Na última quarta-feira, 25, um grupo de cientistas italianos conseguiu detectar a presença de um grande lago com água líquida no polo sul de Marte. De acordo com os pesquisadores, essa é a primeira vez que um reservatório grande de água no estado líquido foi identificado no planeta. E quem sabe, ele não pode ser parte de um grande sistema de lagos que está abaixo da superfície do local.
De acordo com a pesquisa, essa lago deve ser gelado e bastante salgado. Para se ter uma ideia, acredita-se que ela deve estar a uma temperatura de 10 graus negativos.
Sabemos que a esta temperatura, a água está mais do que congelada. Para que ela permaneça neste estado em tais condições, ela precisa estar saturada com diversos sais, como aqueles compostos por sódio, magnésio e cálcio, que já foram encontrados na superfície de Marte. Eles são capazes de reduzir o ponto de fusão da água para 74 graus Celsius negativos, o que explica a temperatura hipotética do lago.
“Pelo o que aprendemos com esse lago subglacial é que ele é análogo ao lago subglacial que foi recentemente descoberto no Canadá, que também possui um depósito de sal e é muito, mas muito salgado”, disse Roberto Orosei, líder do estudo que fez a descoberta.
O que pode animar alguns entusiastas da busca de vida alienígena pelo universo é que alguns desses lago aqui na Terra já conseguiram abrigar vida, em alguns casos.
“Existem micro-organismos que são capazes de sobreviver em temperaturas abaixo de zero, mesmo sem estar em contato com a água, enquanto que existem outros micro-organismos que podem usar o sal para o seu metabolismo”, lembrou Orosei.
Outra possibilidade intrigante e animadora da descoberta é que esse lago de Marte pode não estar sozinho, pois ele pode ser apenas parte de um enorme sistema de lagose rios subterrâneos que podem se estender pelo polo sul do planeta. “As informações deram pistas de que esse lago pode não ser uma descoberta única. Encontramos outros locais brilhantes em outras áreas”, revelou Orosei.
No entanto, essa continua sendo apenas uma hipótese, já que o Marsis, radar que é um dos instrumentos da nave Mars Express, da Agência Espacial Europeia, não possui a tecnologia necessária para descobrir se outros lagos e rios subterrâneos existem abaixo da superfície de Marte.
Mas apesar da descoberta ser animadora, é importante ressaltar que outros estudos precisam ser feitos para realmente descobrir se esse lago existe ou não. E existe um problema nesta questão: o outro radar que orbita Marte, conhecido pela sigla Sharad e se encontra na sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, não foi capaz de detectar a enorme reserva de água.
“O problema é que o Sharad opera em uma frequência muito maior, e ficamos em choque ao descobrir que o Sharad não observou absolutamente nada em áreas onde vimos reflexos na Marsis”, afirmou Orosei. A hipótese lançada pela equipe é que as irregularidades na superfície do polo sul podem ter atrapalhado os sinais de radar do Sharad.
O cientista brasileiro Daniel Nunes, um dos responsáveis pelo Sharad, confirmou que o radar teve problemas na hora de mapear o polo sul de Marte.
“Existe algo calota polar sul (de Marte) que faz o sinal do Sharad não funcionar da mesma forma que na calota norte. Como resultado, não conseguimos ver com o Sharad a inteface entre o gelo e a superfície oculta. Se realmente existe um lago lá, o Sharad não consegue vê-lo”, afirmou.
O pesquisador brasileiro lembra que ainda é preciso observar, com mais detalhes, os resultados observados pelo Marsis, o que deve gerar um “debate saudável” entre cientistas para que a comunidade aceite de vez a presença de um lago com água líquida em Marte. Mas também disse que de qualquer forma, a descoberta “é um desenvolvimento muito animador.”
Em alguns anos, devemos ter algumas respostas mais concretas. Em 2020, uma sonda chinesa levará até a órbita de Marte um radar capaz de operar entre as frequências do Marsis e Sharad. Se ele também conseguir encontrar esse lago, a descoberta, com certeza, tomará outros rumos.
“Apenas posso dizer que existe uma porta aberta que precisamos passar e explorar o que está além dela. E a partir dos resultados que conseguirmos, vamos descobrir se Marte está conectada com a Terra nos termos de habitat para abrigar vida”, disse Roberto Orosei.