Hoje pode soar como algo extremamente desagradável e cruel, mas lá pelo século XVIII, encapar livros com pele humana era algo normal e “da moda”. Os tempos obviamente eram outros, mas não era algo que causava escândalo. Alguns desses exemplares sobreviveram aos dias atuais e são considerados raros, espalhados pelas mais antigas e importantes bibliotecas do mundo.
A ideia de um livro encapado em pele humana é um tanto apavorante, mas é preciso lembrar que qualquer pele pode ser tratada e transformada em couro. É exatamente isso que faziam algumas pessoas no século XVIII e início do século XIX, época em que as dissecações de corpos em faculdades de medicina começou a se popularizar.
Os corpos dissecados eram inicialmente de criminosos e, segundo alguns relatos, o rapto de pessoas pobres e indigentes não era raro e o destino era mais ou menos conhecido. Para ajudar, nem todos os profissionais e estudantes de medicina eram respeitosos com os defuntos, então era basicamente simples ter acesso a um corpo e, consequentemente, a um pedaço de pele para tingir, curtir e encapar algum livro.
Não é uma coincidência que a grande maioria dos livros encapados em pele humana que sobreviveram até hoje sejam exatamente desse período da história e de assuntos relacionados a anatomia, medicina e assuntos correlatos. Foram especialmente comuns na Inglaterra até pouco antes da Era Victoriana.
Capa “temática”
Um dos principais tipos de livros encapados em pele humana eram as fichas, histórias, diários ou biografias de criminosos, que poderiam receber uma capa feita com o couro do próprio sujeito, depois de ter sido aplicada a pena de morte. Foi o que aconteceu com William Burke, cuja pele encapou um pequeno livro de bolso.
Além disso, algumas mentes perturbadas da época acabavam extrapolando. Por exemplo, um exemplar de um livro de 1663, escrito pelo ginecologista Séverin Pineau, recebeu no século XIX um encadernamento feito com a pele de uma virgem pelo Dr. Ludovic Bouland, um conhecido fã das capas de pele humana.
Ele sempre fazia questão de usar pele de mulheres, das quais nunca se soube quem eram, e no caso do livro de ginecologia, preferiu uma virgem, já que havia relação com o tema. Bouland também gostava de escrever à mão, na contracapa, atestando a origem humana do couro usado em seus livros.