédio para asma. Parece inacreditável, mas é verdade.

Neurologista descobriu o problema

A neurologista Teresinha Evangelista foi a responsável por descobrir o problema no diagnóstico que ofereceram a Rufino Borrego há quatro décadas. Ela trabalha no Instituto de Medicina Genética da Universidade de Newcastle, na Inglaterra.

Em entrevista à BBC, Teresinha se mostrou muito feliz em ter ajudado Rufino, mesmo que um pouco tardiamente. “Qualquer situação como essa, em que um médico tem a chance de mudar de verdade a vida dos pacientes, é muito gratificante”, afirmou ela.

A médica contou que estava tratando a irmã de Rufino Borrego, que tem a mesma doença, só que em menor intensidade. “Quando ela contou sobre seu irmão, disse na hora que queria vê-lo para uma consulta”, disse.

De quem é a culpa?

É natural pensarmos que a culpa de Rufino Borrego ter ficado 43 anos em uma cadeira de rodas seja dos médicos que deram o diagnóstico errado na época. No entanto, Teresinha Evangelista destaca que este não foi um caso de um equívoco médico.

“Era esse o diagnóstico possível naquela época. A miastenia congênita não era conhecida e só foi definida como doença na década de 1970”, disse a médica, que destacou, ainda, que a miastenia congênita é muito rara.

Remédio para asma

Para curar a miastenia congênita, a médica utilizou um remédio para asma. Exames precisaram ser feitos em um laboratório na Alemanha para que se descobrisse uma mutação no gene Dok-7.

“Uma vez identificado o gene, ficou muito mais fácil o tratamento, porque sabíamos que miastesia congênita por uma mutação no Dok-7 pode ser tratada com um medicamento chamado ‘salbutamol’, disse Teresinha à BBC.

O composto salbutamol é encontrado no fámarco Ventilan e é utilizado em inaladores por pessoas que sofrem de asma. Para Rufino Borrego, foi recomendado em pastilhas. Dias após utilizar o medicamento, o paciente conseguia caminhar de muletas. Depois, abandonou-as de vez.

Celebridade?

Rufino Borrego mora em Alandroal, pequena cidade de Portugal, com pouco mais de 5 mil habitantes. Lá, ele se tornou praticamente uma celebridade após abandonar a cadeira de rodas.

Em entrevista ao Jornal de Notícias, ele afirmou que se sente um embaixador da doença. “Já recebi um telefonema de uma senhora do México que perguntava como fazia para saber se sofria do mesmo que eu”, disse.

Apesar da felicidade em ter ajudado a divulgar um pouco sobre a miastenia congênita, Rufino Borrego é um pacato senhor de 61 anos. Ele disse que quer retomar logo a sua tranquila rotina na pequena cidade de Alandroal. “Tenho que descansar”, afirmou.



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