Um remédio antibiótico é capaz de combater qualquer infecção causada por microrganismos. Fármacos do tipo podem atingir bactérias, protozoários, fungos ou helmintos. Só não destroem vírus.
Apesar de sua descoberta ter sido amplamente considerada como uma das maiores do século 20, o antibiótico pode estar com sua eficácia comprometida e próxima do fim. Os Estados Unidos registraram o primeiro caso de uma paciente infectada com uma superbactéria resistente ao antibiótico mais poderoso de todos: a colistina.
Não é a primeira vez que se registra a inoperância do antibiótico mais poderoso do mundo. Em 2015, na China, outro paciente resistiu à colistina. Em função dessas ocorrências, especialistas do Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmam que os remédios antibióticos podem não ser mais úteis para os seres humanos dentro de algum tempo. (Veja também: 9 doenças que seres humanos conseguiram passar aos ratos)
A superbactéria foi encontrada na urina de uma paciente americana, de 49 anos, que mora na Pensilvânia. De acordo com os pesquisadores, trata-se de uma infecção que envolve uma cepa (grupo de descendentes com um ancestral comum que compartilham semelhanças morfológicas ou fisiológicas) da bactéria Escherichia coli.
A bactéria em questão, também conhecida pela abreviatura E. coli, é portadora do gene MCR-1, que a deixa resistente à colistina. Microrganismos com esse gene mutante têm uma taxa de mortalidade que pode chegar a 50%.
Motivos da resistência ao antibiótico
Não é só a resistência ao antibiótico em si que preocupa o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O motivo pelo qual isso acontece também tem deixado os pesquisadores desorientados.
Os antibióticos tem sido utilizados pela medicina desde o ano de 1940. Em função disso, as bactérias tem se adaptado para sobreviver. Quanto mais os fármacos do gênero são usados, maior é a possibilidade de microrganismos se desenvolverem a ponto de ficarem resistentes. (Veja também: Pílula do câncer não funciona, segundo testes iniciais)
O problema é que a colistina foi descoberta em 1949 e, desde então, não é amplamente utilizada nos Estados Unidos. Ela é considerada pelos americanos como o último recurso para diversos tipos de infecções, especialmente hospitalares, que costumam ser mais potentes.
Como o uso não é amplo nos Estados Unidos e a paciente sequer viajou nos últimos tempos, não se sabe como a resistência foi criada. O mistério deixa o caso ainda mais preocupante.
‘Fim de uma era’
Em entrevista a agências de notícias, o diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Thomas Frieden, afirmou que a era dos antibióticos pode estar chegando ao fim. “Quanto mais olhamos para resistência aos medicamentos, mais preocupado ficamos. Será o fim da estrada para os antibióticos se não agirmos com urgência”, afirmou. (Veja também: Pesquisa brasileira explica ação do zika no cérebro de bebês)
O discurso de Thomas Frieden foi reforçado por Nasia Safdar, da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin. “É quase inevitável que mais casos virão à luz. É uma questão de quão rapidamente as coisas vão se espalhar. Não é exagero afirmar que estamos no fim do tratamento antimicrobiano eficaz para bactérias resistentes a antibióticos”, disse.
Makoto Jones, especialista em doenças infecciosas da Universidade do Utah em Salt Lake City, tem uma visão mais otimista. O pesquisador diz que a colistina é apenas um dentre diversos antibióticos de uso raro. “É ruim, mas não é o apocalipse”, afirmou.