O Diabo tem muitos nomes – Satanás, Príncipe das Trevas, Belzebu e Lúcifer, para citar apenas alguns – mas além destes apelidos, o que as pessoas realmente sabem sobre ele? Ou seja, de onde a história de Satanás se originou?
Segundo Abner Weiss, um psicólogo rabino da Sinagoga Westwood Village em Los Angeles, muitas religiões antigas têm escrituras que relatam a luta entre o bem e o mal. Por exemplo, na religião de Zoroastro, Ormazd, uma das primeiras divindades supremas do mundo, criou duas entidades: o caótico e destrutivo espírito Ahriman e seu irmão gêmeo benéfico, Spenta Mainyu.
Desde o mundo antigo já existia a ideia de luta e coexistência do bem e do mal. A hipótese que era levantada na época, é que uma espécie de força demoníaca e divina, era responsável pelo mal. Isso, decorrente da noção de que um Deus bom não poderia ser responsável por coisas ruins.
No entanto, Satanás não era uma figura proeminente no judaísmo. Há poucas figuras “demoníacas” na escritura hebraica, mas a mais famosa aparece no Livro de Jó, quando um “adversário” ou “tentador”, pergunta a Deus se o próspero Jó continuaria o louvando, mesmo depois de perder tudo. Deus aceita o desafio, e tira de Jó sua riqueza e sua família, fazendo-o questionar o porque de sua vida ter um destino tão horrível. Mas nesta história, Deus exerce mais poder do que seu adversário, o que o leva a desafiar Deus, que, em seguida, tira a sorte de Jó.
No judaísmo, Satanás nunca foi personificado como uma fonte de mal, igualmente poderosa a Deus. Mas Satanás acabou se tornando uma parte de certas seitas judaicas por volta da Era Comum, quando Jesus nasceu. Além disso, os ensinamentos místicos do judaísmo, chamados de Kabbalah, mencionam um lado da luz e um lado da escuridão, mas o lado escuro nunca é mencionado tendo o mesmo poder que o lado da luz.
Diabo no cristianismo
Qualquer pessoa que tenha o minimo de conhecimento sobre o cristianismo, deve saber que ele Satanás é um anjo caído, mas esta queda, na verdade, não é descrita no Novo Testamento ou na Bíblia cristã, afirma Jerry Walls, professor de filosofia na Universidade Batista de Houston e autor do livro “Céu, Inferno e Purgatório: Repensando as Coisas Que Mais Importam”.
Entretanto, Satanás sempre aparece nos Evangelhos como o tentador de Jesus, com apenas uma introdução de como a presença do mal chegou lá. Assim, os teólogos cristãos têm chegado a esta conclusão: Se Deus criou o universo, e tudo o que Deus cria é bom, então Satanás deve ter sido algo bom que se “tornou” ruim.
Há outras referências a Satanás na Bíblia, de acordo com diferentes interpretações. A Bíblia hebraica menciona duas passagens sobre pessoas que não são respeitosas para com Deus (Isaías 14 e Ezequiel 28). Alguns cristãos interpretam essa “falta de respeito” como manifestações de Satanás.
Além disso, o evangelho de Paulo no Novo Testamento, se refere à serpente do Jardim do Éden como Satanás, embora a serpente não seja descrita dessa forma em Gênesis. Neste sentido, a serpente e Satanás podem ser vistos como tentadores que tentam levar as pessoas a desobedecerem a Deus, mas nem sempre são bem sucedidos.
O primeiro Adão sucumbiu a tentação de Satanás, mas Cristo, que é descrito como o segundo Adão, resistiu com sucesso.
Satanás como “o inimigo”
Segundo Elaine Pagels, professora de religião na Universidade de Princeton e autora do livro “A Origem de Satanás” (Random House, 1995), o Hasids, uma seita judaica cujo nome traduzido significa “santos”, foi o primeiro grupo na história judaico-cristã a discutir seriamente o termo Satã. O Hasids viveu pouco antes da Era Comum e não gostava de como os romanos e alguns de seus colaboradores judeus governavam seu país.
Assim, o Hasids acabou se retirando da sociedade judaica e começou a pregar sobre o fim dos tempos, onde Deus destruiria todas as pessoas do mal, “o que significava todos os romanos e todos os judeus que colaboraram com eles”.
O Hasids tinha uma posição radical. Se consideravam filhos de Deus que lutavam contra os filhos das trevas. Segundo eles, estavam seguindo a Deus, enquanto seus inimigos tinham se virado para o lado da escuridão, possivelmente, mesmo sem conhecê-los.
O conceito de Satanás surgiu quando as comunidades se dividiram. Os grupos radicais queriam uma ruptura com seus inimigos, assim eles os descreviam como o mal.
O Hasids provavelmente teve uma grande influência sobre o cristianismo primitivo, porque Jesus e João Batista pregavam idéias similares às dos Hasids. Ou seja, eles diziam que o fim do mundo estava próximo e que Deus não iria tolerar pessoas más. Isto significava os romanos e as pessoas que tinham negócios com eles.
Tornar um inimigo em algo ruim, precisamente, em Satanás, é útil. Isso sugere que os nossos adversários não são apenas pessoas que discordam de nós, eles são o mal e você não negocia com o que, essencialmente, é ruim, completa Pagels.