Apesar de toda a tensão geopolítica envolvendo Washington e Moscou, os Estados Unidos e a Rússia chegaram a um acordo para a construção da primeira estação espacial na órbita da Lua, de acordo com Igor Komarov, diretor da Roscosmos, a agência espacial russa.
Segundo ele, o projeto – que é parte de um grande plano para o envio de missões tripuladas a Marte no futuro – está aberto para a adesão de outros países, incluindo o Brasil, a China, a Índia e a África do Sul.
“Nós (Roscosmos e Nasa) chegamos a um acordo para o projeto de construção da nova estação internacional na órbita da Lua”, disse Komarov à agência de notícias russa RT, durante o 68.º Congresso Internacional de Astronomia, em Adelaide, na Austrália Durante o evento, as duas agências assinaram um acordo de cooperação.
A estação espacial, que será batizada de Deep Space Gateway (porta de entrada para o espaço profundo, em tradução livre), deverá ter seus primeiros módulos lançados entre 2024 e 2026. De acordo com Komarov, as tecnologias que forem desenvolvidas na Deep Space Gateway serão utilizadas em futuras missões à superfície da Lua e, na década de 2030, servirão para a viagem tripulada ao Planeta Vermelho.
O projeto, segundo Komarov, será oficialmente anunciado em breve e seu primeiro estágio envolverá a construção da parte orbital da estação. A parte russa do projeto consistirá no desenvolvimento de até três módulos para a estação. Os russos também trabalharão no desenvolvimento de um sistema de atracação, capaz de receber diversos tipos de espaçonaves na nova estação.
Paz no espaço
O anúncio do projeto de parceria surge em um momento de relações estremecidas entre Moscou e Washington, com a crise ucraniana e as abordagens conflitantes dos dois países na gestão de questões em torno da Síria e da Coreia do Norte. No entanto, os problemas entre os dois países parecem se limitar à Terra. A exploração espacial tem sido uma área na qual os dois países vêm conseguindo entendimento. Historicamente, as agências espaciais e os astronautas russos e americanos têm trabalhado juntos em diversos projetos, incluindo as missões conjuntas na Estação Espacial Internacional (EEI), que também envolve o Canadá o Japão e a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
Em 2014, quando a crise ucraniana foi deflagrada e Washington acusou a Rússia de interferir no país, o astronauta americano Michael Hopkins disse à imprensa que a deterioração das relações entre os dois países não é sentida no espaço. “Acho, na realidade, que a EEI ainda é um exemplo do que nossas nações podem fazer quando trabalham juntas.”
Em junho, Komarov já havia afirmado que, para a Roscosmos, a Nasa e a Agência Espacial Europeia, o fim da cooperação na EEI afetaria seriamente o trabalho de cada uma das agências. “Do ponto de vista das agências, há um consenso de que a cooperação precisa ser mantida.” Alguns meses antes, outro astronauta americano, Douglas Wheelock, disse à RT que a Rússia e os Estados Unidos deveriam trabalhar juntos em benefício da humanidade.